Opinião

Vexame Planetário

O Brasil está oferecendo ao mundo um vexame de dimensão planetária na condução da campanha de vacinação contra a covid-19.

Antes da pandemia, e antes mesmo do governo Bolsonaro, muitos de nós já conheciam – ou ao menos tinham ouvido falar – nos generais Villas Boas ou do general Santos Cruz. O primeiro como exímio comandante do Exército, reconhecido por seus pares pela inteligência, preparo técnico, intelectual e emocional; o segundo pela atuação exemplar, quando comandante das forças da ONU no Haiti e no Congo.

Pode-se atribuir ao desempenho de ambos e da reputação que construíram os novos ares do Exército brasileiro, com quadros mais preparados, com formações humanistas, inclusive. Partindo dessas premissas, alguém, de fora das cercanias das Forças Armadas, sabia da existência do general Eduardo Pazuello? Vamos mais longe: de onde vem ou se explica a tão incensada “experiência em logística” que o governo exalta como aposto, sempre que seu nome é citado?

Pazuello entrou no radar da imprensa nacional quando organizou as filas de imigrantes venezuelanos em Rondônia. Ponto.

Com uma atuação medíocre no ministério da Saúde, justamente quando o país mais precisa de um líder, permitiu ser humilhado publicamente pelo presidente da República, quando foi desautorizado a comprar um lote de vacinas. Optou por se agarrar a um cargo para o qual, sabia-se, não tem o menor preparo, experiência ou capacidade – em detrimento da saúde dos cidadãos.

Há mais de três meses vem sendo procurado por representantes do laboratório AstraZeneca e nem ao menos os recebeu.

Enquanto o ministro com experiência em logística empurrava com a barriga a divulgação de um plano nacional de vacinação, o governador de São Paulo, João Dória, corria por fora, e atropelou o ministro fanfarrão e o presidente negacionista.

Lançou, na última segunda-feira, 7, um plano estadual para vacinação dos paulistas e de quem mais estiver em trânsito em qualquer parte do Estado.

Esqueçam o fato de ambos, Bolsonaro e Doria, serem francos candidatos à presidência em 2022. Quem fez a melhor aposta, ainda que sejam apostas políticas? Quem teve maior índice de proatividade, de senso de oportunidade?

Ah, mas não existe vacina aprovada, dirão os céticos. Sugiro abandonarmos, igualmente, o proselitismo. Qualquer cidadão com mais de três neurônios e meio sabe que o Instituto Butantã não entraria nessa fogueira se não tivesse munição de alto calibre para enfrentá-la.

Qual é o produto? A vacinação. Alguém imagina esperar que um produto fique pronto e embalado para planejar a campanha de lançamento? Para que se tenha uma ideia do primarismo do MS nessa questão, apenas hoje, 9/12, o ministro anunciou que o edital para compra de seringas foi liberado para a indústria. Depois dessa liberação, o governo vai escolher as melhores condições, efetuar a compra, providenciar o pagamento e, enfim, a indústria começa a produção.

Ainda assim, o ministro, sob pressão de todos os setores da sociedade, afirma, sem medo de ser feliz, que a vacinação tem chance de ser iniciada ainda em dezembro. A propósito, Pazuello já anunciou várias versões para justificar a leniência do ministério. Não conseguiu, até agora, apresentar aos brasileiros um único plano logístico minimamente aceitável, compreensível ou exequível. 

Estamos sendo vilipendiados, ultrajados em nossos direitos, fundamentais e constitucionais, por um ministro incapaz, subserviente e visivelmente perturbado pelas circunstâncias.

Dória pautou a agenda do MS. Queiramos ou não, Doria dançou uma rumba no lombo de Pazuello.

O Homem Cordial, descrito pelo saudoso Sergio Buarque de Holanda nunca foi tão atual.

Silvana Destro

Silvana Destro é jornalista, voltada à comunicação corporativa há quase três décadas, atualmente com forte atuação em gerenciamento de crises de imagem e reputação. Mãe do Pedro, do João e avó de Maria Clara.

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