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Tudo que você queria perguntar s/ a Pfizer e que podia ser conspiração

Estou aqui apenas falando a vacina da Pfizer do ponto de vista científico. Não é minha ideia nem minha praia debater sobre a obrigatoriedade ou o passaporte vacinal. Não tenho particular interesse sobre esse tema e nunca escrevi sobre isso, nem irei escrever….

Não sou médico, mas a época em que vivemos oferece um universo infinito de informações na Internet para pessoas persistentes, curiosas e interessadas. E foi o que eu fiz ao longo de quase 2 anos: pesquisei e li muitos artigos e papers sobre Covid-19.

Quem duvida da acurácia destas informações, pesquise por si próprio em vez de confiar em disse me disse.

Só não vale apelar para Robert Malone ou algum médico maluco que poste vídeos para tentar um lugar ao Sol ou alguma mensagem alarmista do WhatsApp.

1) E como as vacinas funcionam (ou não) com a ômicron?

Essa é a pergunta mais importante, a que inicia esta lista e cuja resposta é mais extensa.

Bem, a ômicron é menos grave, mesmo para os não vacinados. Dito isso, as vacinas atuais perderam parte da eficácia porque a mutação da proteína spike foi relativamente grande (tanto que a vacina da Pfizer está sendo atualizada, com previsão para março), mas, mesmo assim, a vacina diminui a quantidade de casos em relação aos não vacinados, mas é ainda mais efetiva para evitar hospitalização e morte; especialmente quando a última dose foi mais recente (que é, em geral, o caso da dose de reforço – booster).

A ômicron castigou bastante os EUA, que tem mais casos em número absoluto (mais de 80 milhões de casos) do que qualquer outro país. Lá chegou a passar de 2.630 óbitos diários em 30 de janeiro de 2022 na média móvel de 7 dias.

Há nos EUA uma expressiva parcela da população (inclusive idosa) que se recusou a tomar a vacina.

Pouco mais de 11% das pessoas acima de 65 anos não completaram o ciclo vacinal de 1 dose (Jansen) ou 2 doses (as outras). 34% não chegaram a tomar a dose adicional, como se posteriormente tivessem mudado de ideia ou por não ser cobrado a tomar.

Desse modo, existe lá um excelente laboratório em tempo real perfeito para analisar a efetividade da vacina.

Vamos examinar com uma lupa os dados mais recentes relativos à eficácia vacina, originários do CDC, o órgão oficial de pesquisa médica nos EUA:

Se alguém achar que isso é uma conspiração do Big Pharma para nos extorquir, esqueça…

Em resumo, pessoas acima de 65 anos estão especialmente fragilizadas sem a vacina e mesmo com as 2 doses, em geral ministrada há um certo tempo: a chance de falecer com Covid-19 é quase 27 vezes maior do que sem vacina e pouco mais de 6 vezes para quem tomou as 2 doses.

A seguir, faço uma conta simples, sobra a qual existem vieses, mas que dá uma ordem de grandeza da letalidade da ômicron para idosos (65 anos ou mais) nos EUA dentre os que não estão vacinados, ignorando casos assintomáticos ou não notificados, desprezando a diferença da defasagem da métrica entre casos e óbitos.

f tem vieses pela janela temporal entre c e o, mas funciona para ordem de grandeza.

A letalidade de 0,45% foi estimada dividindo-se os óbitos dos últimos 15 dias com os casos em um período de 15 dias, mas com 15 dias de defasagem nos EUA e está em linha com outras medições que fiz.

Para entender que a ordem de grandeza da letalidade de não vacinados acima de 65 anos na ômicron não é baixa, basta imaginar que a letalidade geral de 0,45% quando limitada da maneira descrita, necessariamente leva a um número bem mais elevado que os 0,45%.

Quanto à diminuição da efetividade com o tempo após a última dose, ela é real e o CDC norte-americano acaba de divulgar dados bem recentes aqui.

A conclusão mais importante é que, durante o período de predominância da ômicron, a efetividade da vacina contra atendimento de emergência e hospitalizações associadas a COVID-19 foi de 87% e 91%, respectivamente, até 2 meses após uma terceira dose e diminuiu para 66% e 78% no quarto mês após uma terceira dose.

Se alguém procurar dados na Internet busque dados ajustados por idade (age-adjusted) e em proporção à população alvo (X casos/óbitos/etc. para 100.000 pessoas com o mesmo status vacinal). Não adiantam exemplos com números absolutos.

2) Vacina tipo RNAm não é uma tecnologia muito nova?

Sim, mas essa tecnologia relativamente nova vem sendo gestada há mais de 30 anos. A Covid-19 deu uma acelerada em pesquisas que já estavam bem avançadas. E foram muitos atalhos passando por cima de burocracias inúteis, muito foco e muito dinheiro.

3) Foram pulados testes essenciais?

Não, de modo nenhum. Houve as fases I, II e III e agora a IV, no mundo real. Todas foram e estão sendo bem sucedidas. No total, foram mais 10,5 bilhões de doses.

4) O que a vacina da Pfizer contém?

Nada mais é do que RNAm, capa lipídica e excipiente. Excipiente é a parte “inútil” da vacina, mas que dá a consistência e estabilidade apropriadas.

5) Para onde vai a vacina da Pfizer no corpo?

O RNAm entra em células do corpo, mas NÃO entra no núcleo (o vírus entra). No citoplasma vai para o ribossomo, que contém a fábrica de proteínas no corpo, que é ativado quer o RNAm seja externo ao corpo (como uma vacina), quer tenha sido produzido pelo próprio corpo. O RNAm é um velho conhecido daqueles que se lembram da biologia do ensino médio!

6) Como a vacina funciona?

O RNAm contém o código que descreve a proteína (sua cadeia de aminoácidos), como se fosse um emissário. Dentro do ribossomo, produz-se a proteína spike igual ao que o vírus da Covid-19 tem. Os “operários” no ribossomo são o RNA ribossômico, envolvido na síntese da proteína e o RNA transportador, que transporta os aminoácidos, os tijolinhos da proteína.

7) A vacina pode alterar o DNA ou deixar restos?

O RNAm não se reproduz, nem altera o DNA ou deixa memória do DNA (afinal, o DNA da célula está no núcleo!). A vacina termina sendo destruída completamente junto com a capa lipídica em bem pouco tempo. A proteína spike também é eliminada rapidamente porque não se origina de um vírus que se reproduz.

8) Qual a finalidade de produzir a proteína spike?

A proteína spike, fabricada pelo corpo a partir da vacina, é um corpo estranho, o que leva o corpo a reagir e a prepará-lo a partir de mudanças no sistema imunológico para combater o vírus de verdade (se ele vier) a partir do ataque a uma de suas proteínas: a proteína spike.

Se a pessoa já tiver tomado vacina ou pegado Covid-19 antes, a proteina spike funciona como uma reciclagem para profissionais: faz o exército do corpo ficar novamente afiado.

A única herança do vírus é a mudança perene no sistema imunológico, que infelizmente diminui com o tempo.

9 ) Por que não funciona em todo o mundo?

Apesar de eficiente, é óbvio que a vacina depende um pouco da imunocompetência do corpo, dentre outras coisas. Cada indivíduo é único. Há pessoas que não estão bem nesse quesito, especialmente um percentual de idosos. Isso vale para qualquer vacina!

10) Por que foi escolhida a proteína spike?

Porque é a proteína que fica na membrana do vírus, portanto mais “visível” para o “exército” (“glóbulos brancos”, como se chamava antigamente) do corpo.

11) Quais são os possíveis efeitos da vacina da Pfizer.?

Ora, como ela produz uma proteína que existe no vírus, é natural que ela cause o mesmo efeito que a Covid-19 produz em alguns pacientes, dentre aqueles que são ligados à proteína spike.

12) E que efeitos são esses?

Provocar miocardite ou pericardite, embora em percentual bem menor que a Covid-19, porque o RNAm da vacina não se multiplica.

13) Há mortes por miocardite/pericardite vacinal?

Sim, embora bem raras. Houve alguns casos em adultos, mas nenhum caso fatal em crianças que seja confiável. E, em geral, é uma miocardite / pericardite bem leve.

14) Há morte súbitas ou AVCs por causa da vacina?

Não, isso são especulações malucas dos antivacinas. Não há nada que ligue as vacinas a esses eventos onde a vacina seja rotulada como causa, embora vacinados não são imortais e podem morrer de AVC ou morte súbita. Morrem muitos por anos deste males desde sempre, quer sejam vacinados ou não.

15) E as tromboses de que tanto se fala?

Basicamente não está associado à vacina da Pfizer, ela ocorre apenas para Jansen e Astrazêneca em proporções bem pequenas. Existem casos raríssimos suspeitos em vacinados com Pfizer que estão sendo investigados.

16) Quais outros efeitos mais graves têm alguma relevância?

De importante, no caso da Pfizer, só a possibilidade de choque anafilático, que é bem raro e que poucas vezes têm levado à morte. Sempre haverá pessoas insuspeitas que são alérgicas a algo que elas nunca descobriram. Não ocorre, em geral, nos doentes de Covid-19, porque o vírus começa em pequeno número e depois se multiplica. É algo mais gradual do que uma vacina.

✮✮✮

O resto é histeria de uma parcela de pessoas que, para defender seus pontos de vista fora do campo científico, quer demonizar a vacina tratando-a quase como se fosse um veneno.

Shatner's Toupee: That's all Folks!

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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6 Comentários

  1. Observar o terceiro parágrafo após a primeira tabela, está confuso ou tem erro na publicação.
    Ainda acredito que se denomina como vacina uma substância que se inocula para se obter imunidade. Nenhuma das disponíveis provoca esse efeito, portanto nenhuma deveria ser chamada de vacina. Uma vacina contra a pólio evita que se contraia a doença, então essa é uma verdadeira vacina, as atuais não deveriam ter essa falsa denominação, evitando percepção errônea de imunidade.

    1. Oi, Francisco,
      Obrigado por apontar o erro. De fato, a tabela estava com erro de cálculo da taxa de não vacinados s/ vacinados s/ booster. Eu corrigi.

      Quanto à eficácia da vacinas, você está enganado. Nenhuma vacina anterior é 100% eficaz.
      Veja o caso da vacina da pólio (https://www.cdc.gov/vaccines/vpd/polio/hcp/effectiveness-duration-protection.html). Estima-se que ela é 90% eficaz, e não 100%.

      E vacinas antigas também provocam mortes raras. É que hoje tem redes sociais e há pessoas sequiosas em divulgar qualquer dado que potencialmente possa prejudicar a reputação das vacinas, sendo que o leitor, em geral, não tem visão estatística para relativizar casos isolados.
      (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK236284/)

  2. TEU TEXTO ME LEVOU, CLARO, A ACESSAR ALGUNS LINKS SUGERIDOS COMO IMPORTANTES COMPLEMENTARES COMO O – https://www.nature.com/articles/d41586-021-02483-w – E DEPOIS OUTROS COMO “Desbloqueando o potencial das vacinas construídas no RNA mensageiro – A tecnologia pode ajudar a aumentar a imunidade contra câncer, gripe e muito mais” E OUTROS DE ONDE CAPTEI: “As vacinas fabricadas pela Pfizer e BioNTech e pela empresa farmacêutica norte-americana Moderna usam mRNA que codifica a proteína spike, que se acopla às membranas das células humanas e permite que o coronavírus invada a célula.
    DIANTE DISTO, APESAR DE NÃO TER AVANÇADO MUITO NA LEITURA ME SURGIU UMA DÚVIDA COMO PORTADOR DE CÂNCER.
    – SE AS VACINAS PARA COVID19 QUE TOMEI NAS TRÊS DOSES, ATÉ AGORA, TEM tecnologia pode ajudar a aumentar a imunidade contra câncer, gripe e muito mais – PODERIAM ELAS IR ALÉM DO QUE ATUAR COMO CONTROLE DO CONTROLE DA SARS COVID E TER COMBATIDO TAMBÉM AS CÉLULAS CANCERÍGENAS NO MEU ORGANISMOS. MEUS ÚLTIMOS EXAMES LABORATORIAIS DE CONTADOR DE CELULAS CEA3 TIVERAM ÍNDICE (1) MUITO ABAIXO DO (5) CONSIDERADO LIMITE DO NORMAL. TEM ALGUMA PISTA ONDE EU POSSA ESCLARECER MAIS A MINHA DÚVIDA?

    1. Sim, está sendo especulado que o RNAm, que tem o potencial de produzir qualquer proteína que se queira, teria um potencial importante no tratamento contra o câncer, com uma abordagem ligeiramente diferente.

      Há vários artigos publicados sobre o tema, todos eles de 2021

      1) Virus-Mimic mRNA Vaccine for Cancer Treatment – https://bit.ly/3I9Au5s
      2) From COVID-19 to Cancer mRNA Vaccines: Moving From Bench to Clinic in the Vaccine Landscape – https://bit.ly/3BySKTj
      3) RNA cancer vaccines: developing mRNA nanovaccine with self-adjuvant property for cancer immunotherapy –
      https://bit.ly/3H672fl
      4) mRNA vaccine for cancer immunotherapy – https://bit.ly/3gZc3eL
      5) mRNA COVID-19 vaccine: A future hope for cancer treatment – https://bit.ly/3H675rx

        1. Desculpe-me, mas não encontrei nenhum artigo relatando qualquer efeito da vacina de RNAm contra o câncer, até mesmo porque a proteína spike não tem qualquer propriedade antitumor. Pelo contrário, artigos debatem se o câncer interfere na vacina e a resposta basicamente é não.

          https://jnccn.org/configurable/content/journals$002fjnccn$002f20$002f2$002farticle-p160.xml?t:ac=journals%24002fjnccn%24002f20%24002f2%24002farticle-p160.xml

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