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Covid-19: tratamento precoce(*) que funciona?

A Pfizer anunciou Paxlovid®, um remédio oral para ser dado para a fase inicial da COVID-19 que, em um estudo em pacientes de alto risco, mostrou ser 89% eficaz contra hospitalizações por COVID-19.

O remédio pode ser prescrito ao primeiro sinal de infecção ou ao primeiro conhecimento de uma exposição, potencialmente ajudando os pacientes a evitar a forma grave da doenças, que pode redundar em hospitalização ou morte.

Paxlovid® é uma associação de 2 fármacos: PF-07321332 com ritonavir. O PF-07321332 foi projetado para bloquear a atividade da protease SARS-CoV-2-3CL, uma enzima que o coronavírus precisa para se replicar. A co-administração com uma dose baixa de ritonavir ajuda a desacelerar o metabolismo ou a quebra do PF-07321332 para que permaneça ativo no corpo por períodos mais longos em concentrações mais altas para ajudar a combater o vírus.

Tais resultados serão checados pela FDA, e, se for verificado, pode, em conjunção com as vacinas, ser um verdadeiro game changer.

A Pfizer ainda não revelou qual seria sua política de preços, mas ela já garantiu que ir disponibilizar sua descoberta para os países zoados como o nosso por um preço condizente, provavelmente via genéricos.

Fora outros remédios de patente que estão sendo pesquisados pela Merck e outros laboratórios, a princípio menos efetivos; os outros remédios para a fase inicial sem patente tidos como eficazes, como o glicocorticoide budesonida (já adotado no Reino Unido para pacientes de risco e o antidepressivo da classe SSRI (inibidor seletivo de recaptação de serotonina) fluvoxamina funcionam, mas não de maneira tão efetiva quanto esse está evidenciando.

Pfizer quer matar as pessoas por dinheiro?

Quando postei no Facebook sobre esse remédio, alguns internautas voltam a repetir velhos chavões conspiracionistas contra alguma malvada corporação, que, no caso, é a Pfizer.

Engraçado, que essa culpabilização da empresa encapetada, por vezes, une parte da esquerda e da direita.

E aí eles apontam links, como esse, que apontariam a existência de indícios de fraude, no caso da vacina e que isso poderia ser estendido, assim, a remédios como esse.

É bastante provável que existem certas acochambrações, atalhos e fraudes em processos de homologação de um fármaco dentro de um grande laboratório. São zilhões envolvidos, mas muito dificilmente isso levaria a que um laboratório tivesse interesse real de lançar no mercado um medicamento ineficaz ou com efeitos colaterais devastadores.

Bem, ainda que muitos sócios de empresas são distantes da santidade, um embuste de tal ordem, que lançasse conscientemente um remédio ou vacina ineficaz ou perigosa, na prática seria algo impossível, por algumas razões:

a) As pessoas não são tão más assim, em geral

b) É simplesmente impossível manter segredo de algo tão grave que sempre envolve muitas pessoas. Isso derruba na prática muitas teorias da conspiração.

c) Como, depois de lançado, os dados de cura, efeitos colaterais, passem a ser públicos e examinados com lupa por dezenas de países, organizações ONGs, hospitais, concorrentes etc.; um escândalo desses poderia quebrar uma empresa.

No famoso caso dos danos induzido em bebês, filhos de mães que tomaram Talidomida, a alemã Grünenthal não faliu, mas teve muitos prejuízos e abalos na sua trajetória posterior.

No caso do Paxlovid®, essas pessoas argumentam que é do interesse da Pfizer que um remédio barato não funcione e que um remédio caro, de patente, funcione.

Ainda que, em tese, possa ser verdade no campo dos desejos, na prática, não funciona assim.

Ivermectina está sendo descartada para Covid-19?

Como já tinha comentado antes, com muita tristeza digo que tudo indica que a Ivermecina subiu mesmo no telhado em meados de 2021 (assim como a hicroxicloroquina já em abril de 2020).

Sobre a hidroxicloroquina, quase morta nos anais científicos recentes, aqui tem uma interessante história envolvendo a briga entre Didier Raoult, o pai da cloroquina, e Elisabeth Bik, uma microbiologista holandesa.

Relativo à ivermectina, houve um grande e milionário estudo canadense (McMaster University) parcialmente bancado pela Fundação Bill e Melinda Gates com resultados para lá de decepcionantes (o mesmo estudo que revelou a eficácia da fluvoxamina)

Fora isso tivermos a retratação de uma grande pesquisa favorável à IVM no Egito (Elgazzar et alli) e da metapesquisa do Dr. Andrew Hill, fora a publicação da detalhada metaanálise do reputadíssimo instituto Cochrane, não encontrando efeitos relevantes.

Relativo ao grande estudo então bem-sucedido realizado na cidade do México, houve alguns reveses: ele nunca foi aceito para publicação, houve um recrudescimento de mortes durante a nova onda de 2021. além de um certo e suspeito quase silêncio das autoridades locais, onde até desculpas foram dadas (“Ah, muitas pessoas não tomam ou chegam tarde demais”) .

Como contraponto, compilei dados de casos e mortes da Cidade do México e do rico estado de Jalisco, estado onde fica a bela cidade da Guadalajara, a partir do painel oficial de Covid-19 do governo mexicano e fiz a figura abaixo:

Tracei as curvas vermelhas a azuis sobre o gráfico de casos e óbitos das 2 regiões, sobre os gráficos de mesmo tamanho. Aí constatei que a curva de óbitos ficou bem mais baixo no caso da Cidade do México, onde o medicamento continua a ser ministrado, ainda dá para coçar a cabeça, mas observações desse tipo não tem lá muito valor científico.

Por outro lado, quando examinei nos painéis da prefeitura e nos dados oficiais de óbitos do registro civil, não encontrei nada de especial em cidades tidas como berço da IVM, como incluindo Porto Feliz, (SP) Itajaí (SC) e Natal (RN).

Ainda resta uma possibilidade

A despeito de tudo, como nenhum estudo focou em aplicar o fármaco logo no início dos sintomas, por dificuldade de montar um estudo dessa forma, tolerando-se, na maioria dos casos média em dias de 5 dias ou mais do início dos sistemas.

Uma vez que seria necessário incluir no estudo pessoas suspeitas de COVID-19, que poderia ser depois descartadas em grande quantidade, se a hipótese não se confirmasse, o que encareceria os estudos, grande parte dos quais realizados com baixo orçamento.

Sendo assim, não existe a maximização do suposto efeito viral da droga, tanto que a recomendação explícita no caso do PaxLovid® é que o início da administração se dê logo no primeiro dia de sintomas, mesmo com suspeita de Covid-19.

Adicionalmente, nenhum estudo recomendou a ingesta fora da especificação oficial da bula que recomenda a administração em jejum, para ampliar o efeito da droga no intestino, onde ficam os parasitas.

No entanto, a ingesta do remédio após uma refeição rica em gordura aumenta a biodisponibilidade plasmática até 2,5 vezes!

Isso provavelmente explica o resultado errático do estudo argentino publicado na Lancet, que não passou uma especial recomendação de administração da IVM para para os pacientes, e encontrou uma grande variação medida de biodisponibilidade da mesma, sendo que nos indivíduos que tinham mais concentração, encontrou-se uma relação clara com a diminuição da carga viral.

Ideias fixas não são uma virtude

Assumo que já tive crença no remédio, mas sou do tipo que aceito mudar de ideia sem se sentir mal por isso. Ao contrário de muitas pessoas, vejo a capacidade de mudar de opinião como uma virtude e não como um defeito ou falta de coerência.

Via e vejo como preconceito rejeitar um remédio a princípio apenas porque A ou B, de reputação duvidosa, o defende.

Outros o condenaram a priori por ser um remédio que foi concebido para parasitoses, e, assim, não poderia funcionar como um antiviral. Isso é bobagem porque reposicionamento de fármacos é uma prática bastante comum em Medicina e é exatamente esse o caso da fluvoxamina, remédio que atua originalmente contra a depressão.

Por que remédio para Covid-19 é ainda importante?

A maioria das vacinas (assim como a pessoa que já pegou COVID-19) parece que vai perdendo a imunidade ao longo dos meses , o que torna a pessoa de novo exposta a doença, a menos que ela se vacine periodicamente. A exceção parece ser a Moderna, que apresentaria uma redução de eficácia menor.

Ao contrário do que alguns possam pensar, é importante associar a vacina contra a Covid-19 com um remédio efetivo, para reduzir o nível de mortalidade para um patamar igual ou menor à gripe. Se a vacina protege 90% e o remédio protege 90%, teríamos uma proteção conjugada de 99%, o que levaria o índice de letalidade a um fator 100 vezes menor, o que coloca a COVID-19 totalmente dentro dos padrões aceitáveis para doenças.

   

(*) Como já falei muitas vezes, o tratamento precoce é um termo muito infeliz pois dá uma ideia de ser algo antes da hora certa. Não há hora certa. Na prática, tratamento precoce expressa a ideia,. que não tem nada de precoce, de se ter algum medicamento que atue logo no início da doença. Esse é sempre o sonho da Medicina para qualquer doença.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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Um Comentário

  1. Fica evidente a estratégia de todos, governos, laboratórios e gente pensante do mundo: primeiro atacamos a Covid com as armas já em desenvolvimento (vacinas em geral), depois vamos com técnicas mais efetivas, que demoram mais tempo para certificar (remédio).

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