Opinião

Diga-me quem és e eu te direi se tens razão

Quem me conhece sabe que não tenho simpatias maiores por Donald Trump, mesmo tendo que confessar que adorei sua vitória de goleada sobre os representantes da detestável (e decadente) cultura Woke.

Um dos pontos que me fez desgostar profundamente do topetudo foi a sua atitude quando perdeu a eleição para Biden, há quatro anos. Denúncias de fraude sem provas, incitação para invadir o Capitólio e, principalmente, a falta de educação de não cumprimentar o vencedor, uma tradição de mais de 200 anos da cultura democrática americana (ops, perdão, estadunidense), foi tudo muito ridículo. Neste ponto, Kamala e Biden deram um show de ética, garantindo uma transição sem choques. Esta é a essência da democracia, o pior regime que existe com exceção de todos os outros, na definição imortal de Winston Churchill. Meu aplauso e meu respeito para eles.

É claro que a Lacrolândia aponta esta pisada na bola de Trump como um pecado mortal. Só que o destino, este senhor muitas vezes cruel, resolveu propor um novo jogo.

Mês passado tivemos uma outra eleição que causou muito barulho nas terras de Macunaíma; a “Bola de Ouro” do futebol. Contrariando expectativas, Vini Jr. foi derrotado por Rodri, craque espanhol. Vale dizer que se trata de uma eleição à prova de fraudes; os votos de 100 jornalistas do mundo todo foram abertos e são perfeitamente auditáveis.

A reação de Vini Jr. foi igualzinha à de Trump; não foi à festa, não cumprimentou o vencedor, e ainda fez uma postagem nas redes antissociais desqualificando o júri, dizendo que “eles não estão preparados”, frase extremamente dúbia.

Não preciso dizer qual foi a reação da Lacrolândia; Vinizinho pode tudo, afinal ele é “um negro que luta contra o racismo” e qualquer um que vote contra ele ou, pior ainda, critique alguma atitude dele, é um racista desprezível. Não tem o famoso “lugar de fala”.

Não é preciso ser um gênio para entender que este é o caminho para criar uma criança mimada. Vini Jr. tem que entender que existem regras em qualquer jogo, e sua luta contra o racismo (que eu acredito que seja sincera), vai ganhar muito em popularidade se ele se mostrar uma pessoa educada e razoável. Mas a Lacrolândia prefere incentivar o discurso de ódio.

Enfim, ao contrário do que diz o velho ditado, para a Lacrolândia “Pau que dá em Francisco não dá em Chico”. Vini pode, Trump não. O problema é que esta hipocrisia fica cada vez mais clara, e os resultados das urnas, tanto lá quanto cá, demonstram que o este discurso passou da validade. O povo é mais inteligente do que eles gostariam.

Vini Jr. é jovem, craque de bola, e tem tudo para ganhar vários prémios no futuro (entre os quais espero que esteja o hexa com a seleção brasileira). Sua luta contra o racismo é relevante e merece o apoio de todos. Ele só precisa entender que nem sempre quem grita, histericamente, “Baila Vini!” tá ajudando. E nem sempre quem discorda dele é inimigo. Simples assim.

Vida que segue.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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3 Comentários

  1. Não me considero parte da cultura WOKE mas discordo totalmente da sua análise do Trump. Apenas porque ele não foi digno de uma passagem de poder pacífica e democrática é o menor de seus pecados.
    Ele é um mentiroso patológico que só está no poder para benefício financeiro dele e da família dele.
    Mas o pior são os dezenas de processos no qual um ele já foi condenado.
    Apresar dos pesares, se fosse no Brasil ele não poderia n ao menos concorrer devido a lei da ficha limpa. Para mim, não há diferença nesse sentido dele para o Lula.
    Com relação ao Vini, concordo. Ele é um craque mas pisou na bola, com o perdão do trocadilho.

    1. Prezado Marcelo, obrigado por ler e comentar.
      Concordo com o que você diz sobre o Trump. O incrível é que, quanto mais aprendo sobre ele, mas impressionante fica o fato dele ter sido eleito com maioria significativa.
      Minha interpretação é que ninguém mais aguenta o “politicamente correto”, o “woke” ou assemelhados. Ou seja, o eleitor médio aceita até um cara que nem ele como opção.
      Estes dias vi alguém definir o “Woke” como “ACSB”, ou seja, “Anti Common Sense Bullshit”. Perfeito.
      Quanto ao Vini, concordamos. Tudo certo. Grande abraço virtual

  2. Gostei do Vini pode e Trump não, afinal ha um abismo enorme entre eles, onde um deles merece o respeito na luta pelos seus direitos como ser humano e, em um momento de infatilidade não conseguiu seguir a etiqueta social, seja por sua imaturidade seja pela exposição que o sucesso “cobra”, talvez precoce. O “topete” não pode ser comparado ao Vini, não passa de um politico, que como o que temos por aqui, acredita ser Deus e que esta acima de tudo e de todos. Como as nossas eleições se elegeu o “menos pior”.

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