Curiosidades das eleições americanas
As eleições para presidente nos Estados Unidos são uma das poucas instituições seculares da moderna democracia representativa. Foi o primeiro experimento de governo em que o chefe de Estado não era o rei. Para se ter uma ideia, a primeira eleição para primeiro-ministro no Reino Unido se daria apenas em 1802, 13 anos após a primeira eleição norte-americana. Em 2024 teremos a 60ª eleição consecutiva, tendo a primeira ocorrido há 235 anos.
Para termos uma ideia do que isso significa, quando D. Pedro I declarou a nossa independência às margens do Ipiranga, os EUA já tinham realizado 9 eleições para presidente.
Quando pela primeira vez os brasileiros votaram para presidente, em 1891, os americanos já haviam votado em 26 eleições.
Os brasileiros, até hoje, tiveram a oportunidade de eleger o seu presidente em 25 eleições diretas, contra 59 dos americanos.
Essas comparações com o Brasil têm mais ou menos os mesmos resultados se usarmos qualquer outro país, inclusive na Europa ocidental. Os Estados Unidos têm, de longe, a mais longeva tradição democrática do mundo. Vamos ver, nesse artigo, algumas curiosidades sobre esta instituição ao longo desses 235 anos.
O mecanismo eleitoral
Desde o seu início, as eleições americanas se dão através de um voto “indireto”. Os eleitores dos Estados elegem seus delegados que, então, irão escolher o candidato de seu partido no Colégio Eleitoral. Trata-se, via de regra, de uma escolha proforma, porque os delegados prometem escolher um determinado candidato já de largada. Veremos, mais adiante, que houve exceções a esta regra.
As eleições de 1789, 1792, 1796 e 1800 ocorreram de maneira diferente do que conhecemos hoje. Cada delegado escolhia dois candidatos. Os dois candidatos com o maior número de votos, mesmo que de partidos diferentes, eram então eleitos presidente e vice-presidente. Por exemplo, nas eleições de 1796, John Adams, do partido Federalista, foi eleito presidente com 71 votos, enquanto Thomas Jefferson, do partido Democrata-Republicano (sim, havia um partido Democrata-Republicano!), foi escolhido vice-presidente com 68 votos.
Mas a confusão ocorreu mesmo nas eleições de 1800, quando Thomas Jefferson (concorrendo à reeleição) e Aaron Burr, ambos do mesmo partido, receberam exatamente o mesmo número de votos. O desempate, em favor de Thomas Jefferson, ocorreu na Câmara, com cada Estado representando 1 voto.
Depois dessa experiência, os americanos decidiram mudar a mecânica das eleições para presidente. A 12ª emenda, de 1803, estabeleceu o mecanismo que temos até hoje: o delegado vota para presidente e para vice-presidente, normalmente do mesmo partido. As eleições de 1804 já passariam a ser neste formato.
Antes de seguir, vale destacar que, dado o mecanismo de voto livre, essas primeiras 4 eleições apresentaram recorde de candidatos que receberam ao menos um voto no Colégio Eleitoral: na primeira eleição, em 1789, nada menos do que 12 candidatos receberam votos dos delegados. Nas 3 eleições seguintes, 5, 13 e 5 candidatos receberam votos respectivamente. Não havia primárias, ia todo mundo tentar a sorte nas eleições. Com o novo mecanismo, o número de candidatos a presidente que recebiam votos diminuiu drasticamente, afunilando a disputa.
O Colégio Eleitoral
O Colégio Eleitoral é formado por delegados eleitos em seus Estados. Cada Estado tem direito a um número de delegados igual ao número de senadores mais o número de deputados de cada Estado. Cada Estado tem dois senadores, enquanto o número de deputados é proporcional à sua população. Assim, cada Estado, por menor que seja, terá direito a pelo menos 3 delegados, 2 referentes aos senadores e pelo menos um referente ao número de deputados. Como cada deputado representa um distrito do Estado, cada delegado representará em distrito, além dos dois delegados a que cada Estado tem direito independentemente de sua população.
Na primeira eleição, em 1789, 10 Estados elegeram 69 delegados. Os maiores Estados eram Massachussets, Pennsylvania e Virginia, cada um com 10 delegados, seguidos de Connecticut e South Carolina com 7, Maryland e New Jersey com 6, Georgia e New Hampshire com 5, e Delaware fechando com 3 delegados. George Washington, da Virginia, foi eleito por unanimidade o primeiro presidente dos Estados Unidos, com 69 votos. Como cada delegado escolhia dois nomes, o segundo mais votado foi John Adams, com 34 votos. Os outros votos foram espalhados por outros 10 candidatos.
Na eleição seguinte, em 1792, o número de delegados pulou para 132, com a entrada do Kentucky, New York, North Carolina, Rhode Island e Vermont, e o aumento do número de delegados de outros Estados. Os 5 Estados novos agregaram 23 novos delegados. O restante (40 delegados) foi resultado do aumento do número de delegados dos Estados já representados no Colégio Eleitoral. O mesmo fenômeno se daria nos anos de 1804, 1812, 1824, 1832, 1872, 1884, 1904 e 1912. Já em 1844, o número de delegados foi reduzido de 294 para 275 sem que houvesse alteração do número de Estados representados. A partir das eleições de 1916, o número de delegados somente aumentou pela agregação de novos Estados. O gráfico a seguir mostra a evolução do número de delegados e de Estados representados no Colégio Eleitoral.
Observe uma descontinuidade em 1864, causada pela Guerra da Secessão. É o que comentaremos no próximo tópico.
A Guerra da Secessão e o Colégio Eleitoral
As eleições de 1864 não contou com a presença dos delegados do Alabama, Arkansas, Florida, Georgia, Louisiana, Mississipi, North Carolina, South Carolina, Tennessee, Texas e Virginia. Ou seja, de um total de 33 Estados que haviam votado em 1860, 11 ficaram de fora em 1864. Três novos Estados entraram para completar os 25 dessa eleição: Kansas, Nevada e West Virginia. Este último teve sua origem na separação da Virginia, um dos Estados Confederados. Nas eleições seguintes, em 1868, Mississipi, Texas e Virginia ainda não participaram.
O impressionante é que, mesmo em meio a uma feroz guerra civil, os Estados Unidos conseguiram manter o ritual das eleições periódicas. Obviamente, a história é contada pelos vencedores, e a linha ininterrupta de presidentes regularmente eleitos segue a linha da União. No entanto, os Estados Confederados também fizeram as suas eleições, tendo eleito como presidente Jefferson Davis, em 1861. Seria o equivalente à Igreja Católica ter dois papas ao mesmo tempo, o que já ocorreu. No final, só vale um, sendo que o outro carece de legitimidade.
Vamos detalhar um pouco mais as eleições de 1860, que foram a causa próxima da guerra. Os candidatos se diferenciavam pela sua abordagem em relação à escravidão. Mais ao centro estavam Abraham Lincoln, do partido republicano, que pretendia permitir a continuidade da escravidão nos Estados que ainda mantinham escravos, mas proibir definitivamente naqueles que já não tinham. Do outro lado, no partido democrata, tínhamos Stephen Douglas, que defendia que cada Estado escolhesse permitir ou não escravos. Nos extremos, dois candidatos: do lado abolicionista, tínhamos John Bell, do partido União Constitucional, que pretendia abolir a escravidão em todo o território americano. E, do lado escravagista, tínhamos John Breckinridge, também democrata, mas que foi escolhido em uma espécie de “primária paralela” pelos Estados do sul. Breckinridge advogava pelo direito de estender a escravidão para Estados que não tinham escravos.
No final, a eleição ficou entre Lincoln, que recebeu 180 votos no Colégio Eleitoral, contra 72 votos obtidos por John Breckinridge. O interessante é que Breckinridge recebeu os votos de Delaware e Maryland, que no final continuaram com a União. E, mais interessante ainda, Beckinridge era um político do Kentucky, um Estado leal à União, tanto que foi o único Estado que votou no radical abolicionista John Bell. Ou seja, há alguma lógica na distribuição dos votos, mas há exceções desconcertantes também.
Nas eleições de 1864, com os Estados Confederados fora, Lincoln foi reeleito com 213 dos 234 votos do Colégio, com o seu adversário democrata George McClellan recebendo os votos apenas de Delaware, Kentucky e New Jersey, seu Estado natal.
Os eleitores de má-fé
A lógica do Colégio Eleitoral é que os delegados escolhidos para votar em determinado candidato mantenham a sua palavra e votem realmente no candidato para o qual empenharam a sua palavra. No entanto, há vários exemplos dos chamados “eleitores de má-fé”, que não votam no candidato em que deveriam votar, escolhendo outro candidato. Alguns exemplos ao longo da história:
- Eleições de 1796: um delegado da Pennsylvania que foi escolhido para votar em John Adams, acabou “virando casaca” e votando em Thomas Jefferson.
- Eleições de 1808: 6 delegados de New York inverteram o ticket, votando em George Clinton para presidente e em James Madison para vice-presidente. Seria o mesmo que, na eleição de 2020, os delegados tivessem votado em Kamala Harris para presidente e Joe Biden para vice.
- Eleições de 1820: James Monroe ia ganhar a eleição por unanimidade, pois não havia oponentes. No entanto, um delegado de New Hampshire resolveu votar em John Q. Adams, que nem candidato era. Assim, Monroe ganhou com a totalidade dos votos menos 1.
- Eleições de 1872: o candidato democrata Horace Greeley, que desafiava o então presidente Ulysses Grant, recebeu os votos de 6 Estados na eleição popular. No entanto, Greeley faleceu em 29/11, depois das eleições mas antes da reunião do Colégio Eleitoral, que seria em dezembro. Seus eleitores, portanto, votaram em outros nomes à sua escolha, mesmo que não fossem candidatos. Greeley, mesmo morto, recebeu 3 votos. Esses votos não foram considerados. Aqui não houve propriamente má-fé, porque o candidato havia falecido.
- Eleições de 1956: um delegado do Alabama decidiu votar no candidato derrotado nas primárias democratas, Walter Jones, ao invés de votar no candidato do partido, Adlai Stevenson.
- Eleições de 1960: um delegado de Oklahoma, ao invés de votar no candidato republicano Nixon como haviam decidido os eleitores do seu Estado, votou em Harry Bird, democrata que nem era o candidato do partido, pois John Kennedy havia sido escolhido nas primárias.
- Eleições de 1968: um delegado de North Carolina que deveria votar em Nixon votou no candidato independente George Wallace.
- Eleições de 1972: um delegado da Virginia que deveria votar em Nixon votou no candidato libertário John Hospers.
- Eleições de 1976: um delegado de Washington que deveria votar em Gerald Ford votou em Ronald Reagan, que havia desafiado o então presidente nas primárias do partido republicano.
- Eleições de 1988: uma delegada de West Virginia inverteu a chapa democrata, votando para presidente em Lloyd Bentsen e para vice em Michael Dukakis, repetindo as eleições de 1808.
- Eleições de 2000: uma delegada de Washington DC (Estado que votou pelos democratas) decidiu simplesmente não votar em ninguém como “protesto contra o sistema”.
- Eleições de 2016: esse ano foi uma bagunça. Três delegados de Washington votaram em Collin Powell e um votou em uma ativista indígena chamada Faith Spotted Eagle, ao invés de votarem em Hillary Clinton. Um delegado do Hawaii votou em Bernie Sanders. No Texas, um delegado votou em John Kasich e outro votou em Ron Paul, ao invés de votarem em Donald Trump.
Note que, em nenhum desses casos, não houve mudança no resultado final da eleição pela atuação dos eleitores de má-fé.
As regras de reeleição
Ao contrário do que muitos pensam, a limitação de dois mandatos por presidente somente foi formalizada pela aprovação da 22ª emenda, em 1951. Antes disso, a regra era informal, e foi inaugurada pelo primeiro presidente, George Washington, que abriu mão de concorrer uma terceira vez à presidência nas eleições de 1796. Mesmo não sendo candidato, Washington recebeu dois votos no Colégio Eleitoral, um de um delegado de North Carolina e o outro de um delegado da Virginia.
É notável que George Washington tenha decidido não concorrer em 1796, tendo sido eleito de maneira unânime nos dois pleitos anteriores. O seu exemplo foi tão forte, que criou uma tradição não escrita, que foi seguida por quase todos os presidentes seguintes, demonstrando a força das instituições norte-americanas.
Três presidentes desafiaram essa regra em mais de 150 anos: Ulysses Grant, Theodore Roosevelt e Franklin Roosevelt.
O republicano Ulysses Grant, general da guerra de secessão, foi eleito presidente nas eleições de 1868 e 1872. Ele tentou ser apontado uma terceira vez pelo partido republicano, mas suas pretensões foram torpedeadas pelo partido, que indicou Rutheford Hayes para concorrer. Hayes acabou sendo eleito em 1876.
O republicano Theodore Roosevelt assumiu o poder em 1901, depois do assassinato de William McKinley (reeleito presidente em 1900), de quem era vice. Roosevelt foi reeleito em 1904, com a promessa de não procurar um terceiro mandato em 1908, ainda que não tivesse sido efetivamente eleito duas vezes presidente. Ele cumpriu essa promessa, mas voltou a tentar um terceiro mandato nas eleições de 1912, quando perdeu para o democrata Woodrow Wilson.
Já o democrata Franklin Roosevelt aproveitou o ambiente de guerra na Europa (os Estados Unidos ainda não haviam entrado na guerra) e o rescaldo da Grande Depressão para tentar, com sucesso, um terceiro e um quarto mandatos, em 1940 e 1944. Como sabemos, Roosevelt faleceu pouco depois de ter assumido o seu quarto mandato, e foi substituído pelo seu vice, Harry Truman.
Truman foi reeleito em 1948, e criou a Comissão Hoover para reorganizar o governo federal. A recomendação de limitar o número de mandatos em dois saiu dessa comissão, e que acabou sendo incorporada na 22ª emenda, aprovada em 1951. Portanto, é somente a partir das eleições de 1952 que os presidentes americanos estariam limitados a dois mandatos.
Vale notar que essa regra, fruto do trabalho encomendado por Harry Truman, atuou contra seus próprios interesses, pois o impediu de se candidatar a um terceiro mandato em 1952. Se fosse no Brasil…
Uma outra modificação sugerida pela Comissão Hoover e incorporada na 22ª emenda foi o dia de posse do presidente. Até a eleição de 1948, o dia da posse era 04 de março do ano seguinte à eleição. A partir de 1952, a data passou a ser 20 de janeiro, como ocorre até hoje.
A regra “the-winner-takes-all”
Uma das regras mais controversas, definida no artigo 2º da Constituição americana, é a que determina que a eleição se dá através de um Colégio Eleitoral, e não diretamente. Essa regra fica ainda mais controversa quando sabemos que a escolha dos delegados normalmente obedece à regra “the-winner-takes-all”, ou seja, o candidato que vence a eleição popular em um determinado Estado tem o direito de nomear todos os delegados daquele Estado. Esta regra é determinada pela legislatura de cada Estado, e mudou ao longo do tempo.
Por exemplo, até as eleições de 1832, os delegados de Maryland podiam se dividir entre diferentes candidatos. O mesmo acontecia com os delegados de New York até 1828. A California teve voto dividido até 1912.
Atualmente, Maine (4 delegados) e Nebraska (5 delegados) dedicam dois delegados para o candidato que vence no Estado, e o restante para o candidato que vence em cada distrito. Portanto, vencer o voto popular em Maine ou no Nebraska não garante todos os delegados desses Estados.
A importância relativa dos Estados
Como vimos logo no início, o número de delegados representa, grosso modo, o tamanho da população de cada Estado. Então, acompanhar o número de delegados ao longo do tempo nos faz ter uma noção do tamanho relativo de cada Estado na União. É o que podemos observar nos 3 gráficos a seguir, que acompanham o número de delegados de um grupo selecionado de Estados. Estão representados nos gráficos todos os Estados que contam, hoje, com 12 ou mais delegados.
Observe que Estados tais como New York e Pennsylvania tiveram o seu ápice no início do século passado e, desde então, vêm declinando. Já California, Texas e Florida vêm ganhando importância, ainda que a California tenha parado de crescer (relativamente ao restante do país) na década de 90.
Apenas 7 Estados participaram de todas as eleições: Connecticut, Delaware, Maryland, Massachussets, New Hampshire, New Jersey e Pennsylvania.
Os Estados admitidos mais recentemente no Colégio Eleitoral foram Alaska e Hawaii a partir das eleições de 1960, e o District of Columbia, a partir das eleições de 1964.
Os presidentes que ganharam as eleições pelas maiores margens. E as eleições mais apertadas.
Já vimos que George Washington foi praticamente aclamado presidente da República em 1789 e 1792. Mas, e depois? Houve presidentes eleitos por quase unanimidade? Sim! Vamos ver aqui a lista de presidentes eleitos com mais de 90% dos votos do Colégio Eleitoral.
1804: Thomas Jefferson foi reeleito com 92,0% dos votos (162 de 176).
1820: James Monroe foi reeleito com 98,3% dos votos (231 de 235). Na verdade, Monroe só não levou 100% dos votos porque 3 eleitores de má-fé decidiram não votar, enquanto 1 votou em seu adversário, John Q. Adams. Esses 4 eleitores são considerados de má-fé porque haviam prometido votar em Monroe na eleição popular em seus Estados.
- 1864: Abraham Lincoln foi reeleito com 91,0% dos votos (213 de 234). Lembrando que, neste ano, os Estados Confederados não votaram.
- 1936: Franklin Roosevelt foi reeleito pela primeira vez com 98,5% dos votos (523 de 531).
- 1964: Lindon Johnson foi reeleito com 90,3% dos votos (486 de 538).
- 1972: Richard Nixon foi reeleito com 96,7% dos votos (520 de 538). E pensar que ele renunciaria dois anos depois…
- 1980: Ronald Reagan foi eleito com 90,9% dos votos (489 de 538). Foi a primeira vez, desde George Washington, que um presidente foi eleito pela primeira vez com mais de 90% dos votos.
- 1984: Ronald Reagan foi reeleito com 97,6% dos votos (525 de 538).
E as eleições mais apertadas? Vejamos:
- 1800: neste ano os delegados ainda escolhiam dois nomes, e Thomas Jefferson e Aaron Burr receberam, cada um, 73 votos. O presidente foi decidido pela Câmara dos Deputados, com cada Estado representando um voto. O eleito foi Thomas Jefferson.
- 1824: pela primeira e única vez na história das eleições americanas, nenhum candidato conseguiu mais do que 50% dos votos. Isso porque havia 4 candidatos competitivos. O mais votado, Andrew Jackson, com 99 de 261 votos (37,9%) acabou sendo o eleito pela Câmara dos Deputados.
- 1876: o republicano Rutherford Hayes foi eleito com uma diferença de apenas 1 voto em relação ao seu adversário democrata, Samuel Tilden: 185 contra 184 votos. Esta eleição se seguiu a dois mandatos bastante populares de Ulysses Grant, que não conseguiu a nomeação de seu partido para uma terceira tentativa. Seus correligionários preferiram Hayes, abrindo mão de um candidato mais competitivo em troca de manter a tradição de um máximo de dois mandatos por presidente.
- 1916: Woodrow Wilson foi reeleito com 52,2% dos votos (277 de 531). A guerra não fez bem a Wilson, como faria bem a Roosevelt 30 anos depois…
- 2000: George W. Bush foi eleito com 271 de 537 votos (50,5%). Bush só ganhou porque a Florida (25 votos) pendeu para o seu lado depois de vários dias excruciantes de recontagem.
A idade dos presidentes da República
Com Biden sendo o mais velho presidente da República, ganhou notoriedade essa questão da idade. Afinal, quão velhos foram os presidentes dos Estados Unidos ao longo do tempo? O gráfico abaixo nos dá uma ideia geral:
Tracei uma linha de tendência, mostrando que a idade dos presidentes caiu até mais ou menos o início do século XX, para depois voltar a aumentar até atingir o ápice com Joe Biden, que deve deixar a presidência com 82 anos e 2 meses de idade.
Quais foram os presidentes mais novos e mais velhos a assumirem o mandato? E quais foram os mais novos e mais velhos ao terminarem os seus mandatos? É o que podemos observar na tabela a seguir:
Se Donald Trump for eleito agora em 2024, tomará o lugar de Joe Biden como o presidente mais idoso a assumir um mandato, com 78 anos, 7 meses e 6 dias. E, se ficar até o fim, também tomará o posto de Joe Biden como o presidente mais idoso a terminar um mandato, com 82 anos, 7 meses e 6 dias.
Mas um ajuste que deveria ser feito é pela expectativa de vida. É bem diferente uma pessoa de 70 anos hoje ou dois séculos atrás. Para fazer esse ajuste, é preciso recuperar o histórico da expectativa de vida nos Estados Unidos. O máximo que consegui foi uma série menos detalhada a partir de 1820, e outra mais detalhada a partir de 1860. Em 1820 e 1860, uma criança ao nascer, nos Estados Unidos, podia esperar viver até os 40 anos de idade. Hoje, essa expectativa é de 79 anos. Então, como critério, adotarei os 40 anos para os presidentes que nasceram até 1860, e depois seguirei a expectativa da segunda série histórica.
Na tabela abaixo, temos a lista dos presidentes mais jovens e mais velhos ao assumirem e ao terminarem os seus mandatos, em relação à expectativa de vida quando nasceram. O número é a razão entre a idade ao assumir ou ao terminar o mandato, e a expectativa de vida ao nascer.
Andrew Jackson e James Buchanan terminaram seus mandatos com uma idade 75% maior do que a expectativa de vida quando nasceram. Enquanto isso, Barack Obama terminou o seu mandato 20% mais jovem do que a expectativa de vida que tinha quando nasceu.
Note que Joe Biden e Donald Trump somem da lista dos mais velhos. Quando Biden nasceu, a expectativa de vida era de 62 anos, ao passo que, quando Trump nasceu, a expectativa de vida era de 65 anos. Biden, portanto, tinha uma relação idade/expectativa de 1,26 ao assumir e terá uma razão de 1,32 ao deixar o mandato. Já Trump tinha uma razão 1,09 quando assumiu e 1,15 quando deixou o mandato. Se for reeleito, Trump assumirá com uma razão de 1,21 e, se chegar ao final de seu mandato, o fará com uma razão de 1,28. Portanto, índices muito distantes
Os presidentes que não terminaram os seus mandatos
Dos 46 presidentes eleitos até hoje, 9 não terminaram os seus mandatos: 4 por doença, 4 assassinados e um por renúncia. Foram eles:
- William Harrison: eleito em 1840 pelo partido Whig (precursor dos Republicanos), tomou posse em 04/03/1841, mas faleceu um mês depois, em 04/04/1841, por complicações de uma pneumonia. Foi substituído pelo seu vice, John Tyler, que encerrou o seu mandato e não foi reeleito.
- Zachary Taylor: eleito em 1848 pelo partido Whig, tomou posse em 04/03/1849, mas faleceu em 09/07/1950, um ano e 4 meses depois, de alguma doença intestinal não identificada. Foi substituído pelo seu vice, Millard Fillmore, que encerrou o seu mandato e não foi reeleito.
- Abraham Lincoln: eleito em 1860 e reeleito em 1864 pelo partido republicano, foi assassinado em 15/04/1865, um mês e 11 dias depois de tomar posse de seu segundo mandato, por John Booth, um espião confederado, que foi morto duas semanas depois. Lincoln foi substituído pelo seu vice, Andrew Johnson, que encerrou o seu mandato e não foi reeleito.
- James Garfield: eleito em 1880, tomou posse em 04/03/1881, mas levou dois tiros no dia 02/07/1881, pouco menos de 4 meses depois de tomar posse, vindo a falecer em 19/09/1881. Seu assassino, um psicopata chamado Charles Guiteau, foi condenado à morte e executado em 30/06/1882. Garfield foi substituído por Chester Arthur, que terminou o seu mandato e não foi reeleito.
- William McKinley: eleito em 1896 e reeleito em 1900 pelo partido republicano, levou dois tiros no dia 06/09/1901, vindo a falecer em 14/09/1901, cerca de 6 meses após iniciar seu segundo mandato. Seu assassino, Leon Czolgosz era um anarquista, e foi condenado à morte e executado em 29/10/1901. O vice de McKinley, Theodore Roosevelt, assumiu o cargo e depois foi reeleito.
- Warren Harding: eleito em 1920 pelo partido republicano, tomou posse em 04/03/1921, mas faleceu em 02/08/1923, vítima de complicações de um ataque cardíaco e de um AVC. Foi substituído pelo seu vice, Calvin Coolidge, que terminou o mandato e foi reeleito.
- Franklin D. Roosevelt: reeleito pela terceira vez em 1944, assumiu o mandato em 04/03/1945, mas faleceu em 12/04/1945, de um AVC, aos 63 anos de idade. Seu vice, Harry Truman, assumiu e depois foi reeleito.
- John F. Kennedy: eleito em 1960, tomou posse em 20/01/1961. Foi assassinado em 22/11/1963, por Lee Oswald, em um crime até hoje não esclarecido. Foi substituído pelo seu vice Lyndon Johnson, que depois seria reeleito.
- Richard Nixon: eleito em 1968 e reeleito em 1972, renunciou em 09/08/1974, depois do “escândalo do Watergate”, em que o partido republicano foi acusado de espionar o partido democrata no edifício Watergate. Foi o único presidente que renunciou na história americana. Foi substituído pelo seu vice Gerald Ford, que tentaria a reeleição em 1976, sem sucesso.
Note que, em 100% dos casos, na ausência do presidente, o vice-presidente assumiu, como deve ser.
Os partidos
Desde que nos conhecemos por gente, os Estados Unidos têm somente dois partidos competitivos: Republicanos e Democratas. Claro, nem sempre foi assim. Esses dois partidos começam a ser hegemônicos somente a partir das eleições de 1856. Mas antes também havia dois partidos predominantes, que foram mudando com o tempo.
George Washington foi eleito e reeleito sem pertencer a nenhum partido. Mas, logo no início, dois grupos antagônicos surgiram, sendo a autonomia dos Estados o pomo da discórdia. O partido Federalista defendia uma maior centralização na União, enquanto o partido Democrático-Republicano apoiava uma maior autonomia. Os federalistas ganharam apenas as eleições de1796, com John Adams. Depois disso, todas as eleições entre 1800 e 1816 foram ganhas pelos democratas-republicanos.
A partir de 1820 o partido Federalista desaparece, e as eleições de 1820, 1824 e 1828 foram disputadas e ganhas pelos democratas-republicanos sem competição de outro partido. A partir de 1832, o partido Democrata-Republicano se divide no partido Democrata, liderado por Andrew Jackson, e no partido Nacional-Republicano, liderado por John Quincy Adams, que se tornaria, nas eleições de 1836, no partido Whig que, por sua vez, se transformaria no partido Republicano a
partir das eleições de 1856. O esquema abaixo resume esse processo:
Das 42 eleições desde 1856, os Democratas venceram 18, enquanto os republicanos venceram as outras 24 eleições.
A maior série seguida de vitórias dos Democratas foi de 5, com as quatro vitórias de Franklin Roosevelt e mais a eleição de Harry Truman, entre 1932 e 1948. A maior série de vitórias eleitorais dos Republicanos foi de 6, entre 1860 e 1880, com Abraham Lincoln (1860 e 1864), Ulysses Grant (1868 e 1872), Rutherford Hayes (1876) e James Garfield (1880).