Esporte

Decisões por pênaltis são uma aberração. Talvez tenha outro jeito…

Um dos grandes problemas dos torneios de futebol nos últimos anos tem sido o número exagerado de decisões por pênaltis. Vale o registro histórico que, desde sempre, em torneios do tipo mata-mata, em que o jogo tem que ter um vencedor, estabeleceu-se a prorrogação de trinta minutos. E isto funcionou muito bem nos românticos tempos do futebol de muitos gols; sempre alguém acabava vencendo na prorrogação. E para os raros casos em que nem a prorrogação resolvia, a regra para o desempate era; ou através de um novo jogo (aconteceu com Brasil x Tchecoslováquia, na copa de 1934), ou por cara-ou-coroa (acreditem; já aconteceu isto. Na Copa do Brasil de 1960 o Grêmio eliminou o Coritiba na moedinha, após três jogos empatados). Em 1970 a FIFA resolveu oficializar a decisão por pênaltis que, pelo menos, era mais esportiva que um cara-ou-coroa, uma vez que as pressões de um futebol que começava a se profissionalizar já não davam mais espaço para marcar um novo jogo. Vale dizer que decisões por pênaltis já eram utilizadas muito antes disto, em ligas locais.

Assim sendo, historicamente os jogos sempre acabavam sendo decididos ou no tempo normal, ou na prorrogação. Falando somente em termos de Copa do Mundo (embora isto possa ser extrapolado para várias outras competições), a primeira decisão por pênaltis ocorreu na semifinal de 1982, quando Alemanha e França empataram no jogo e na prorrogação – por sinal, um 2×2 emocionante no tempo extra. O problema é que, com a evolução das táticas defensivas, os gols rarearam, e as prorrogações, normalmente, são jogadas na base da retranca (ninguém se expõe muito). E acabamos na decisão por pênaltis.

Analisando estatisticamente, nas últimas nove Copas do Mundo (de 1986 até 2018), tivemos 144 jogos em fase eliminatória (a partir das oitavas de final), dos quais 49 (ou seja, 34%) foram para a prorrogação. E 27 destas prorrogações (55%) acabaram em 0x0. Como ainda houve duas prorrogações empatadas em 1×1, o vencedor foi determinado por pênaltis em 29 ocasiões. O que representa 20% dos jogos.

Em resumo, a cada 5 jogos eliminatórios, um é decidido por pênaltis. Em duas vezes o campeão foi decidido assim; Brasil contra a Itália em 1994 e Itália contra a França em 2006.

De médico, inventor e louco, todo mundo tem um pouco…

Não conheço a opinião de vocês, mas eu acho que decidir um campeonato através de cinco chutes da marca do pênalti é uma coisa totalmente divorciada do jogo de futebol em si. E pode ser traumática e manchar carreiras dos “Fulanos que perderam o pênalti decisivo”. Tenho certeza que é possível achar uma forma mais coerente (procuro evitar a palavra “justiça” porque futebol não é exatamente um jogo justo). E vou apresentar a minha.

A ideia é simples; aplicar, para a prorrogação, regras um pouco diferentes das utilizadas para o jogo em si. O objetivo seria facilitar a marcação de gols. Vai exigir muito mais do que treinamento específico de pênaltis; o time todo vai ter que aprender a jogar uma prorrogação (que eu gostaria de chamar de “tie-break”, como já ocorre em outros esportes).

Seriam, basicamente, quatro mudanças simples e, repito, que valeriam apenas para o “tie-break”;

  1. Impedimento só existirá da linha da área para a frente. Com o VAR isto ficou muito mais fácil.
  2. Toda e qualquer falta que seja feita propositalmente, para parar um lance de ataque, será cobrada da meia-lua da área, sem barreira (chance de gol quase tão boa quanto um pênalti).
  3. O mesmo procedimento será adotado a partir da sexta falta coletiva de um time.
  4. Os escanteios serão batidos do ângulo entre a linha da área e a linha de fundo (bem mais próximo do gol).

A ideia é facilitar a vida dos jogadores habilidosos e ofensivos. A primeira regra aumentaria a área para os atacantes jogarem; a segunda obrigaria os defensores a pensar duas vezes antes de fazer uma falta para “matar a jogada longe do gol”; a terceira seria para evitar as faltas bobas que não deixam o jogo fluir e a quarta tornaria os escanteios bem mais perigosos.

Enfim, sem mudar muito as regras, acho que teríamos prorrogações emocionantes, proporcionando muitas oportunidades de gol, decidindo o jogo de uma forma mais coerente, privilegiando quem ataca mais e melhor. E, em caso de empate na prorrogação, poderíamos estabelecer mais dez minutos com “Golden goal”, ou algo assim.

Pode dar certo…

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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Um Comentário

  1. Tenho uma ideia mais simples. Feita a quinta falta em qualquer momento do jogo a sexta tira o faltoso de jogo por 15 minutos. E a partir daí toda falta tira o faltoso por 15 minutos.

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