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Pânico “covidletivo”: o mal dos anos 2020?

A pandemia da Covid-19 está sendo terrível, como um todo, não há como negar; mas o legado do medo, que está em muitos de nós, é algo igualmente tétrico!

Em uma comemoração de fim de ano que eu estava presente, várias pessoas manifestaram seus desejos para o ano novo, desejando menos pobreza, mais saúde, menos egoísmo, mais tolerância etc.

Quando chegou a minha ver, eu falei, diante de todos os temas enunciados antes:  menos medo, pelo amor de Deus!

As pessoas andam muito apavoradas com a Covid-19 e até com essa gripe que ainda por aí, mesmo que os números aqui estejam os mais tranquilos desde o início da pandemia.

Há vários novos lockdowns anunciados por aí por conta da explosão de casos, o Rio teve os fogos de artifício em Copa, mas não teve metrô. Em São Paulo foi tudo cancelado. Houve zilhares de voos cancelados, festas de formatura estão sendo novamente desmarcadas por aqui etc.

Mutas escolas estão abertas, mas um monte de mães não estão mandando seus filhos para a escola, mesmo com os pais vacinados e os pais dos amiguinhos idem.

O prejuízo futuro para a vida dessas crianças e adolescentes é algo incomensurável, não apenas em termos de aprendizagem, mas em termos de socialização saudável.

Um pai desses falou para mim. Ih, tá ótimo, meu filho está socializando com os amiguinhos nos jogos de rede. Pensei: meu Deus, que visão limitada do que significam reais amizades!

Olhando as ruas de cima na noite do dia 31 de dezembro, diferentemente de anos anteriores à pandemia: vi um quase deserto nas ruas, que reflete um profundo desânimo e uma pasmaceira. Até casas decoradas se tornaram raras.

Um amigo meu teve 2 reuniões familiares pré Natal canceladas por conta de pessoas indiretas que teriam pegado Covid-19 ou gripe. Tenho amigos que falo no telefone que chega a me dar gastura ouvindo-os falarem. O terror, o medo, o pessimismo são agora os bonecos na linha de frente da vida deles.

A grande verdade é que o pavor paralisa. É quase a morte em vida.

Exageros por aí

Confesso que, ainda que tenha sempre tomado minhas precauções, nunca tive medo, mas estou cercado de pessoas apavoradas em todas as direções.

Meu medo foi mitigado pelo acesso que tive a informações. Desde a primeira hora estudei tudo sobre a pandemia.

Sempre discerni que o lockdown que envolve fechar quase todo o comércio (levando muitas pessoas à completa penúria), adotado em vários países do mundo (inclusive em vários redutos de classe média no Brasil em 2020 – sim, porque leis se aplicam a alguns lugares e são ignoradas em outros)  foi um profundo exagero.

O uso de máscaras em ambientes abertos sem multidões também denota exagero. Vejo muitas pessoas de idade, nitidamente vacinadas, de máscara até dentro dos carros. Curioso que, dentro da devoção por máscaras, as pessoas ignoram a transmissão pelos olhos (vide esse artigo do grupo Lancet).

Do mesmo modo, não entendo a obsessão de algumas pessoas até hoje pelo álcool gel. Ela não se justifica, perante os outros riscos. Aliás, há meses que fujo dos funcionários na porta das lojas, com álcool gel gosmento, pronto para atirar em nossas mãos. E as pessoas que lavam loucamente as compras e as sacolas?

Nunca vi nada igual no planeta! O medo parece que agora mover nossos destinos.

Ômicron é uma grande ameaça?

Sei que existem ainda alguns enigmas, mas tudo indica que a variante ômicron é muito menos grave do que as variantes anteriores.

As pessoas conscientes, mais velhas, estão todas vacinadas aqui no Brasil, muitas já com doses de reforço. A dose normal de vacina não parece ser muito efetiva com a vacina ômicron, embora estudos preliminares recentes favorecem quem tomou dose de reforço.

Outra boa notícia é que o Reino Unido, assim como os EUA, acaba de aprovar o Paxlovid da Pfizer, que tem eficácia por volta de 89% contra a hospitalização por Covid-19

Em geral, tudo indica que essa variante é  muito menos grave, na média. Na há nada definitivo ainda, porque é tudo muito novo.

No entanto, é fato, que o número de casos mundiais segue aumentando e o de mortes caindo. (Até ontem, 3 de janeiro de 2022).

A taxa de letalidade mundial média fazendo a relação entre os casos entre 25 de novembro e 4 de dezembro com os óbitos 30 dias depois (25 de dezembro de 3 de janeiro) caiu para 0,92%, com certeza a menor do registro histórico, sendo que a maioria absoluta das hospitalizações são ainda de outras variantes.

O Brasil registrou 11.845 casos com menos de 100 mortes diárias (3 de janeiro) segundo o Worldmeters, o que não é nada para um país de dimensões continentais. É óbvio que vamos entrar de cabeça no ômicron, como em outros países, mas não há indícios que justifiquem o pavor.

Dados sobre a África do Sul, que foi o berço da ômicron, corroboram isso

74% dos pacientes hospitalizados necessitaram de oxigenoterapia durante a onda da variante delta. Apenas 17,6% precisaram durante a onda ômicron.

A mediana de dias de permanência em um hospital antes do ômicron foi de oito dias. Agora, esse número é três dias.

A taxa de mortalidade hospitalar caiu de 29,1% com delta para 2,7% com ômicron (redução de mais de 10 vezes).

Ainda está algo prematuro para tirar conclusões definitivas.

Dados da Dinamarca dentro de uma fatia de tempo apontam 18 mortes dentro de 55.691 (1 para 3.094 casos), faltando dados adicionais de faixa etária, status de vacinação etc. Engraçado que a Ômicron fez rapidamente com que a Dinamarca ultrapassasse a Suécia em casos por milhão (mas obviamente não em mortes por milhão, nem de longe).

Aqui tem uma compilação com casos e óbitos de ômicron confirmados de vários países, porém os dados são ainda preliminares.

Observe, por essa referência, que no Reino Unidos, as estatísticas vão na mesma direção da Dinamarca com 246.780 casos e 75 mortes (1 para 3.427 casos)

Para que as pessoas tenham alguma noção do que significam número desse tipo, meu exemplo favorito para comparabilidade são mortes no trânsito no Brasil.

No caso, prefiro pegar 2019, último ano pré-pandemia: foram 31.945 óbitos para uma população então de 211 milhões, o que gera em um ano 1 óbito para cada 6.605 pessoas. Então, quem tem medo fique em casa e torça para não ter um curto-circuito…

Ou seja, a chance da pessoa média pegar ômicron e ir a óbito é similar a chance de morrer no trânsito em pouco menos de 2 anos.

Como ônibus, trem e metrô são muito mais seguros do que carro particular, excetuando-se pedestres (que responde por 19% dos óbitos), podemos dizer que a vítima típica tende a ter uma renda média superior ao brasileiro médio.

E ainda tem o agravante que para os mais jovens a desproporção do risco de morte por gripe ou Covid-19 para o risco de acidente de trânsito é muito grande.

Óbvio que para pessoas idosas, a proporção não é essa, mas isso vale também para a gripe. Por outro lado, assim como na gripe, há muita subnotificação para casos assintomáticos.

Para ter alguma comparabilidade com a gripe, compilei alguns dados no CDC, um dos sites oficiais de saúde dos EUA.

Ainda que faltem dados de estratificação por idade, totalizei dados estimados em um largo período de tempo na tabela abaixo:

Note que o índice de óbitos da gripe é maior do que o imaginário das pessoas.

Ou seja, mesmo que o cálculo acima tenha um certo nível de erro,  a ômicron não é, de modo nenhum, mais grave do que uma gripe comum, em termos de letalidade.

Podem surgir novas variantes ou subvariantes e elas serem mais letais?

Sim, claro, mas não é ainda o caso. As pessoas se isolam e se fecham em copas por antecipação!

Fora que a ômicron parece ser tão contagiosa que a pessoa suscetível irá pegar mesmo se ficar trancada em uma bolha hermética…

Então, estaremos quase todos sujeitos a essa nova variante…

Enfim ….

É preciso voltar a viver em um mundo onde a histeria não seja o protagonista de nossas vidas.

Se o novo normal ser as pessoas agirem restringindo suas vidas desse modo, até em decorrência da gripe, como exemplificado acima, será um normal muito lamentável e limitante para a humanidade.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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3 Comentários

  1. Paulo, achei até que fosse eu escrevendo! Absolutamente 100% de acordo contigo.
    As pessoas estão doentes, da mente.
    Abraço e Parabéns

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