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Europa vs América do Sul

Os fãs do futebol tem um fim de semana dos sonhos, com a final da Copa América no sábado, dia 10 de julho, disputada entre duas seleções historicamente rivais, a argentina de Messi contra a brasileira de Neymar, dois dos melhores jogadores do mundo na última década, e a final da Eurocopa, no domingo, entre Itália e Inglaterra, duas das camisas mais pesadas da história do futebol. Os jogos serão disputados nos estádios mais lendários do mundo, o carioca Maracanã e o londrino Wembley.

Parecem dois jogões, igualmente imperdíveis, certo?
Errado.
A distância que separa estes jogos é do tamanho da que separa a Europa e seus países desenvolvidos, da nossa “emergente” (eufemismo politicamente correto que ameniza o realista “subdesenvolvida“) América do Sul.

O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol

Albert Camus

Estas duas finais de campeonatos são uma analogia e metáfora perfeita, para representar o contraste entre os países desenvolvidos e os emergentes.


Durante muitas décadas, havia o consenso de que a América do Sul era um celeiro de craques, onde jogadores naturalmente surgiam com um talento muito superior aos dos jogadores europeus. Nós, brasileiros, assim como os argentinos, tínhamos a habilidade técnica, o improviso, a malícia, a “alegria nas pernas” que era desejada pelos clubes europeus, que vinham comprar nossos craques a “preço de banana”, para reforçar seus elencos, supostamente “cintura dura”, baseados apenas em jogadores com preparo físico, disciplina tática e treinamentos repetitivos.

Esta era a época que America do Sul e Europa dividiam as conquistas, com 9 títulos de copas do mundo para os países sulamericanos e 8 para os europeus, até a copa de 1998, na França. Porém, as últimas 4 edições foram vencidas consecutivamente por países europeus, invertendo o placar mais recente para 12 x 9.

A mesma situação se repetia nos campeonatos mundiais inter-clubes, onde havia um certo equilíbrio de conquistas entre os campeões da Libertadores contra os da Champions League, com destaque para o tri-campeonato mundial do soberano tricolor do Morumbi, que superou gigantes do futebol mundial, de países distintos, o espanhol Barcelona, o italiano Milan e o britânico Liverpool. Mesmo times brasileiros que nunca conquistaram um mundial, como Palmeiras e o Vasco, disputaram jogos bem dignos contra seus adversários, perdendo mais saindo de cabeça erguida.

Porém, na última década, a diferença de nível entre o campeão sul-americano e o europeu, mostra sem sombra de dúvida o quanto ficamos para trás no futebol.

Os sulamericanos se transformaram em meros países exportadores de commodities (jogadores), cujo preço é estabelecido pelos compradores (times europeus) e importamos de volta produtos com valor agregado (direitos de transmissão de campeonatos europeus)

Atualmente, quem aprecia assistir uma partida de futebol bem jogado, e não apenas a sensação de torcer para seu time de coração da infância, prefere acompanhar partidas de europeus do que de nacionais. A molecada joga bola vestindo camisetas de times estrangeiros e se perguntados quem são seus jogadores favoritos falarão nomes como Messi, Cristiano Ronaldo e outros que jogam na Europa. O futebol brasileiro perdeu os corações e mentes deles. Sofrer por um Grêmio no Z4 ou um Cruzeiro na série B virou … Cringe !

Os times europeus, mais do que contratarem os melhores jogadores de todos os países do mundo, progrediram em todos os aspectos do futebol, tanto esportivos como comerciais, e hoje suas partidas são eventos que dão prazer de serem assistidas, tanto presencialmente como por televisão, em qualquer país do mundo. Movimentam um volume absurdo de dinheiro, mas entregam um produto à altura em termos de valor.

A comparação é cruel, entre partidas da Champions ou de uma Premier League, com as da Libertadores ou do Brasileirão. A frase mais dita nas últimas 3 semanas foi “parece outro esporte“. Acompanhamos com prazer os jogões da Eurocopa e mal lembramos que uma Copa America está sendo disputada simultaneamente.


Enquanto os grupos de Zap deliravam com a alta energia dos lances das partidas entre Alemanha, Espanha, Itália, França e Inglaterra, as notícias sobre a Copa America giravam em torno do péssimo estado dos gramados nos estádios brasileiros escolhidos atabalhoadamente como sede das partidas, o número de casos de covid19 constatados nas delegações por irresponsabilidade dos jogadores e comissões técnicas no não cumprimento dos protocolos sanitários ou o uso político da competição e disputas comerciais entre emissoras de TV concorrentes que não tem os direitos de transmissão do evento.

O fato é que, enquanto a Eurocopa é a celebração do início da volta da vida ao normal no continente, a Copa América explicita todo o atraso e erros que vêm sendo cometidos nos nossos países em relação à pandemia de covid19.

Lá na Europa …

A Eurocopa foi adiada de 2020 para 2021, em função da pandemia de covid19.

De lá para cá, os países europeus, tomando as medidas corretas, conseguiram controlar a pandemia, reduzir os números de casos e óbitos e adiantar a vacinação. Com planejamento e antecipação, optaram por se adaptar a este tempo excepcional, e organizaram uma edição atípica, com jogos em 11 sedes de diferentes países, seguindo as regras sanitárias de acordo com o nível da pandemia de cada cidade.

Não por acaso o filé mignon, as partidas de semifinais e final serão disputadas no país mais adiantado na vacinação do continente, a Inglaterra, que terá 60 mil torcedores em Wembley no domingo, para assistir o English Team contra a Azzurra.

Os Deuses do Futebol, reconhecendo todo este esforço e boa organização , premiaram as duas seleções que praticaram o melhor e mais bonito futebol durante todo o torneio. E, elas não alcançaram isso por acaso ou sorte. É o resultado do trabalho realizado ao longo dos últimos anos no futebol dos dois países, que transformou a Premier League no melhor campeonato nacional do mundo e com uma renovação no trabalho de base com os jogadores juvenis ingleses, e da reinvenção do calcio italiano, após o fiasco da não classificação para a copa 2018,

Seja quem for o vencedor, para mim a imagem icônica desta edição é esta foto, o ídolo inglês Harry Kane comemorando o gol que sacramentou a vitoria contra a Alemanha, quebrando um tabu de décadas, tendo ao fundo torcedores vibrando de emoção com a conquista, ao vivo, lotando as arquibancadas de Wembley:

Gol de Harry Kane , Inglaterra x Alemanha

Enquanto isto, ao sul da linha do Equador…

Esta Copa América nem devia estar sendo disputada. É a 4ª edição da competição em apenas 6 anos, foi adiada de 2020 para 2021, por conta da pandemia, e tinha como sedes originais Colombia e Argentina, que sucessivamente desistiram de organiza-la em cima da hora, por razões distintas, e foi improvisadamente transferida para o Brasil, por interesses extra-esportivos da CBF e governo federal. E, como não poderia ser diferente, em função dos elevados números da pandemia no país, os jogos estão sendo disputados sem torcida nos estádios. É um combo perfeito, uma coletânea de tudo de errado que está sendo feito por este lado do mundo nos últimos tempos.

Uma final Brasil versus Argentina é a cereja deste bolo que desandou. O único jogo com alguma atratividade, em função da histórica rivalidade no futebol entre os dois países. E, até nisso, esta edição está conseguindo ser única. Muita, mas muuuuiiitaaaa gente que eu conheço vai torcer sábado a noite pra vitoria … dos nossos hermanos!!!

Alguém conseguiria imaginar isso, tempos atrás?! Brasileiros … torcendo … para a Argentina … Ar gen ti naAR GEN TI NA … num jogo de futebol contra o Brasil?!

Esta é outra irônica metáfora do atual momento brasileiro, de extremo radicalismo. Dois famosos ex-futebolistas que participaram de copas do mundo pela seleção, o atual dublê de comentarista esportivo e fiscal da opinião alheia de não-esquerdistas Casagrande e o Mario Jorge “Vocês vão ter que me engolir” Zagallo tem opiniões opostas sobre torcer contra ou a favor da seleção canarinho do Menino Ney (clique na legenda da imagem para assistir o que cada um diz):

Pois é … os motivos alegados para isso acontecer são inúmeros … esportivos, políticos, emocionais … melhor nem comentar aqui… eu só vou confessar o meu : acho o Neymar insuportável!

Epílogo…

A final, melancolicamente, será disputada no Maracanã vazio, sem público, na noite de sábado.
Espere … eu disse … vazio, sem público?!

A partida distribuirá 5.500 ingressos para “convidados”: 2.200 para a federação de futebol de cada país e 1.100 para os patrocinadores da competição.

Estamos na América do Sul , lembram ? Aquele continente onde todos são iguais entre si … mas, alguns, são mais iguais que outros.

A Revolução dos Bichos, George Orwell

No jogo da final da Copa America , sua torcida será:

  • Brasil (62%, 24 Votos)
  • Anti-Neymar (18%, 7 Votos)
  • Argentina (15%, 6 Votos)
  • Jogo? Que jogo? (5%, 2 Votos)
  • Pró-Messi (0%, 0 Votos)

Total Votos: 39

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Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

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