Opinião

Ainda estou aqui – e pretendo continuar

Alguns pitacos sobre a indicação ao Oscar do filme “Ainda estou aqui” e de Fernanda Torres;

1 – Ainda não vi o filme, mas lembro bem do episódio Rubens Paiva. Foi uma das maiores canalhices da história deste país. Portanto, qualquer filme, série, artigo ou livro que ajude a acabar com a imagem “glamurosa” que alguns ainda têm sobre o período da ditadura militar sempre vai contar com a minha simpatia. Não vi, mas já gostei.

2 – O sucesso do filme e da atriz não é uma vitória do governo Lula, ou da esquerda brasileira. É fruto do trabalho árduo de compatriotas brilhantes, que devem ser respeitados e reconhecidos, independente do seu posicionamento político;

3 – Não há qualquer razão para omitir o fato de que o diretor do filme, Walter Salles Jr., é filho de um dos mais ricos e poderosos banqueiros do Brasil e dono de considerável fortuna. Independente do berço em que nasceu, seu sucesso é fruto de trabalho e competência. Qualquer contestação do tipo “ah, se fosse filho de uma família pobre do Piauí nunca seria diretor de cinema” não tem qualquer sentido prático. Viva ele!

4 – O mesmo vale para Fernanda Torres. O fato de ser filha de pais extremamente talentosos não retira seu brilho próprio (bem a propósito, não sei por que se fala tão pouco do pai dela, o brilhante ator Fernando Torres, já falecido). Viva ela!

5 – Se Fernanda ganhar e os torcedores de Cynthia Erivo acusarem o júri de “racismo”, nós, brasileiros, vamos ter que aceitar quietinhos. Afinal o comportamento de boa parte da nossa opinião pública quando Rodri venceu Vini Jr. no troféu “Bola de Ouro” foi exatamente assim. O mimimi que há em mim saúda o mimimi que há em você, Direitos iguais.

6 – É bom citar que a amostra que tivemos agora quando um crítico do jornal francês “Le Monde” ousou dizer que achou a atuação de Fernanda Torres “monocórdia” já me assustou. Tem gente que só foi descobrir o que era “monocórdia” no Google, mas mesmo assim se sentiu no direito de jogar pedra num profissional que estava fazendo o seu trabalho. Julgamento de arte é um negócio extremamente subjetivo e toda a opinião deve ser respeitada. Eu sei que é difícil, mas vamos fingir que a gente é civilizado. Pelo menos na frente das visitas.

7 – Finalmente, se a vitória for para Demi Moore, a sexagenária sexy e nova queridinha da América (com todo o merecimento, diga-se), que ninguém venha com teorias conspiratórias sobre favorecimento à candidata local ou algo parecido. Jogo é jogado e qualquer uma tem direito de ganhar. Simples assim.

Enfim, estou na torcida. Pelo filme e por Fernanda. Ansioso para ouvir o “and the Oscar goes to… Brazil!”.

Vida que segue.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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