Opinião

Mais uma vez Anitta, não obrigada

Acompanhei o breve envolvimento de Anitta com a política, na época das lives com Gabriela Prioli. Lembro que muita gente a ridicularizava pelos comentários que demonstravam desconhecimento pelas ciências políticas. Sinceramente, não vejo problema em assumir nossa própria ignorância em determinado assunto e ter vontade de aprender. Pelo contrário, vejo mérito na coragem e humildade, e cheguei a defendê-la nas redes por isso.

Aí sai a notícia de que, em alto e bom tom, Anitta decide apoiar Lula já no primeiro turno, como que num ato de demonstração de virtude. “Entrei pro time de pessoas do bem. Viva!”.

Me pergunto: o que mudou em sua visão política de lá pra cá? Antes de tomar partido, e com tamanha convicção, a ponto de estampá-lo em suas nádegas, será que ela ao menos leu e se aprofundou no plano de governo do partido que escolheu?

Será que ela tem ideia do que vai acontecer com os milhões de desempregados que a revogação da reforma trabalhista, que seu candidato defende, irá gerar? Tem ideia das privações que o povo passa com os bilhões que foram (e certamente serão de novo) roubados dos cofres públicos com a expansão e aparelhamento da máquina estatal, que seu candidato defende? Sabe quantas pessoas permanecerão sem esgoto e água tratada nas próximas décadas com a revogação do Marco do Saneamento, que seu candidato propõe? Entende que a falta de responsabilidade fiscal (escancarada em cada página do plano de governo do seu candidato) faz a inflação explodir de vez, o que torna a vida dos cidadãos, principalmente os mais pobres, cada vez mais precária?

Posso estar equivocada, mas meu palpite é que não sabe. Que não se deu ao trabalho de pesquisar o que realmente pretende fazer o candidato que escolheu para ser merecedor do seu apoio e quais serão as consequências da implementação das ações que ele está propondo. Assim como muitos outros artistas e influenciadores que fazem campanha para políticos, sem ter a mínima ideia do que defendem e do impacto de suas medidas.

E se eles não têm a mínima ideia do que de fato propõe seu candidato, me pergunto que fatores levam artistas como Anitta, Pablo Vittar, Ludmilla entre muitos outros, a levantar com tanto orgulho a bandeira petista, uma marca no mínimo manchada pela corrupção que foi amplamente divulgada. Algumas possibilidades vêm em mente:

1- Recursos para a “cultura”. Nunca o Estado despejou tanto dinheiro para artistas como na era petista. E pra eles, não há mal algum em tirar do cidadão que se mata de trabalhar, e até do que está passando necessidade, pra bancar shows e filmes que vão alegrar o sabadão da classe média (não dos realmente pobres).

2- A esquerda é sexy na visão dos fãs. Numa tentativa de lacrar e agradar os seguidores, nada como uma declaração de apoio ao mais popular candidato de esquerda. Se usar camisetinha do sanguinário Che Guevara, que fuzilava seus opositores (fofo), fica ainda mais cool.

3- O anti-bolsonarismo. Esse pretexto até colaria num segundo turno entre os dois atuais favoritos, já que Bolsonaro coleciona haters por todo Brasil. Mas não agora, enquanto há muitas outras opções bem mais “limpinhas” pra se apoiar e tentar ajudar a crescer na campanha, como Tebet e até Ciro.

Fazer campanha é fácil, até divertido. Me pergunto aonde estarão esses artistas e o que dirão a seus fãs quando o Brasil tiver caminhado para mais pobreza e atraso, assim como caminha a Argentina, com Alberto Fernandez (cujo projeto é siamês ao projeto de Lula), e que é tão adorado pelos classe artística em seu país. Provavelmente culparão o capitalismo (do qual tanto usufruem) ou os EUA (aonde adoram passear).

Enfim, um sábio super-herói, conhecido como Homem-Aranha, uma vez ouviu que “com grande poder vem uma grande responsabilidade”.

Querer usar o poder para influenciar o voto de milhões de pessoas está no direito de cada um, afinal, vivemos em uma democracia. Mas que nossos influenciadores façam isso de forma consciente e responsável, estudando e se aprofundando nos projetos das opções disponíveis. Não me parece que seja o caso no momento.

Por Tatiana Poroger
Instagram: @tatiporoger

Tatiana Poroger

Paulistana, graduada em administração de empresas pela Pace University NY, trabalhou no mercado financeiro, em gestão de educação e na área comercial, até se descobrir no marketing digital, onde atua até hoje. É também ativista política, colaboradora do Ranking dos Políticos, além de curiosa e palpiteira.

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