Pitacos Olímpicos 3 – Um bronze que vale ouro
O dia em que a ginástica artística fez história
Hoje foi um dia histórico para o esporte brasileiro, que pela primeira vez subiu no pódio olímpico na ginástica artística feminina por equipes, conquistando uma extraordinária medalha de bronze, evoluindo de um oitavo lugar em Tóquio.
Sempre que falamos de uma vitória por equipes, a excelência não se deve restringir a um atleta, daí a dificuldade de um resultado como esse, há de se ter consistência e um pódio olímpico não surge de um dia para outro.
A Confederação Brasileira de Ginástica foi criada em 1978 e as nossas primeiras Olimpíadas foram disputadas em Moscou, 1980. Resultados mais expressivos apareceram no começo do século, com Danielle Hipólito conquistando medalha de prata no campeonato mundial disputado na Bélgica, em 2001. Dois anos depois, Daiane dos Santos sagrou-se campeã mundial nos EUA. Diego Hipolyto abriu a série de triunfos na ginástica masculina, com medalha de outro no solo do mundial de Ginástica, em 2005. Sete anos de depois, Arthur Gianetti foi ouro olímpico na prova de argolas, em Londres. Rebeca Andrade levou o Brasil a outro patamar em Tóquio, com uma medalha de ouro no solo e prata no individual geral.
Os resultados acima foram os mais marcantes, mas desde os primeiros brilhos, iniciados há duas décadas com Danielle, Daiane e Diego, o Brasil tem conseguido aparecer com boas colocações em provas individuais nos inúmeros campeonatos mundiais, com o apogeu na prata por equipes feminina na última edição. A chegada ao pódio olímpico é, portanto, a consolidação de um trabalho sério feito há décadas. Não se atinge esse nível de excelência por acaso.
Não é pouca coisa prosperar em um esporte olímpico em um país onde o futebol drena a maior parte dos recursos e atenção. Competir em pé de igualdade com os maiores do mundo por equipes, então, é extraordinário. Certamente o bronze obtido hoje tem as digitais de todos os profissionais e atletas que construiram essa modalidade ao longo das últimas décadas.
Agora vamos às gigantes pequeninas (sim, meu filho de 12 anos é bem mais alto que todas elas): Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Flávia Saraiva, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, treinadas por Chico Barreto e Yrina Yiashenko, dentre outros (eu não consegui encontrar todos os nomes da comissão técnica) que fizeram história com resultado definido somente na última rodada de apresentações. As brasileiras fecharam a primeira metade da competição em sexto e ultrapassaram Reino Unido, China e Canadá para buscar o bronze, a uma distância pequena da prata, que ficou com as italianas, atuais campeãs europeias. Não havia condições de chegar perto das americanas (pelo menos nessas Olimpíadas).
A atuação de Rebeca Andrade, que fará a final individual geral, de salto, solo e trave, foi excepcional. Seguramente teremos mais medalhas com a futura recordista olímpica brasileira! Flavia Saraiva e Júlia Soares também participarão de finais na quinta-feira.
O melhor desse sucesso é que ele será a semente para que novas gerações de atletas de ponta sejam concebidas, além de ajudar a disseminar a prática do esporte pelos quatro cantos do Brasil. Não é somente a formação de campeões olímpicos que conta, mas a construção de adultos que aprenderão princípios de cidadania através da prática esportiva competitiva.
Eu finalizo dizendo que deve ser agonizante ser pai ou mãe de uma dessas atletas durante a prova da trave, que naturalmente as leva ao limite do erro ou de um tombo. São dezenas de segundos de muita tensão para quem está assistindo, imagine se você é parte envolvida emocionalmente. Não menos tensos são os exercícios nas barras, o salto e mesmo a apresentação individual, onde uma pisada fora do lugar pode lhe custar o título. E apesar de ser um leigo no assunto, me entretive ao tentar adivinhar a nota ao final de cada apresentação, baseado nos comentários e na observação das notas concedidas ao longo da competição. Quando a última atleta britânica encerrou seu exercício na trave, que definiria a medalha de bronze, precisando de 13834 pontos, eu já tinha praticamente certeza de que não chegaria. Dito e feito, a nota foi a redor de 13400 e o bronze foi nosso!
Com un pouco mais de exposição da ginástica , nos converteriamos todos em especialistas no assunto. Eu apenas lamento que a mídia brasileira faça uma cobertura decente de eventos não futebolísticos apenas em período olímpico, com um hiato de 4 anos até que sejamos novamente convidados a aprender um pouco sobre outras modalidades e torcer pelos heróis e heroínas que efemeramente saem de seu anonimato usual para os holofotes de um país monoesportivo.
Que o trabalho competente feito pela ginástica brasileira ao longo dos últimos anos sirva de exemplo para que outras modalidades busquem seu lugar ao sol, criando condições para que tenhamos mais competitividade, apesar de toda adversidade existente no Brasil para difundir qualquer esporte diferente do futebol masculino.
Fantástico o trabalho das meninas e de toda a delegação da ginástica, mereceram, todo esporte de alto rendimento exige dedicação e muito sacrifício, sem desmerecer os demais a ginástica creio ser o que mais exija do corpo e mente das(os) atletas.
Parabéns!!!!