A ineficiência brasileira gera renda. Perguntem às oficinas mecânicas que consertam milhares de rodas tortas e suspensões danificadas pelas esburacadas ruas do país, aos advogados das partes envolvidas nas milhares de ações trabalhistas, uma verdadeira indústria subsidiada por leis estabelecidas há quase 80 anos, ou ainda, aos cartorários, sorvedouros do monstruoso custo da burocracia tupiniquim.
A mesma ineficiência gera emprego. Basta verificar o imenso contingente de profissionais dedicados a assuntos tributários, cuja existência se justifica para entender e desvencilhar o emaranhado de leis absurdas e muitas vezes incoerentes (uma das áreas em que nosso governo opera no ‘estado da arte’ é na arrecadação e criação de impostos).
A violência no Brasil gera renda. Perguntem aos vidraceiros que repõem as peças arrebentadas dos milhares de carros arrombados diariamente por essas bandas. Ou às lojas de relógio, bolsas, carteiras e celulares, objeto de furtos e assaltos que passam aos borbotões (se bem que muitas vezes esses itens são adquiridos no exterior, onde se paga no máximo um terço do preço). Irrefutável é o faturamento adicional obtido pelas empresas de blindagem, especialidade típica de países em guerra civil.
A mesma violência gera emprego. Perguntem às empresas de segurança, responsáveis por escalar milhares de profissionais para ficar à espreita da bandidagem em guaritas, carros de vigília, ou mesmo sob um sol tórrido guardando garagens e portões. Ou aos ferralheiros que constroem edículas, com portões duplos, quase gaiolas, instalados na maioria dos condomínios do país, normalmente protegidos com muros altos e arames farpados.
Se estivéssemos em um país ‘civilizado’, boa parte dessa renda e emprego seriam transferidos para atividades de maior valor agregado. Toda a sociedade se beneficiaria. Mas o nosso flerte com o atraso é histórico, e não há sinais no horizonte de que as situações descritas acima se modifiquem. Esse é o Brasil, país da contradição, da tolerância, da impunidade, da violência, do pleno emprego, do círculo vicioso….do atraso…
