Filosofia de boteco

A riqueza da incerteza

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A única garantia que temos na vida é que vamos partir desta para melhor um dia (ou pior, dependendo de nosso histórico…). Nada mais é certo. Em tese, deveríamos transitar confortavelmente pelos períodos de incerteza, pois no fundo eles nos acompanham a maior parte do tempo, mesmo que de maneira camuflada. Na prática, ocorre geralmente o contrário: o nível de stress, a insegurança e o azedume se amplificam nessas horas.

É intrigante o nosso apego ao que é conhecido, como se fosse um porto seguro eterno, incapaz de nos proporcionar surpresas negativas. O ‘mal’ conhecido é geralmente mais bem-vindo que o incerto. Isso deriva da natural resistência das pessoas à mudanças. Em geral, preferimos que as coisas fiquem como estão. Revolucionários, visionários e empreendores não seguem essa regra e são os principais causadores dos grandes avanços da humanidade.

incerteza2O mais contraditório nessa aversão que temos à incerteza (e indiretamente à mudança) é que nos momentos em que ambas batem vigorosamente à nossa porta, experimentamos ‘surtos’ de criatividade e adrenalina que normalmente não estão presentes durante o  sossego efêmero dos momentos de estabilidade. Pensamos em planos alternativos, planejamos contingências para momentos de crise, ficamos alertas à qualquer possibilidade que nos devolva a tranquilidade perdida. Durante esse fase de intensa movimentação ‘cerebral’, crescemos como indivíduos. Pergunte a qualquer navegador se é na calmaria que ele adquire experiência…

Pois mesmo sendo um período extremamente rico em situações que nos tornarão pessoas melhores – ou no mínimo mais experientes – detestamos a incerteza. Poucos dominam a arte de confrontá-la com maestria, dosando paciência e sagacidade à espera do momento certo para liquidá-la. Quanto mais ‘versado’ o sujeito é em situações desse tipo, maior seu domínio sobre as emoções negativas que esses momentos teimam em nos transmitir. Precisamos evitar a ‘contaminação’.

Não estamos nessa vida a passeio. Não há como fugir dos altos e baixos, e da montanha russa de emoções que eles nos proporcionam. Muitas vezes temos a tendência de idealizar a ‘grama do vizinho’, julgando-a mais verde que a nossa e tomando como verdade que há pessoas cuja vida é um contínuo vôo em céu de brigadeiro. Doce ilusão. Todos somos submetidos à pitadas de inferno astral intercaladas com sopros de felicidade.


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O algoz da incerteza é a paciência. Se a utilizarmos para blindarmos o ‘surto de criatividade e intensidade’ contra as emoções majoritariamente negativas que acompanham as horas ‘incertas’, um passo importante para que tornemos a incerteza um elemento inócuo em nossas vidas será dado. O outro passo é manter nossa mente em alta rotação, permitindo que as famosas tempestades cerebrais nos proporcionem soluções criativas e auto-confiança para seguir em frente, prontos para encarar o desafio da nova incerteza que cedo ou tarde renascerá diante de nós, desafiando-nos mais uma vez, contribuindo decisivamente para enriquecermos nossa história…

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Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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3 Comentários

  1. Muito bom. Enquanto eu lia o texto em um momento pensei ” Com experiências adquirimos paciência e chegamoremos perto da calmaria” e logo na seqüência da leitura veio “Pergunte a qualquer navegador se é na calmaria que ele adquire experiência…”. Mais um excelente texto para refletir …

  2. Sem duvida um texto para reflexão permanente, continua… Ontem mesmo recebi um email do meu chefe ( que tem o habito de nos enviar mensagens semanais) que dizia “a ship is save in the harbor, but that’s not what ships are for”… Abcs

  3. Vitão…como de costume o seu texto é muito bom; além disso, você é uma das raras pessoas que eu conheço que consegue ser objetivo e com um portugués de muito boa qualidade.

    Um fator determinante para reagirmos negativamente a qualquer tipo de mudança é diretamente proporcional à expectativa que temos; se imaginamos que a mudança poderá nos trazer algum desconforto, imediatamente a rejeitamos, sem interesse em maiores detalhes. Entretanto, se o inverso acontece (às vezes até com avaliação errônea), isto é, se achamos que a mudança vai nos proporcionar um bem estar, abraçamos esta mudança de imediato. Entendo que expectativas e convicções pessoais determinam o nosso grau de adaptação às mudanças.
    Again, congratulations! Abs

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