CinemaCultura

A Cidade Luz na sala escura de cinema

Emily, da série da Netflix, nos faz lembrar da Paris de Amélie, de Jesse e Céline, de Quasímodo e Esmeralda e de outros que trago aqui no meu Top10 de filmes com cenas na capital de l’amour!

Estou curtindo muito a série Emily in Paris. Mas se a protagonista Emily é fofa, o maior destaque mesmo, para mim (e muita gente), é a segunda parte do título: Paris.

Ah, Paris! Ah, Catedral de Notre-Dame, Torre Eiffel! Ah, Tuileries, Museu d’Orsay, Louvre! Ah, cafés, ruas, palácios, Les Deux Magots, Montmartre, Versailles!… Por mais que eu e a Viviane tentemos fazer planos de viagens futuras a lugares nunca dantes pisados por nossos pezinhos, a Cidade Luz teima em se colocar no meio. Minha esposa já leu tantos livros sobre a capital francesa que está uma connaisseuse. E aí que, vamos finalmente percorrer o Vale do Loire? Meta-se nesse plano ao menos três dias em Paris! Destino: São Petersburgo? Já que vamos à Europa, Paris tá ali! Melhor conexão em direção à Austrália? Paris, claro!

Ok, que a série da Netflix tem outras qualidades. Ela meio que subverte uma regra básica de comédia que diz que o protagonista deve ter uma falha essencial que nunca consegue corrigir, o que faz com que ele se ferre o tempo todo; daí a graça. Emily não, ela é uma verdadeira heroína, que, apesar das diferenças culturais, tem as ideias que se mostram acertadas; e ela sempre se dá bem. Isso faz com que o seriado fique mais leve, creio eu, diferenciando-se de um padrão, comum hoje em dia, pelo qual até as comédias andam muito complexas e pesadas. Diz-se que alguns franceses reclamaram que a obra os detrata, rotulando-os de antipáticos. De fato, há sim um maniqueísmo, mas garanto que os efeitos do sucesso da série para atrair turistas e dinheiro para Paris serão absolutamente positivos. É impossível ver um episódio da série e não ter vontade de, no mesmo dia, pegar o primeiro avião com destino à felicidade!

Mas enquanto não podemos viajar, lá vou eu novamente de Top10, dessa vez de filmes com cenas que se passam em Paris, pode ser?

Assim como Emily, alguns longas mostram americanos enfrentando dificuldades na capital francesa. No pioneiro do besteirol Férias Frustradas na Europa (National Lampoon’s European Vacation, 1985), a família faz uma visita a jato ao Louvre, pois só têm 15 minutos; um garçom lhes diz obscenidades em francês; e o pai, ao jogar uma boina do topo da Torre Eiffel, faz com que um cachorrinho pule atrás para pegá-la (o bichinho sobrevive, claro). Impagável!

Recentemente, uma pequena joia do humor, Perdidos em Paris (Paris Pieds Nus, 2016), também mostra uma canadense perdidona na Cidade Luz. É praticamente uma comédia chapliniana, com poucos diálogos, humor físico e um lirismo irresistível. Entre as comédias, no entanto, preferi colocar no ranking, embora a cena seja curtinha, o ótimo indie Frances Ha (2012) onde a atrapalhada protagonista resolve, de impulso, passar o fim de semana em Paris, mas, ao chegar, a diferença de fuso a faz dormir demais e mal aproveitar a cidade. Essa sim, se ferra o tempo todo! E a situação melancólica em plena capital do amor é um retrato desse belo filme!

Uma premissa semelhante ocorre no episódio da série Gilmore Girls no qual Lorelai, em Paris, cai no sono com o namorado Chris, devido também ao jetlag, e acorda de madrugada morrendo de fome e sem opções. Nesse caso, a solução de Chris, que suborna a equipe de um restaurante chiquérrimo para abrir às 5 da manhã só para os dois, é bem romântica, como a cidade merece!

Falando em romantismo, não podiam faltar no meu ranking Jesse e Céline, do clássico Antes do Pôr do Sol (2004). O filme, de uma trilogia que mostra a evolução de um casal de dez em dez anos, é basicamente um longo diálogo pelas ruas da cidade. Mas que diálogo, a química intelectual dos dois é invejável! E um tour pelo caminho que eles percorrem no filme está na minha lista de “um dia eu faço”!

Outro campeão dos românticos é O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). Quem não se encanta com a jovem cheia de manias pelas ruas de Montmartre?

Aliás, esse bairro boêmio é também palco de um clássico com Gene Kelly: Sinfonia de Paris (An American in Paris). O musical de 1951 quase entrou na lista, assim como outro da mesma época: Cinderela em Paris (Funny Face, 1957) com Fred Astaire fotografando Audrey Hepburn ao lado da estátua da Vitória de Samotrácia, no Louvre, memorável! Curiosamente, esse filme é assistido por Lorelai e Chris em outro episódio romântico de Gilmore Girls, no qual ele concebe um drive-in improvisado só para ela. Ooh-la-la

Bem que Lorelai tinha lembrado “Sempre teremos Paris”, citando outro classicaço: Casablanca (1942), esse sim foi para a lista. Novamente, embora as cenas em Paris sejam curtas, são marcantes. Quem não se lembra de Humphrey Bogart aguardando Ingrid Bergman na estação de trem, porém recebendo dela somente um bilhete de despedida, cujas letras se desmancham com a chuva?

Mas e aí? Deixei de fora os musicais? Não, acabei colocando uma paródia; porém, uma de classe: Todos Dizem Eu Te Amo (1996), de Woody Allen. De novo, a cena é curta, apenas de Woody e Goldie Hawn dançando às margens do Sena. Mas o cineasta realiza o que nem Fred Astaire nem Gene Kelly haviam feito: um dueto romântico de dança desafiando a lei da gravidade. É uma cena mágica que qualifica sem dúvida o filme para a lista!

Mudando de estilo, qual seria a melhor cena de ação na Cidade Luz? Seria de 007 – Na Mira dos Assassinos (A View to a Kill, 1985), no qual Grace Jones escapa do James Bond de Roger Moore pulando de paraquedas da Torre Eiffel e, depois, após uma perseguição em que o carro do agente se despedaça, ele a perde em um bateau mouche? Ou no tosco G.I. Joe (2009), no qual um míssil com uma arma química corrosiva simplesmente causa a queda monumental da torre famosa?

Ou ainda em Armageddon (1998), em que um meteoro causa a aniquilação de toda Paris, numa bela cena, de fração de segundos?

Preferi colocar Superman II, o de 1980, no qual terroristas colocam uma bomba atômica no elevador… de onde? Sim, sempre ela, a Torre Eiffel. Pior que o inesquecível herói de Christopher Reeve, ainda nos EUA, quando ouve do atentado em andamento fica suave na nave, e só se mexe quando sabe que Lois Lane, ambiciosa por um Pulitzer, está lá, na boca do perigo. Aí, não!, mexeu com Lois, mexeu com o Superômi! Logo, enquanto o elevador da Torre Eiffel despenca com a bomba e a jornalista dentro, o herói atravessa o Atlântico, salva a mocinha e decola com o elevador para o espaço sideral, onde a bomba explode (e acaba libertando o arqui-inimigo Zod). Hahaha, muito bom!

Mas chega de Torre Eiffel (mentira, eu não disse isso), e vamos a outras maravilhas. Apesar de Versailles não ficar em Paris, mas nos arredores, não dá pra deixar de fora Maria Antonieta (2006), onde o palácio e seus jardins se mostram em todo o seu glamour. Só é comparável à interpretação da Kirsten Dunst, que traz uma aura de carisma, de elegância e até de tristeza para a controversa rainha.

Que mais? Deixei de fora o intrigante uso do Louvre em O Código da Vinci (2006) ou o palco do intenso musical Moulin Rouge (2001), ou ainda a estação de Montparnasse no visual incrível de A Invenção de Hugo Cabret (2011) e chegamos a meu lugar favorito: a imponente e histórica Catedral de Notre-Dame. E, claro, o filme tem de ser O Corcunda de Notre-Dame. A dúvida é: qual versão? Poderia colocar a animação da Disney de 1996 que abusa da câmera explorando em 360 graus de forma maravilhosa a catedral gótica e a Paris medieval.

Mas preferi elencar o clássico de 1939, para o qual foi construída em estúdio uma réplica perfeita da Catedral e daqueles arredores de Paris. Adoro! Eu me sinto o próprio Quasímodo, apaixonado pela Esmeralda da Maureem O’Hara, que nos hipnotiza em sua dança pelas ruas da Île de la Citê.

E para não dizer que deixei de fora as animações, está lá o inesquecível Ratatouille (2007), o excelente filme da Pixar sobre Rémy, o ratinho com dons de chef. Embora não mostre tanto da cidade, o espírito parisiense, apaixonado e gourmet, está sempre presente. E aí, à saudade dos lugares soma-se a vontade de aproveitar melhor outro monumento da cidade: a sua famosa gastronomia (que, espero, esteja trazendo paladares diferenciados também a nós, os vegetarianos e veganos!).

Enfim chegamos ao campeão do meu ranking, esse mais manjado e presente em várias outras listas, mas que não consegui deixar de colocar no meu number-one: Meia-Noite em Paris (2011). Mais um Woody Allen, sobre americano que viaja no tempo para a Paris fervilhante de gênios da arte e literatura nos anos 1920. Imagino como deva ser essa sensação, ainda mais agora que estou lendo Paris é uma Festa, de Ernest Hemmingway, recomendação da minha guia favorita de Paris, a Viviane. Está dando vontade de ver de novo o filme!

E, caramba, se outros filmes nos fazem planejar viagens a Paris, esse também nos faz exigir, e pra já, uma máquina do tempo no pacote, pra conhecer não só o meio intelectual dos anos 1920, mas o dos anos 1960, os escritores e artistas impressionistas do século XIX (que também dão o ar da graça no longa), até a pobre menina rica Maria Antonieta! E, por que não?, uma máquina que nos transportasse para a ficção, para curtirmos os caminhos da cidade com Jesse e Céline, com a Lorelai, com a Amélie, sobrevoando com Lois Lane, provando os pratos de Rémy, tocando o sino com Quasímodo, babando com a dança da cigana Esmeralda e ouvindo do Rick, de Humphrey Bogart, e de Ilsa, de Ingrid Bergman, que, sim!, “Sempre teremos Paris”! Ah, numa viagem dessa, eu teria mais posts viralizados que a Emily in Paris, heim?!

Segue então como ficou meu ranking Top10 de filmes com cenas marcantes em Paris.

  1. Meia noite em Paris (2011)
  2. Antes do pôr do sol (2004)
  3. O Corcunda de Notre-Dame (1939)
  4. Todos dizem eu te amo (1996)
  5. Ratatouille (2007)
  6. Superman II – A Aventura Continua (1980)
  7. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)
  8. Casablanca (1942)
  9. Maria Antonieta (2006)
  10. Frances Ha (2012)

E vocês? Assistiram a esses filmes? Ficaram com vontade de ver algum? E de ir a Paris? Estão assistindo Emily? Esqueci de alguma obra? Commentez, mes amis!

Vladimir Batista

Vladimir Batista é escritor, professor e cinéfilo. Após 25 anos trabalhando como engenheiro em multinacionais de tecnologia, resolveu abraçar sua paixão de infância pelas palavras e por contar histórias e segue carreira na área de Letras e Literatura. Gosta de filmes e livros de gêneros variados, atendeu a vários cursos e oficinas de roteiros de cinema, de série e de técnicas de romance e tem um livro publicado pela Amazon: “O Amor na Nuvem De Magalhães”. Vladimir é casado, vegetariano e “pai” de cachorros resgatados.

Artigos relacionados

6 Comentários

  1. Já que vc está nesta vibe, vc já ouviu falar de um livro chamado “Próxima estação: Paris”?!?! Ele reconta a história da cidade por suas estações de metrô… É uma delícia!!!!!

    1. Ana, vou responder aos moldes do Sílvio Santos: eu não li, mas minha esposa leu e adorou! Obrigado pela indicação, também fiquei curioso! Como eu disse no post, a Viviane está uma rata de livros sobre Paris. Fui perguntar para ela sobre esse livro e ela pediu para indicar outro pra você: “A Luz de Paris”, de João Correia Filho. Segundo ela, é o melhor dessa leva sobre o tema, fica a dica!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
%d blogueiros gostam disto:
Send this to a friend