Opinião

Sumy, Ucrânia – Domingo de Ramos

A versão russa de um cessar-fogo. Domingo de Ramos Sangrento, Sumy UA.(Donald Tusk, Primeiro-ministro da Polônia)

Em 27/02/2025, escrevi um artigo neste mesmo espaço, sobre a Ucrânia, após o encontro do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com o presidente americano, Donald Trump e o seu vice-presidente, JD Vance, no Salão Oval da Casa Branca.

Hoje, Domingo de Ramos, leio que dois mísseis russos foram direcionados para o centro da cidade ucraniana de Sumy, atingindo um cruzamento movimentado, enquanto os fiéis saíam das igrejas, andavam de trólebus ou simplesmente caminhavam pelo centro da cidade. Também li que, antes do ataque, um drone russo de reconhecimento sobrevoou a cidade. Um míssil atingiu um trólebus. O segundo míssel teve como alvo o Centro Cultural da Universidade de Sumy, onde eventos culturais e educacionais ocorriam. O Centro de Proteção dos Direitos Humanos em Sumy também foi destruído. Sob as ordens de um criminoso de guerra, Putin, dezenas de pessoas foram assassinadas, incluindo crianças. Uma centena encontra-se ferida. Um país continua sangrando, após aquela indefensável invasão russa, há três anos.

Há dias em que pensar no que aconteceu há mais de dois mil anos, na mensagem de Amor, maiúsculo, levada às últimas consequências por um homem em missão divina, ganha uma dimensão absurda diante do Mal, este, sim, absoluto, porque praticado por um ditador sem qualquer barreira de contenção. Não há política nisso. Sob Putin, é praticado terrorismo de Estado, não há que se falar em atos como o de hoje como uma guerra travada entre militares. A covardia da ditadura russa tem alvo premeditado: civis.

O que aconteceu, hoje, não é um evento isolado, é o mesmo método utilizado no ataque ao Teatro de Donetsk, em Mariupol, cidade portuária da Ucrânia. Os registros em satélite sinalizavam naquele dia a palavra “criança” escrita com letras bem grandes, em russo, em frente e atrás do prédio. Em torno de 300 pessoas foram assassinadas. A ONG Human Rights Watch (HRW) descreveu ao jornal britânico The Guardian a situação na cidade como uma “paisagem infernal congelante repleta de cadáveres e prédios destruídos”.A organização lembrou que as autoridades locais estimam em 3 mil o número de mortos na cidade, que teria 80% dos edifícios destruídos. As cifras não foram verificadas de forma independente” (DW/PT). E o que dizer do Hospital Infantil Ohmatdyt, no qual as imagens de crianças em tratamento para o câncer, algumas com soro, sentadas do lado de fora do hospital, ganharam o mundo? “Diferentes cidades: Kiev, Dnipro, Kryvyi Rih, Sloviansk, Kramatorsk. Mais de 40 mísseis de vários tipos. Edifícios residenciais, infraestruturas e um hospital infantil foram danificados”, disse à época, Zelensky.

Relatos deste domingo indicam que, assim como em Kryvyi Rih, bombas de fragmentação foram usadas, aumentando a devastação e os danos à população civil.

Hoje, Domingo de Ramos, a Rússia lançou mísseis balísticos contra Sumy, matando 32 civis ucranianos e ferindo 99. Relatos indicam que, assim como em Kryvyi Rih, bombas de fragmentação foram usadas, aumentando a devastação e os danos à população civil. Nossas orações estão com o povo de Sumy.” (Bridget A. Brink, embaixadora dos EUA na Ucrânia, no X).

O ataque de hoje, no Domingo de Ramos, se dá um dia depois de o enviado de Trump, Steve Witkoff, se encontrar com o ditador russo, posar para as câmeras, em meio aos apertos de mãos. O enviado americano também visitou uma catedral cristã ortodoxa. Hoje, cristãos foram alvos. Alguma mensagem dos cristãos do MAGA?

“Lançar um ataque como esse em um importante feriado cristão é uma maldade absoluta”. “Pelo segundo mês consecutivo, a Rússia se recusou a aceitar a proposta dos EUA de um cessar-fogo total, que a Ucrânia aceitou incondicionalmente em 11 de março”, disse o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Andriy Sybiha (Financial Times).

É precisa, portanto, a declaração de hoje do primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, em sua conta no X: “The Russian version of a ceasefire. Bloody Palm Sunday. Sumy UA.” O Domingo de Ramos Sangrento é a versão russa de um cessar-fogo.

A Rússia não busca a paz, a não ser que se considere a “paz de cemitério”. Infelizmente, hoje eu percebo como tantos, apesar de esclarecidos, e bem intencionados, puderam “bovinamente” sucumbir aos totalitarismos do século passado. A boa intenção, inclusive, é um ponto fraco habilmente explorado pelos promotores dessa “paz de cemitério”. Dominação. Rendição. Subserviência. Esta é a linguagem que os ditadores conhecem. Estar fora do espaço de desinformação do ditador russo, constantemente lembrada pelos principais líderes europeus, é o mínimo que se pode fazer. Estamos em guerra híbrida. A quem tem alguma dúvida sobre isso, sugiro a leitura do fio publicado pelo jornalista Rodrigo da Silva, no X, onde ele expõe, em relação à África, que, considerando apenas o Ano de 2023, o continente enfrentou 189 campanhas documentadas de desinformação, sendo a Rússia a principal fornecedora de desinformação no continente, patrocinando 80 campanhas nas redes sociais, atingindo 22 países.  A guerra de desinformação na África, conduzida pela Rússia, também foi objeto de matéria no Le Monde, traduzida em matéria pela Piauí/UOL. O ditador instalado no Kremlin se sente intocável e acredita que pode continuar com suas ações sem qualquer consequência. Afinal, quando houve uma resposta à altura dos crimes russos de guerra já apontados pelo Tribunal Penal Internacional? Tais crimes, todavia, não podem ser ocultados e silenciados.

Sexta-feira, foi publicado um artigo no The Times em que o general Keith Kellogg, enviado especial do presidente americano, teria sugerido dividir a Ucrânia em três zonas de controle. “Quase poderia fazer-se algo parecido com o que aconteceu a Berlim depois da Segunda Guerra Mundial, quando havia uma zona russa, uma zona francesa, uma zona britânica e uma zona americana”, declarou Kellogg. Nesta divisão, as áreas ocupadas permaneceriam com a Rússia. O plano causou reações imediatas. Na prática, representa a aceitação da ocupação russa de territórios ucranianos. Também foi lembrado que, em novembro, os serviços secretos da Ucrânia já haviam alertado sobre um plano russo para dividir o país em três partes — algo que agora ganhou eco em declarações de uma autoridade ocidental.

A tentativa de aplicar à Ucrânia um modelo de divisão territorial usado em uma cidade ocupada após uma guerra mundial ignora, contudo, um ponto crucial: a Ucrânia é um Estado soberano, suas fronteiras foram violadas por uma invasão militar, há três anos. Propor seu “fatiamento” como um mero arranjo administrativo é relativizar a agressão sofrida e deslegitimar o direito ucraniano de defender sua integridade territorial. É uma visão perigosa, que normaliza a ocupação. Kellogg, anteontem, afirmou em sua conta no X que o artigo distorceu o que ele disse. Hoje, escreveu que “o ataque de hoje no Domingo de Ramos pelas forças russas contra alvos civis em Sumy ultrapassa qualquer limite de decência. Há dezenas de civis mortos e feridos. Como ex-líder militar, entendo a definição de alvos e isso é errado. É por isso que o presidente Trump está trabalhando arduamente para pôr fim a esta guerra.

Não sei a que “trabalho árduo” do presidente americano o general se refere. Sei que somos todos testemunhas em tempo real dos crimes de guerra, crimes contra a humanidade, que o ditador russo segue executando contra os ucranianos. Hoje, alguns líderes ocidentais (Emmanuel Macron, Keir Starmer, Ursula von der Leyen, António Costa, entre outros) se manifestarm contra mais esse ato bárbaro cometido contra os ucranianos. Acontece que apenas palavras e orações não salvam vidas, ações são necessárias. A iniciativa #CloseTheSky, proposta há alguns meses, em meio às turbulências que as declarações americanas geraram sobre o conflito ucraniano, voltou a ser lembrada nas redes sociais. Na ocasião, dezenas de parlamentares, ministros e oficiais aposentados da UE, EUA e Canadá pediram uma zona de proteção aérea liderada pela Europa sobre o oeste da Ucrânia. O argumento foi o de que apenas 120 aeronaves SkyShield teriam maior impacto, com menos risco e custo, do que 10.000 tropas terrestres europeias.

Não sei o que os próximos anos revelarão. A bem da verdade, a instabilidade atual das relações internacionais torna difícil fazer previsão considerando dias, meses. Hoje, ao me deparar com as notícias do ataque na área da Catedral Central da cidade de Sumy, na Ucrânia, o que posso dizer é que reafirmei uma certeza que vem se confirmando em retrospecto histórico: não se negocia com terroristas bárbaros, que atuam à revelia de regra elementares de direito internacional. Por que a Ucrânia deveria?

Enquanto isso, como brasileira, compartilho do questionamento expresso pelo jornalista Sam Pancher, do Metrópoles, após o ataque de hoje, em Sumy: “o responsável por isso, Vladimir Putin, tem um encontro marcado com o presidente do Brasil no dia 9/5. Será que ele vai ser minimamente cobrado por atos desse tipo?” Também foi publicado, ontem, no Metrópoles, que “segundo diplomatas próximos ao governo ucraniano, houve diversas tentativas de estabelecer contato com Lula ao longo do último ano e meio, incluindo solicitações formais de conversa por telefone e convites para uma visita à Ucrânia — enviados por meio de cartas em outubro e novembro de 2024. Todas, segundo essas fontes, ficaram sem resposta”. (…) “Agora, de repente, por causa da próxima visita de Lula a Moscou, ele quer falar com Zelensky sobre mediação? Isso é uma piada”, declarou um funcionário do governo ucraniano, sob condição de anonimato. Outro diplomata foi categórico ao afirmar que a Ucrânia não vê mais o Brasil como um ator relevante nas discussões de paz.“.

De todo modo, guardo enormes reservas quando leio sobre “mediação de paz” com um tipo como Putin. No mais das vezes, é desconhecer não só o seu passado sombrio de ex-KGB (condição que para muitos inexiste, diga-se, uma vez KGB…), como o que o ditador russo tem dito e realizado durante todos esses anos de governo ditatorial sobre suas intenções expansionistas dissociadas dos objetivos comuns dos países democráticos. Não se pode deixar de ouvir o que as lideranças de países cujos povos convivem há dezenas de anos com o modo de dominação russo reiteradamente têm dito sobre o seu modus operandi. Poderia escrever muito mais porque ditaduras e crime organizado é um tema que estudo há anos e estão intrinsecamente ligados no século XXI muito mais do que as questões ideológicas presentes nos totalitarismos do século XX.

Alguns meses antes do início da invasão em grande escala da Ucrânia, Putin publicou um longo ensaio intitulado “Sobre a unidade histórica de russos e ucranianos”. Está disponível para quem se dispuser a ler no site do Kremlin. Do texto longo, extrai-se que russos e ucranianos são um só povo, uma só nação, que após eventos históricos infelizes se encontram separados por uma fronteira. É uma tese clássica do nacionalismo russo: russos, ucranianos e bielorrussos são a nação trina, nação pan-russa. Putin se posiciona como um nacionalista russo, inconformado com as fronteiras que separam Rússia, Ucrânia e Bielorrússia. Quando ele menciona que os interesses russos não podem ser negligenciados em um acordo ou que uma paz de longo prazo para a Ucrânia só é possível “eliminando as causas raiz desta crise”, é disso que se trata. As fronteiras desses países não deveriam existir.

É claro que Zelensky prioriza a OTAN, já disse que renunciaria por essa garantia de segurança, de paz de longo prazo. O que Putin promete em acordos em relação à Ucrânia, todavia, não vale nada, ao se observar os fatos, as quebras de acordo, as invasões anteriores. Zelensky entende as aspirações de Putin. Os ucranianos que estão lutando entendem as aspirações de Putin. Muitos outros foram relembrados do Holodomor. Os europeus foram acordados sobre as aspirações de Putin em 2022, mas não o suficiente. Os EUA completaram a tarefa em 2025.

A questão da OTAN é uma cortina de fumaça na campanha de desinformação. A intransigência russa em relação à Ucrânia na OTAN é resultado do entendimento de Putin de que a Ucrânia não é um país soberano e independente. Nessa condição, jamais teria o direito de cogitar isso. Se a questão fosse a presença de países próximos à Rússia na OTAN, Putin já teria declarado guerra à Finlândia após a sua candidatura para se juntar à OTAN. Observe no Maps a distância da fronteira finlandesa até São Petersburgo e conclua por si só. O ponto é que os finlandeses não são considerados russos para Putin que tem, todavia, essa visão sobre os ucranianos.

Para a Finlândia, todavia, que se manteve neutra por anos, a lembrança de dominação pelos russos por um século ressurgiu imediatamente após a invasão da Ucrânia em 2022 por entender, corretamente, que a fraqueza no enfrentamento às pretensões imperialistas de Putin poderia encorajá-lo a avançar nessas pretensões (por ora, restritas à Ucrânia; a Bielorrússia já é controlada pelos russos via Lukashenko). A insistência em novas eleições na Ucrânia, inexplicavelmente defendida no salão oval americano, por DT e JDV, enquanto Rubio afundava no sofá, segue a mesma linha, permitir o controle da Ucrânia com um fantoche russo.

Lembro de ter lido que as pretensões iniciais da invasão de 2022, que se encerraria em três dias, incluiria a tomada de um aeroporto ucraniano pelas forças especiais russas, avançar até o centro de Kiev e depois colocar no poder um presidente fantoche.

É uma espécie de padrão desde a independência da Ucrânia em 1991. A tentativa de controle de Moscou das elites de Kiev, misturando suborno macroeconômico, corrupção pessoal, financiamento de partidos de oposição pró-russo e propaganda. Não saiu, contudo, cf. imaginado. O curso pro-ocidental da Ucrânia é um dos motivos da invasão em larga escala de 2022.

Um dos melhores argumentos, inclusive, para acreditar que Putin aceitaria um acordo de interrupção das atividades militares que ele iniciou seria o cálculo do custo-benefício entre o gasto de trilhões de rublos e em torno de 700.000 baixas na tomada de apenas 19% do território ucraniano, e a possibilidade de voltar a tentar influenciar Kiev por dentro.

Por essas e outras, não acredito em possibilidade real de acordo de paz com um tipo como Putin. Não se trata de uma mesa de negociação qualquer. Para a Ucrânia é uma questão existencial. Defender que a Ucrânia ceda à Putin ou “ao mais forte” é advogar submissão a um ditador, é aceitar que a Ucrânia volte à coleira de Moscou.

Não me parece a posição mais apropriada para democratas e liberais, de fato.

A rodada anunciada pelos americanos como mediadores é circunstancial em razão dos interesses atuais da presidência americana nessa mediação (o que renderia outro texto). Até mesmo a questão dos territórios e dos minerais é secundária. O que está em jogo para a Ucrânia, e deveremos ter muitas rodadas sobre isso, é o entendimento de que a Ucrânia é um país soberano, com direito à autodeterminação e precisa de garantias de segurança de longo prazo. Se irá conseguir ou não depende de muitos fatores (pressão interna americana, se a Europa acordou para valer, etc).

Encerro reiterando, em meio às indescritíveis imagens bárbaras veiculadas da Ucrânia, neste triste Domingo de Ramos para os ucranianos, e para todos que se conduzem como humanistas, que não sou pessimista. O que observo do curso da História me posiciona diante de grandes progressos que a Humanidade produziu nos últimos séculos, apesar das grandes dores coletivamente inflingidas. O pessimismo, assim como o medo, imobiliza. Para que o progresso continue é preciso ter esperança, e principalmente é necessário trabalhar por ele.

Putin não é o primeiro, nem o último, nem o único, atualmente, responsável por inúmeros sofrimentos coletivos. Tampouco atua sozinho em suas pretensões e nas guerras que ajudou a fomentar. O livro que acabei de ler, Autocracia S.A., é didático sobre isso. Já lidamos com tipos assim no passado. O que não podemos é esquecer como; é cair em falsas promessas de consenso e paz que, no máximo, postergam o conflito, com mais mortes, mais dor e sofrimento.

Quando, em 1989, o Muro de Berlim foi derrubado, eu tinha 16 anos. Inevitável a empolgação. Muitas mentiras vendidas pelos comunistas caíram junto com ele. Com o tempo, percebe-se que são muitos os que ainda acreditam em um modelo autoritário e ditatorial para impor aos seus semelhantes. Francis Fukuyama, um dos pensadores que acompanho, decretou, três anos após a queda do muro, o triunfo da ordem liberal. Quantos na chamada direita liberal não se acomodaram? Muitos. Acreditou-se na possibilidade de alternância de poder com autoritários, vieram os populistas, uma corrupção de escala industrial entre autocratas, cujos defeitos são cobertos com falsas equivalências enquanto vícios corrigíveis em um sistema político no qual as instituições funcionam de fato são tidos como instransponiveis.

No ponto, acrescento que eu não tenho uma leitura rigorosa de “O Fim da História e o Último Homem”, escrito por Fukuyama. Entendo que ele captou aquele Zeitgeist, o de que a democracia liberal poderia constituir um ponto final em termos ideológicos para governança. Daí a ideia de “o fim da história”. É um posicionamento válido (assim como o da social democracia). Não é fácil discorrer sobre o espírito do tempo enquanto se está nele em uma época de grandes mudanças (como se dá agora, mas, infelizmente, não pelo excesso de confiança, como em 1989). No final do século XX, havia uma forte expectativa em meio ao fim de quatro décadas de guerra fria, de chantagem nuclear, de vitória (aparentemente final) sobre o totalitarismo residual (comunista), suportado apenas pela necessidade pretérita de combate ao fascismo e principalmente ao nazismo. A próxima parada, o choque, veio com o 11 de setembro, o jihadismo, o nacionalismo extremado, o reagrupamento de autocracias, e agora está em curso a grande incógnita sobre a posição dos EUA. Enfim, entendo o Fukuyama e, mais ainda, entendo a necessidade de não se ter nenhuma conquista como garantida. Inúmeras vezes, a história se mostrou circular.

Tem razão quem diz que é também uma guerra de valores. Mas não visualizo o Apocalipse.

Segue mais uma lição de Camus:

Não é preciso existir Deus para criar a culpabilidade, nem para castigar. Para isso, bastam nossos semelhantes, ajudados por nós mesmos. O senhor falava-me do Juízo Final. Permita-me que ria disso respeitosamente. Posso esperá-lo com tranquilidade: conheci o que há de pior, que é o julgamento dos homens. Não espere pelo Juízo Final. Ele se realiza todos os dias.”

(Albert Camus, em A Queda)

Um dia, as decisões do ditador russo não poderão mais fazer mal a ninguém, e a sua biografia se juntará a de outros tiranos, cujo julgamento será implacável com o seu descalabro moral. E ele será também julgado, em um encontro – acredito, inevitável para todos os seres -, com a sua consciência silenciada. Até lá, seguem registros dos males que sua passagem vai deixando nesse lindo planeta azul, sem desviar o olhar, pois é assim, acredito, quando fingimos não ver, que o mal prevalece.

Nesse quadro, qualquer liderança que chancele ou apoie a ditadura russa tem a sua mesma tibieza moral e, portanto, jamais terá o meu apoio, defesa, chancela, em NADA. Respeito a democracia, mas respeito ainda mais a mim mesma: em meu nome, não.🚫

Todo crime de guerra ignorado, é um crime de guerra repetido”.

Subscrevo cada palavra da imagem do cartaz que essa manifestante em favor da Ucrânia carrega.

Minhas preces com todas vítimas deste ataque brutal e covarde, em Sumy, com todos que estão feridos, com toda a Ucrânia, neste Domingo de Ramos. 🙏🏼🇺🇦

Daniela Meneses

Sou carioca, “naturalizada” no nordeste e lotada no Paraíso das Águas, com a família que formei, e é o meu maior patrimônio. O Rio segue em mim. Acredito no uso terapêutico do contato com a Natureza (especialmente o Mar), a Yoga, a Dança, a Corrida, e a Escrita, sendo esta última a razão pela qual mantenho o hábito de “pensar em voz alta” no Facebook. Graduada em Direito há 26 anos e especialista em Direito Constitucional, atuo na área. Humanista e reformista, acredito na efetividade de reformas cíclicas que conduzam ao aperfeiçoamento institucional, assegurando o exercício do conjunto de liberdades e das garantias fundamentais e individuais. A bem da verdade, na minha 1ª postagem no PDB há o suficiente para sintetizar meu “enquadramento”: me alinho aos valores do Iluminismo, da Revolução Gloriosa, das liberdades de crença, expressão, de pensamento, do direito de ir e vir e de propriedade. Por consequência, defendo o Regime Democrático, a Separação dos Poderes, o Estado laico, a Imprensa Livre, os valores humanistas, e o Due Process of Law. No mais, a pretensão adolescente de ser agente secreta (rs) talvez explique um dos meus temas prediletos: geopolítica. O gosto por história, literatura, e filosofia vem da época da escola. Provavelmente, minhas publicações, que representam minha posição pessoal, sem qualquer vinculação institucional, estarão associadas a esse mix. Até agora, estavam restritas para amigos, entre os quais estão muitos dos que fazem parte desse espaço descontraído de troca de ideias, o Papodeboteco.

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Um Comentário

  1. Brilhante artigo. É preciso, mais do que nunca, ações contundentes e eficazes par conter os ímpetos desse ditador sanguinário e cruel. Tem que dar um basta em tudo isso! É muito sofrimento e dor ao povo ucraniano.

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