Enfim, a paz… e a hipocrisia

Da paz celebrada por uns à hipocrisia silenciosa de outros — o contraste entre discursos humanitários e a defesa do indefensável.
Os últimos dias foram desconcertantes para os pacifistas de fachada. Do surpreendente acordo de paz de Trump, passando pelos vergonhosos episódios de apoio explícito ao Hamas — comemorando o fatídico 8 de outubro — até o prêmio Nobel da Paz para Maria Corina Machado, o silêncio do governo brasileiro tem sido ensurdecedor.
O Nobel da Paz que calou a esquerda
Que bom que o prêmio tenha sido concedido, pela primeira vez, a uma mulher latino-americana oposicionista de um regime ditatorial. Correto?
Não para a esquerda. Na sua escala de valores, o antiamericanismo conta mais do que os valores democráticos — ou a sororidade feminina que dizem defender. Mesmo considerando que a oposicionista à ditadura venezuelana seja uma social-democrata, e apesar das afrontas recentes de Maduro a Lula, inclusive com ameaça bélica ao Brasil.
Não importa. Se do outro lado estão os EUA, os esquerdistas passam por cima de qualquer divergência. Vale tudo. Vale defender terrorismo, sequestro, tortura, estupro, infanticídio… Ainda mais quando o atual presidente dos EUA é nada menos que Donald Trump, curiosamente também cotado para o Nobel por conseguir, até aqui, o mais difícil acordo das últimas décadas entre árabes e israelenses.
A indisfarçável simpatia pelo Hamas
Mas afinal, onde estão as comemorações dos “pacifistas” com o fim da guerra em Gaza?
Até agora, nada. Pelo contrário: exatamente no dia 7 de outubro ocorreram manifestações esquerdistas em várias grandes cidades ocidentais… em comemoração ao massacre!
Em São Paulo, professores defenderam abertamente os terroristas, com direito à fala de um médico que não só justificou as atrocidades como desumanizou os brasileiros mortos, chamando-os de “bandidos”!
Até mesmo nos EUA, vejam só, reverberam vozes de apoio ao Hamas em grandes veículos de comunicação. O New York Times, por exemplo, publicou uma reportagem com o título: “Hamas assume grande risco em acordo que liberta reféns”. Segundo o jornalista Adam Rasgon, o grupo perde poder de barganha, sem a certeza de conseguir tudo o que queria em troca!
Ou seja, ele quase lamenta que o Hamas não tenha outra coisa a não ser os reféns. Quem sabe, no futuro — fortalecido com 1.700 terroristas soltos em troca de 20 reféns vivos —, o Hamas aumente seu poder de barganha sequestrando mais algumas centenas de pessoas? Que tal?
Aliás, não custa lembrar que o líder do Hamas que comandou o 7 de outubro foi um dos mil terroristas libertados em troca de um soldado israelense — tendo sido, inclusive, curado de um câncer no cérebro ainda no cárcere…
Superioridade moral
Alguém reconhece a superioridade moral israelense em tais episódios? Por que tamanha desproporção em tais trocas? Por que premiar os terroristas com a vitória na guerra midiática?
Apenas meros detalhes no mundo das narrativas para o mainstream esquerdista. Não importam as grandes vitórias que Israel obteve em sete frentes de batalha contra os inimigos do ocidente. Na guerra da informação, o Hamas — mesmo encurralado — ainda sobrevive, graças à esquerda ocidental que comprou todas as suas narrativas: do “genocídio” (mesmo com os mais baixos índices de perdas civis em guerras urbanas da história) à fome generalizada — ainda que as imagens dos gazanos não revelem qualquer perda de peso, apesar dos dois anos de guerra; e apesar de as Forças Armadas israelenses serem as únicas do mundo a alertar civis antes de ataques e, claro, a alimentá-los.
Greta Thunberg e a “flotilha da selfie”
E, no universo paralelo das narrativas, Greta Thunberg desponta como a representante máxima do wokismo adolescente mundial. Como na primeira versão da flotilha, o desfecho foi o mesmo: interceptados e mandados de volta para casa. Uma pena — pois deveriam ter aportado em Gaza. Imaginem a cena da multidão cercando os barcos em busca da ajuda humanitária prometida… e não encontrando nada, ou quase nada, como constatou mais uma vez a marinha israelense.
Encenada a peça prevista, a ativista publicou um vídeo posando de “cidadã sueca raptada e torturada” pelos israelenses, quando, na verdade, o único incidente registrado foi uma mordida de uma “ativista”… em um soldado israelense. Além, claro, dos relatos suspeitos — para dizer o mínimo — dos “ativistas”, que reclamaram de ter que beber água de torneira, do tamanho das celas e até do ar-condicionado!
Mas eis que a cereja do bolo ainda estava por vir. Em nova postagem, Greta usou a imagem de um dos sequestrados israelenses — esquelético, cavando a própria cova (algo amplamente divulgado pela mídia, cujo material foi enviado pelo próprio Hamas como forma de pressão) — para ilustrar o sofrimento palestino! Sim, ela fez isso!
A desconexão com a realidade
Enfim, Greta é a prova cabal da desconexão com a realidade da esquerda internacional.
Não basta ser a favor da paz. É preciso ter compromisso com valores de fato. Os regimes autoritários são os maiores fomentadores de guerras — fato. Assim como é fato que a esmagadora maioria desses regimes é de esquerda, todas elas convenientemente ignoradas na “luta pela paz” dos pacifistas de fachada.
A esquerda deveria ter o compromisso moral de defender a única democracia do Oriente Médio que sobrevive heroicamente, sendo atacada de todos os lados. Ao invés disso, prefere servir de veículo para a globalização da intifada.
Enfim, a paz?
Embora a torcida seja grande, os primeiros passos do Hamas após a retirada das tropas israelenses não são nada animadores: resistência em entregar as armas, assassinato de opositores, desfile militar comemorando a “vitória” e, claro, aplausos de parte da população de Gaza aos terroristas em meio às ruínas.
O futuro dirá se o acordo marcará o início de um novo capítulo na construção da paz no Oriente Médio — ou se será lembrado como a maior oportunidade desperdiçada de derrotar o Hamas.