Opinião

O Mundo Depois De Nós

O vídeo dos vídeos nos celulares de quem estava nos Champs Elysées, em Paris, na contagem regressiva para 2024, abriu o portal de discussão do ano. Cheguei a escrever um pequeno texto reflexivo sobre os dez segundos registrados – possivelmente, em outra tela de celular -, após a virada em que não se vê (ao menos nesses dez segundos), ninguém se abraçando e/ou vibrando, exceto um ser vivente que deu um pulinho discreto, mas acabei apagando na sequência e fui assistir o filme “O Mundo Depois de Nós” (Leave the World Behind, no título original)🍿. Não deixa de ser a mesma temática: nossa relação com as novas tecnologias e, principalmente, nossa conexão em tempo real com as pessoas.

O filme é provocativo; não senti que foi perda de tempo. Talvez a propaganda constante da Netflix tenha feito com que fosse superestimado para, na sequência, vir a ser super detonado por muitos. Sinal de que a propaganda funcionou e acabou sendo visto em muitas telas. Também li que “Leave the World Behind” ganhou visibilidade quando o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, incluiu o livro homônimo na sua famosa lista de leituras durante o verão. O escritor Rumaan Alam teria descrito a referência de Obama como uma “experiência fora de corpo”. O diretor do filme, Sam Esmail, por sua vez, relatou que “a experiência de Obama relativamente à preparação para desastres foi útil. O ex-presidente partilhou uma experiência em primeira mão como alguém que já foi informado, diariamente, sobre possíveis atos de ciberterrorismo e incidentes geopolíticos”. (https://www.nit.pt/cultura/cinema/barack-obama-ajudou-a-fazer-leave-the-world-behind-o-novo-filme-da-netflix) Para completar, o ex-presidente participou da produção do filme. Com isso, deve ter acrescentado mais um ingrediente para manter o filme, após quase um mês, no TOP 10 da Netflix: a curiosidade.

Há boas atuações no filme, cenas visualmente impactantes, e diversas situações inacabadas/mal explicadas que não me incomodaram, pois me parecem críveis em um contexto de caos em que a situação de fundo, sua origem e motivação, é apenas sugestionada – outra provocação, a meu ver. Some-se uns dois ou três diálogos bons – um deles, trata sobre escolhas baseadas em crenças em vez de fatos e isso é algo cuja abordagem sempre chama minha atenção. Me incomoda muito mais que processos de decisão em pleno século XXI sejam primordialmente tomados dessa maneira, do que, p.ex., o uso do tal ChatGPT. Fico com a impressão de que há um déficit de inteligência/aprendizado. Boa parte das más escolhas coletivas, inclusive, devem-se a essa insistência em crenças, sobrepondo-se aos fatos, associada à dificuldade em aprender com erros (más escolhas repetidas em looping).

Sim, tem clichês no filme, vários, como em todo suspense apocalíptico americano, mas já decidi internamente que a vida é clichê, não me incomoda…tentar sofisticar a vida com explicações complexas para fatos simples é desconhecer o que é sofisticado (simplicidade, essencialmente). É uma perda de tempo com uma pitada de vaidade tola. Um dos recados simples do filme é: dependemos uns dos outros para viver bem em sociedade. Alguma novidade? Não. De vez em quando, contudo, é bom lembrar. O Natal também é assim, não é? Lembramos de uma mensagem simples: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O começo está aí, aplica quem pode, como pode: amor próprio, o resto vem.

Voltando ao filme. O final em aberto é condizente com a provocação do título original: Leave the World Behind. Um mundo que fica para trás enquanto outro está em construção. Qual mundo fica para trás, entretanto? O digital? O conectado? O dependente de satélites? Não creio nisso. O rio não flui para trás. Nosso ímpeto para o progresso material é uma característica demasiadamente humana. Há, todavia, um modo de vida que possivelmente precise ficar para trás. Tem o egoísmo em sua gênese e é amplificado em momentos de extrema pressão, sobretudo quando estamos no modo sobrevivência – um modo, diga-se de passagem, não apenas quando estamos no meio de um conflito armado ou enfrentando desastres naturais. Quem vive para pagar boletos e/ou focado essencialmente em aumentar seu patrimônio, ou seja, só focado na matéria, (sobre) vive nesse modo. Como bem canta o Frejat, em Desejo: 🎧 “Eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”.

Quem sobreviveu? Guardo minhas hipóteses, a otimista e a realista, evitando a pessimista na primeira semana do ano rs, assim como eventual spoiler.

Por falar em spoiler, a “resenha sonsa” do escritor André Gabeh em sua página no Facebook é imperdível para quem, como eu, não perde a oportunidade de rir. Ri muito! 😁

“Em algum momento eu achei que a família de Julia Roberts estava morta e que os negros eram espécies de anjos que os ajudavam a se adaptar ao umbral. Quando o filme acabou lamentei estar errado, porque minha teoria me pareceu bem mais divertida.”

“O filme parece uma versão apocalíptica de ONCE UPON A TIME. Tem João e Maria perdidos na cabana sem entender o que está acontecendo. Tem Kavin Bacon que no filme está mais solto que o joelho do Neymar, numa coisa meio Daniel Boone da Croácia. Por falar em KAVIN BACON nesse filme também tem ETHAN HAWKE e finalmente ficamos sabendo que eles não são a mesma pessoa. Seguindo boa derivativos tem Julia Roberts de bruxa má que depois descobre que era só uma garotinha esperando o ônibus da escola.”

Ah! Graças à postagem do Andre Gabeh (https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=930798518408698&id=100044356752713&mibextid=I6gGtw), também descobri o porquê de eu me sentir tão confortável na fotografia: o predomínio do azul, uma “endometriose da Smurfete”. Hahaha

O filme “O Mundo Depois De Nós” está disponível na Netflix, desde 8 de dezembro. Classificação etária: A16 | 2h 21min | Drama
Sinopse: “As férias de uma família numa casa luxuosa sofrem uma reviravolta quando um ciberataque afeta todos os dispositivos e duas pessoas estranhas batem à porta.”

https://www.facebook.com/netflixbrasil

Daniela Meneses

Sou carioca, “naturalizada” no nordeste e lotada no Paraíso das Águas, com a família que formei, e é o meu maior patrimônio. O Rio segue em mim. Acredito no uso terapêutico do contato com a Natureza (especialmente o Mar), a Yoga, a Dança, a Corrida, e a Escrita, sendo esta última a razão pela qual mantenho o hábito de “pensar em voz alta” no Facebook. Graduada em Direito há 26 anos e especialista em Direito Constitucional, atuo na área. Humanista e reformista, acredito na efetividade de reformas cíclicas que conduzam ao aperfeiçoamento institucional, assegurando o exercício do conjunto de liberdades e das garantias fundamentais e individuais. A bem da verdade, na minha 1ª postagem no PDB há o suficiente para sintetizar meu “enquadramento”: me alinho aos valores do Iluminismo, da Revolução Gloriosa, das liberdades de crença, expressão, de pensamento, do direito de ir e vir e de propriedade. Por consequência, defendo o Regime Democrático, a Separação dos Poderes, o Estado laico, a Imprensa Livre, os valores humanistas, e o Due Process of Law. No mais, a pretensão adolescente de ser agente secreta (rs) talvez explique um dos meus temas prediletos: geopolítica. O gosto por história, literatura, e filosofia vem da época da escola. Provavelmente, minhas publicações, que representam minha posição pessoal, sem qualquer vinculação institucional, estarão associadas a esse mix. Até agora, estavam restritas para amigos, entre os quais estão muitos dos que fazem parte desse espaço descontraído de troca de ideias, o Papodeboteco.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Send this to a friend