Opinião

QUEM ESTÁ PAGANDO O MAKINHOS?

No apagar das luzes de 2020, exatamente no dia 31 de dezembro, a Fiocruz, dotada de personalidade jurídica de direito público, vinculada ao Ministério da Saúde, pediu que a Anvisa liberasse, “em caráter excepcional”, dois milhões de doses da vacina de Oxford contra a covid-19. A agência autorizou, surpreendentemente em prazo recorde.

O Brasil tem 26 estados, mais o Distrito Federal, onde estão mais de 210 milhões de habitantes. Isto posto, conclui-se que cada estado da Federação, mais o DF, receberá um pouco mais de 74 mil doses, levando-se em conta o critério da isonomia.

Este número não cobre a vacinação dos profissionais da linha de frente de combate à pandemia. Alguém duvida que a turma do fura-fila não será privilegiada? Tipo ministros do STF e suas famílias, das Excelências do Congresso, entre outros estrelados?

Enquanto nosso especialista em logística compra dois milhões de doses de vacina, o Reino Unido, por exemplo, comprou 100 milhões, para uma população de pouco mais de 65 milhões de habitantes. Planejamento, governança e governo. Lembrando que o Primeiro Ministro, Boris Johnson, é o Bolsonaro na versão inglesa, se é que entendem.  

Um parêntese importante: antes da compra das vacinas, o especialista em logística, preocupado com as críticas que vem recebendo de todos os setores, inclusive da comunidade científica estrangeira, contratou Markinhos Marques, um marqueteiro até então baseado em Roraima, para cuidar de sua imagem pessoal, um tanto arranhada pela absoluta incompetência que, agora, é incontestável. Desculpem, incompetência é uma palavra muito forte e denota pessimismo. Reformulando: imagem arranhada pelo servilismo, vaidade, e um escasso desenvolvimento cognitivo.

Pazuello escolheu sua prioridade, ou alguém discorda desta pessimista que vos fala nesse aspecto?

Diante da escassez de recursos financeiros, também um dado incontestável, seria interessante sabermos quem está pagando Markinhos, já que faltam insumos, faltam profissionais e faltam leitos hospitalares em todo território nacional. Não é pessimismo, é a reprodução fiel da fala do senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, antes de voltar de suas merecidas e divertidas férias no litoral paulista: “o país está quebrado, e eu não consigo fazer nada”.

Se o presidente da República não consegue fazer nada, imagem nós, pobres e reles mortais, à mercê de uma política pública de saúde capenga, difusa e atabalhoada.

Tudo isso posto à mesa, a quem atenderá o lote de dois milhões de doses da vacina, compradas às pressas, sem planejamento, sem cronograma, sem critérios? Vale perguntar: por que dois milhões e não cinco? Por que dois milhões e não 10, ainda que 10 fosse absolutamente insuficiente?

Mais de 12 milhões de pessoas no mundo já foram vacinadas. No Brasil, dependemos de decisões burocráticas, ideológicas e sádicas: segundo o presidente da República, “o melhor remédio para o covid (sic) é contrair o vírus”.

Evidentemente, não foi o melhor remédio para quase 200 mil brasileiros que morreram em decorrência. Mas isso, para o presidente e seu ministro, não tem a menor importância. “Não entendo essa ansiedade pela vacina”, disse o ministro preocupado com a própria imagem.

Ele entenderia, se fosse empregado na iniciativa privada. Certamente estaria no olho da rua. Ops, desculpem, seria dispensado por falta de um arcabouço suficiente de sinapses na cavidade craniana. Espero não ter sido tão “pessimista” nesta segunda opção.

A compra de dois milhões de doses de vacina para uma população de mais de 210 milhões de habitantes soa como prêmio de consolação. Os laboratórios estão trabalhando incansavelmente para atender a pedidos feitos em julho.

Haverá alguém tirando a foto histórica do primeiro brasileiro vacinado, declarações otimistas de ministro e presidente e com isso seremos felizes para sempre.

Desejo a todos um 2021 extraordinário, com vacina para todos e um governo com mais humanidade.

Silvana Destro

Silvana Destro é jornalista, voltada à comunicação corporativa há quase três décadas, atualmente com forte atuação em gerenciamento de crises de imagem e reputação. Mãe do Pedro, do João e avó de Maria Clara.

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Um Comentário

  1. Tenho uma correção a fazer, não morreram 200 milhões e sim 200 mil.
    Temos que ser objetivos, o Brasil está em 21° lugar no mundo, quando consideramos mortes por milhão de habitantes.
    Vamos ser criticos, mas não perder a ternura jamais.

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