AtualidadesOpinião

Rio quase sem Covid-19: menos máscaras e mais alegria

O Rio de Janeiro tem sido uma experiência em tempo real da questão das máscaras em ambiente de Covid-19 em grande declínio, diante de uma variedade (ômicron) de baixa letalidade.

O dia 7 de março foi o dia da virada em que lugares fechados desobrigaram o uso de máscara para proteção de Covid-19.

O adoção do abandono das máscaras em lugares fechados foi bem relevante logo no dia da liberação (Começou com algo em torno de 50 a 65% nos shopping da Zona Sul e da Zona Oeste) e ainda está ascendente.

Em lugares abertos, embora já liberado, o uso de máscaras, ainda bem comum antes, caiu bastante também, refletindo o novo ambiente de liberação.

Com uma cidade quase sem restrições, o movimento aumentou sensivelmente nas ruas, particularmente à noite. O trânsito idem.

Fora a questão da pobreza que se abate sobre o Rio de Janeiro, a cidade está mais alegre e bonita, de certo modo, refletindo o humor das pessoas.

Ainda assim, a curva de internações por síndrome respiratória está cada vez mais baixa, a despeito do carnaval (com várias festas em lugares fechados) e da liberação do uso das máscaras.

Pode ser uma imagem de texto que diz "Município do Rio de Janeiro Evolução diária daB hospitalizações SRAG na rede pública: 1.000 800 600 400 Enfermaria UTI 200 0 jan/22 mar/22"
Extraído do Painel Rio Covid-19 – Observatório Epidemiológico

Hoje (26 de março) o sistema público carioca registra apenas 19 internações por Covid-19.

O que a ciência diz sobre máscaras?

Embora as máscaras (e o álcool gel) transmitam uma sensação de segurança, a verdade é que a transmissão de Covid-19 envolve muitos fatores e não temos muitas certezas.

A contaminação via superfície, que é o objetivo principal da limpeza constante das mãos com álcool gel na rua, ainda que possível, seria algo muito raro.

Um estudo dinamarquês publicado no prestigioso Annals of Internal Medicine de 2021 não encontrou qualquer eficácia digna de nota das máscaras.

Adicionalmente, uma extensa metapesquisa do renomado Cochrane Library já mostrava a ineficácia do uso de máscaras e mesmo da higiene com álcool gel para gripe.

Obviamente, esse é um tema polêmico e há estudos que contam outra história, mas com ressalvas, como Face masks to prevent transmission of COVID-19: A systematic review and meta-analysis (2021) e Effectiveness of Face Masks in Reducing the Spread of COVID-19: A Model-Based Analysis (2021).

Além disso, existe uma distância entre o uso recomendado e o uso real. Na prática, muitas das pessoas colocam a máscara deixando frestas para melhorar o conforto respiratório ou a manipulam da forma errada.

O fato é que tanto as máscaras de pano quanto as máscaras descartáveis em teoria protegem contra as gotículas (droplets), mas não da possível contaminação por aerossol, típica de lugares fechados, apinhados e mal ventilados.

Além disso, a máscara de pano é considerada, em geral, marcadamente ineficaz, em relação aos outros tipos, mas são as mais viáveis para as populações mais pobres.

A máscara cirúrgica ou descartável, em tese, tem que ser trocada de 4 em 4 horas, por recomendação da OMS, o que traz muito dinheiro para os fabricantes. No entanto, há quem conteste isto a partir de testes de laboratório.

A máscara N95, tida como mais efetiva, mas chega a ser 10 vezes mais cara que a máscara descartável comum, além de ser considerada desconfortável por muitos usuários.

Discussão

Fora a N95, máscaras eventualmente oferecem uma proteção percentual contra partículas (principalmente gotículas), sempre bem abaixo de 100%. Quando se considera adicionalmente o uso inadequado por parte de muitos e do pit stop que as pessoas fazem em restaurante e lanchonetes, este percentual cai ainda mais.

A maioria das pessoas ativas, que trabalham, saem etc., terminam tendo contato com muitas pessoas. Assim, um percentual de 70%/80% logo fica bem mais baixo, quando se associa com vários interações: água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

Adicionalmente, algumas pessoas se munem de uma falsa sensação de segurança pelo uso de máscaras, e usam-nas como se fossem uma blindagem à Covid-19.

Há tantos caminhos para a contaminação, que muitas pessoas, mesmo adotando todos os cuidados, especialmente no pico da pandemia, terminaram pegando Covid-19 porque basta uma falha (afinal, o vírus não tira férias nem dorme nem aperta a tecla pausa) ou receber o vírus de outro morador da mesma casa (se a pessoa não vive sozinha).

Em um ambiente onde quase todos estão vacinados, a variante predominante é de letalidade muito baixa e o número de infectados é baixo; a exposição repetida a vários contaminados é tão mais infrequente, que a pessoa que usa máscaras, quando a epidemia está grassando, tem muito mais chance de pegar Covid-19 do que a pessoa que não usa máscara no período atual que estamos vivendo no Brasil, que está todo verde, segundo a Fiocruz.

O medo não deveria dominar nossas mentes

Entendo que tenhas milhões de pessoas traumatizadas porque tiverem familiares ou pessoas muito próximas vitimadas por Covid-19.

O fato é que ainda é razoavelmente comum ver pessoas de máscaras, mesmo dentro de carros fechados, motos e bicicletas, por vezes, até em crianças de menos de 10 anos.

Isso mostra, como o medo, uma vez tendo penetrado na alma de alguém,  pode ser muito difícil de ser despejado.

Outro dia vi uma senhora tirar a máscara para dar um gole no café, subir a máscara (com suas mãos “contaminadas”), para depois voltar a descer a máscara para um novo gole de café.

E será que no curto período de tempo em que a máscara está abaixada para o café poder ser tomado, o vírus magnânimo dá uma trégua?

Bizarro a que ponto o medo molda o comportamento de alguém.

Estar vivo é correr riscos, sendo que agora, no atual estágio da pandemia, o risco de morrer de Covid-19 é extremamente baixo, quando comparado a muitos dos riscos normais que um ser humano está sujeito só pelo fato de estar vivo.

No entanto, muitas pessoas adquirem hábitos e se aferram a eles, ainda que as condições tenham mudado.

São como amuletos, relíquias de tempos idos.

E o futuro?

Não existe nada garantido, quando se pensa no futuro.

Lógico que é possível ainda que suja uma variante altamente transmissível e fatal passe a nos assolar e o jogo mude novamente.

Espero que desta vez, finalmente, a Covid-19 deixe de ser uma pandemia para se tornar uma endemia, mais uma, diante de tantas outras.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Send this to a friend