Opinião

Racismo, proselitismo e a espiral do silêncio.

Quem cala consente.

Confesso que hesitei em publicar esse texto.

Em tempos quando o debate público é permeado por histeria e desonestidade intelectual há sempre o “risco” do “patrulhamento”, do tal “cancelamento”.

Contudo, calar é se render a espiral do silêncio é permitir que narrativas se sobreponham aos fatos, que a Democracia e causas pertinentes sejam fragilizadas.

Quem cala consente e se queremos uma sociedade tolerante e plural, é importante que causas como o racismo sejam tratadas de forma honesta e responsável.

Racismo: realidade inconteste.

Abordagens policiais violentas, olhares desconfiados, injúrias, não faltam situações cotidianas que podem ilustrar um preconceito racial enraizado em nossa sociedade.

O racismo no Brasil é uma realidade, um problema gravíssimo e que deve ser firmemente combatido por todos, independente de simpatias de qualquer ordem. É essa a premissa fundamental do texto que vem a seguir.

Proselitismo.

Vejam a imagem abaixo.

Postagem de apresentador ignora identidade de vítima.

Quando alguém se refere a uma pessoa brutalmente assassinada, resumindo-a a seu gênero e raça, retirando-lhe sua identidade, sem se dar ao trabalho de ao menos mencionar seu nome, fica claro para mim que nessa fala não há nenhuma empatia com a vítima.

Nesses casos, se falta humanidade, o mesmo não acontece com o desejo mórbido e oportunista de usar aquela vida covardemente interrompida para um fim político. Algo nojento quando se pensa no luto da família que perde um de seus membros.

Não há nada pior para fragilizar uma causa justa do que usa-la para qualquer outro fim que não ela mesma. Combate ao racismo não deveria ser pauta de partido político ou ter viés ideológico, é demanda civilizatória e suprapartidária.

Se não há como admitir justificativa alguma para uma covardia inominável como a que aconteceu em Porto Alegre com João Alberto Silveira Freitas, a contrapartida é que dar a esse crime uma conotação racial desmerece a causa e o pior, ainda desperta aversão.

Ainda que possa ter cometido alguma agressão inicial, ou que tenha antecedentes desabonadores com casos de violência doméstica, nada justifica, João foi vítima de uma reação absurdamente desproporcional, fruto de um inaceitável despreparo pelo qual devem pagar no rigor da lei os que lhe tiraram a vida.

Da mesma forma deve recair sobre as empresas envolvidas as responsabilidades previstas para casos assim. Contudo, vale ressaltar, se essas companhias tem uma conta a pagar, não há como imaginar uma má-fé qualquer, afinal episódios assim são extremamente custosos em termos de imagem.

Vidas importam.

Assim como fragiliza o combate à violência contra a mulher aquela que acusa falsamente um estupro, perde força a luta contra o racismo cada vez que se tenta dar a um crime um viés racial sem que de fato haja, apenas para que se tire proveito político.

Um assassinato é algo sério demais, combater o racismo da mesma forma, não há como se admitir que uma situação assim seja oportunidade para “lacrar”, muito menos deve servir de gatilho para mais violência. Depredar patrimônio alheio é crime, além de colocar outras vidas em risco.

Funcionária do Carrefour em São Paulo tenta debelar incêndio. A depredação poderia ter custado vidas.

O combate ao racismo não pode ser feito em cima de narrativas, a verdade importa. Vidas importam. Todas as vidas importam.

Marcelo Porto

Gênio do truco, amante de poker, paraíba tagarela metido à besta, tudólogo confesso que insiste em opinar sobre o mundo ao meu redor. Atuando no mercado financeiro desde 1986, Marcelo Porto, 54, também é Administrador de Empresas e MBA em Mercado de Capitais.

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