LazerTurismoViagem

#tbt de um carnaval passado: Bolívia

“Mas você é brasileiro! O que está fazendo por aqui, em vez de ir pro Rio?!”. Esta foi a frase que eu mais ouvi enquanto viajava pela Bolívia, durante aquela semana de Carnaval, 5 anos atrás.

A pergunta veio de bolivianos e de vários turistas estrangeiros, e em vários momentos da viagem: nas montanhas nevadas dos Andes, perto de  La Paz; na planície do Salar de Uyuni; nos desertos altiplânicos da reserva Eduardo Avaroa, na região de Sud Lípez, quase na fronteira com o Atacama.

Após voltar, eu até tenho uma boa resposta para aquela pergunta. Fui lá para derrubar duas “verdades” sobre o turismo de aventura na Bolívia.

Em primeiro lugar, esqueça aquela história que viajar pelo Salar de Uyuni implica, necessariamente, em se apertar durante o dia em carros caindo aos pedaços, e passar as noites em quartos coletivos de abrigos precários, com banheiros também coletivos sem água quente. Você até pode viajar assim, se estiver com o orçamento muito apertado ou tiver vocação para um turismo masoquista. Mas, gastando a partir de um valor bem razoável e viável, você pode se hospedar em hotéis de nível surpreendentemente elevado, em quartos individuais com banheiro privativo e água quente à vontade! E fazer os passeios durante o dia em um carro confortável, seguro e privativo para você e sua família ou acompanhantes, sem aperto, sem pressa nas paradas.

Em segundo lugar, viajar para o Salar do Uyuni em dobradinha com o Deserto do Atacama até simplifica a logística e barateia a parte aérea, mas, quer saber? Aprendi que a viagem é mais bem aproveitada se você fizer Atacama em uma viagem e o Salar de Uyuni em outra oportunidade.

Por algumas razões:

Uma viagem pro Atacama tem a duração ideal de 5 noites. Uma viagem para o Salar de Uyuni também, então se você esticar o roteiro são 9 ou 10 noites no total. É tempo demais para ficar naquele ar extremamente seco do deserto. Suas vias respiratórias vão agradecer.

Além disso, tem a época do ano ideal para ir nos dois lugares. Para o Atacama, o ideal é no outono ou primavera, pois o inverno é frio demais e o verão pode ter chuva. Já para Uyuni, você tem que fazer uma Escolha de Sofia: se viajar na época de seca, entre março e novembro, consegue ir a 100% da área do Salar, sem percalços — porém, deixa de aproveitar o que o Salar tem de mais bonito, que é a lâmina d’água que se forma nos meses de chuva, entre dezembro e fevereiro, e que permite aquelas fotos sensacionais do céu refletido no chão.

E, finalmente, optar em ir para o Salar de Uyuni sem passar pelo Chile é um excelente pretexto para você conhecer… La Paz! “Vai por mim”, você vai se divertir passando 3 noites na surpreendente capital da Bolívia.

Feita esta introdução, vamos ao roteiro, que é o que interessa.

Dia 1: chegada em La Paz

Quando decidi ir ao Salar de Uyuni via La Paz, pesquisei os vôos pelas empresas aéreas “tradicionais” e nenhuma me agradou: as passagens estavam caras e com conexões demoradas em outros países, principalmente em Lima. Optei em comprar pela BoA, Boliviana de Aviación. Ela tem loja em São Paulo, mas nem foi necessário ir ao local. Comprei remotamente, por telefone e e-mail, para o único vôo diário de São Paulo até La Paz com escala de 2 horas já na Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra.

E é sempre uma tranquilidade entrar em uma aeronave que foi abençoada pelo próprio Papa Francisco…

Como eu ficaria na Bolívia em lugares com altitude acima dos 3.600 metros, optei por passar as 2 primeiras noites em La Paz, antes de ir para Uyuni. É sempre mais seguro estar numa cidade grande, com opções médicas, para o caso de um “soroche” (mal de altitude) mais intenso na chegada.

Aqui, um parêntese: eu tomei um remédio, ainda em São Paulo, nos 2 dias anteriores à data da viagem e em seguida nos 2 primeiros dias já na altitude, que previne o aparecimento dos sintomas do soroche. Só que, para não ser acusado de exercício indevido da profissão, não vou citar aqui o nome do medicamento.

Como achei relativamente pouca informação turística sobre La Paz, resolvi não arriscar: reservei as 2 primeiras noites no hotel Stannum.

Foi uma ótima escolha.

A localização era excelente, em um bairro de ótimo nível, na divisa entre o centro histórico e turístico com a área residencial de mais alto padrão da cidade. E, por ser um hotel-design, a ambientação interna do hotel foi uma supresa absolutamente inesperada em La Paz.

Dia 2: La Paz e downhill na Estrada de La Muerte

A Bolívia é chamada por turistas estrangeiros de “Nova Zelândia da América do Sul”, por sua diversidade de paisagens naturais e sua vocação para esportes de aventura. Então, por que não usar um dia da viagem para isso?

Eu antecipadamente pesquisei e descobri uma agência especializada em ciclismo com as melhores referências, chamada Gravity Bolivia. Contratei com eles pela internet o passeio “The World’s Most Dangerous Road”, que nada mais é do que o famoso downhill (montanha abaixo) pela Estrada de La Muerte.

No dia combinado, fui ao ponto de encontro as 7h30 da manhã, em um pub na zona central de La Paz, onde se concentram os albergues, hostels e agências de turismo de aventura.

Dali, saímos de La Paz (que está a 3.600m sobre o nível do mar) em duas vans. Eram 2 guias e uns 12 turistas de todas as partes do mundo, por 1 hora de estrada montanha acima, até chegar no ponto de início do tour, a uns 4.700m de altitude, no meio dos picos nevados.

São fornecidas bikes de primeira linha, calças e jaquetas corta-vento, luvas e capacetes. É feito o briefing de segurança e começamos a pedalar, sempre seguindo o guia-líder e sendo seguidos pelos 2 carros de apoio.

A primeira parte, descendo dos 4.700m de altitude até uns 3.000m, é por uma estrada asfaltada de mão dupla e ótima conservação. A adrenalina fica pelo traçado sinuoso e alta velocidade atingida.

A seguir, a partir de 3.000m até 1.000m de altitude, vem a “estrada de la muerte” propriamente dita: uma estradinha estreita, de terra, que virava lama quando atravessávamos as cachoeiras pelo caminho, sem guard-rails, espremida entre as montanhas pela direita e com precipícios quilométricos pela esquerda: adrenalina pura!

Era necessário prestar atenção na estradinha o tempo todo enquanto se pedalava: só dava para admirar as paisagens estonteantes nos pontos de parada para tirar fotos.

O passeio termina em uma bela reserva de vida animal já na floresta equatorial a 1.000m de altitude, onde era permitido tomar banho. Lá foi servido o almoço.

A volta para La Paz foi novamente nas vans, por uma outra estrada asfaltada, numa viagem de umas 3 horas.

Dia 3: La Paz, teleférico, e vôo para Uyuni

Aproveitei a manhã para fazer um city tour diferente por La Paz: ver a cidade do alto, através do teleférico de 11km de extensão, o maior do mundo.

É um passeio imperdível, como as fotos mostram.

Comprei pela internet o trecho aéreo La Paz – Uyuni pela Amaszonas, vôo de 45 minutos. É, fácil, a melhor opção. Nem pense em considerar ir de ônibus ou trem até lá.

O estranho não foi embarcar em um avião de uma empresa chamada “Amaszonas”. O estranho foi, em um avião que ia para os cafundós da América do Sul, ter sido o único ocidental a bordo, entre turistas de toda a Ásia: Japão, China, Coréia, etc. Depois descobri que havia duas razões para isso ter acontecido: uma, foi a coincidência com o período de comemoração do Ano Novo chinês, quando eles têm 2 semanas de férias. A outra razão eu contarei mais adiante.

O hotel Jardines de Uyuni é a primeira prova de que, ao contrário do que a maioria dos turistas temem, dá para se ir ao Salar de Uyuni e ficar hospedado em muito boas condições. Um hotel com atmosfera old-western rústico-chic, com confortáveis quartos privativos e água quente à vontade no banho, e até mesmo com um restaurante com pretensão gourmet!

Dia 4: começa o Tour ao Salar de Uyuni

A variável crítica para uma viagem de ecoturismo ser bem sucedida é a escolha da agência com que você fará os passeios. Escolhi a agência boliviana Creative Tours, por indicação da rede de hotéis Tayka, referência em opção de hospedagem pelo Salar.

Negociei pela internet, fiz transferência bancária do valor negociado para o pacote, incluindo o transporte privativo com motorista/guia em espanhol, passeios, e 2 noites de hospedagem, sendo uma delas no hotel Tayka del Desierto.

Aqui, outro parêntese: na época de seca (de março a novembro) o tour padrão é de 4 dias/3 noites, sendo cada noite em um dos hotéis da rede Tayka (Sal, Piedra e Desierto). Como fui na época de chuva, o tour se reduz para 3 dias/2 noites, sendo uma na própria cidade de Uyuni e outra no hotel Tayka del Desierto.

O primeiro dia de tour abrange as atrações dentro de um raio ao redor da cidade.

Uyuni é, historicamente, um importante entroncamento ferroviário no meio do deserto, por onde passam os trens exportando minérios para os países vizinhos. Assim, o primeiro passeio é o famoso “cemitério de trens”, onde centenas de turistas se divertem escalando as carcaças abandonadas ao lado da linha férrea.

A seguir, o Toyota Land Cruiser começa a entrar na planície de sal propriamente dita, e finalmente a aventura começa.

Paramos para almoço em um hotel de sal desativado, ao lado da enorme escultura do Dakar (Uyuni é a “capital” boliviana do trajeto do rally na America do Sul) e da famosa instalação com bandeiras de países de turistas do mundo inteiro.

Após o almoço, tomamos o rumo da Isla Incahuasi, com a ressalva de que poderia estar inacessível, devido às chuvas e solo inundado. Viajar pelo Salar de Uyuni durante a época de chuvas é mesmo algo imprevisível…

Felizmente, naquele dia deu para chegar até lá. É uma formação rochosa cheia de cactos gigantes, que realmente parece uma ilha no meio de um oceano. Seu ponto mais elevado permite ter uma visão panorâmica de 360° do deserto.

Finalmente, próximo ao final do dia, o motorista rodou a planície procurando algum ponto que tivesse uma lâmina de água no solo, para vermos o famoso pôr do sol com o céu refletido no espelho d’água do chão.

Que visual era aquele! Só aquilo já valeu a viagem!

Dia 5: Rumo ao hotel Tayka del Desierto

Se havia um dia em que poderia chover durante minha viagem, sem atrapalhar os passeios, seria este aqui… e não deu outra!

As nuvens pretas carregadas, chuva forte e raios nos acompanharam pelos 300km do caminho, primeiro por uma estrada de terra… depois por trilhas… e finalmente pela areia, até chegar no ponto mais isolado da viagem, o hotel Tayka del Desierto. Implantado em uma encosta no meio do nada, o hotel tem vista para um ponto da cordilheira dos Andes que delimita a fronteira com o Chile.

O Tayka del Desierto merece a fama que tem. É um surpreendente oásis de conforto, aconchego e bom gosto, no ponto mais isolado do mundo em que já estive. Quarto confortável, áreas comuns aconchegantes e de bom gosto, jantar surpreendentemente refinado. E, pra coroar: uma noite de céu aberto e lua nova, permitindo visualizar o maior número de estrelas que já vi na vida!

Dia 6: Sud Lípez, reserva Eduardo Avaroa e retorno a Uyuni

O dia seguinte começa logo as 6h30 da manhã, para dar tempo de fazer todas as atrações programadas e, principalmente, para se chegar no campo de gêiseres em um horário ainda apropriado.

A primeira parada é na Árbol de Piedra, uma formação rochosa que é símbolo da região.

A seguir, passamos pela Laguna Colorada, com visual estonteante e habitat de centenas de flamingos.

Chegamos nos gêiseres de Sol de Mañana em torno das 8h, e apesar de não ser mais o horário onde os vapores têm o maior volume (que seria antes das 6h), ainda deu para admirá-los com um visual impressionante.

Passamos direto pelas Termas de Polques, uma piscina natural de águas termais, e paramos para fotos em frente ao Desierto de Dalí, encosta de areia com pedras de formatos surreais, que inspirou o pintor espanhol em uma viagem que ele fez pela região.

Finalmente, chegamos na Laguna Verde, na encosta do vulcão Licancabur, que marca a fronteira da Bolívia com o Deserto do Atacama, no Chile.

No caminho de volta, parada nas termas para almoço. E, a partir dali, 4 horas de carro até chegar de volta a Uyuni, para pernoite no mesmo hotel das 2 primeiras noites.

Dia 7: de volta a La Paz

Logo às 7h15 da manhã peguei o vôo de volta para La Paz. E, novamente, uma enorme maioria de asiáticos a bordo. Conversando com o guia deles, descobri o motivo por que estavam ali: para fazer turismo fotográfico! Enquanto os ocidentais preferem visitar o Salar de Uyuni na segura época de seca, os asiáticos gostam de se arriscar a ir lá na época de chuvas, justamente pelo visual das fotos.

Novamente me hospedei no hotel Stannum, para passar a última noite antes de voltar para o Brasil, e aproveitei no dia seguinte o feriado de terça-feira de Carnaval para ir conhecer o Centro Histórico de La Paz e o Mercado de Las Brujas, área histórica e comercial, onde se concentram o comércio artesanal e hospedagem dos mochileiros europeus em hostels. Algo como a 25 de março misturada com a Vila Madalena.

Dia 8: retorno ao Brasil

Aéreo internacional La Paz – São Paulo, voando a Guarulhos pela Boliviana de Aviación. O free-shop de La Paz é excelente , com muitas opções , mas a dica é trazer uma divertidissíma garrafa do Licor de Coca:

Este relato foi originalmente publicado no site Viaje na Viagem, com o título de
Salar de Uyuni via La Paz, no roteiro completo do Guilherme

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

Artigos relacionados

2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
%d blogueiros gostam disto:
Send this to a friend