Cultura

Allan Kardec; o cientista que explicou o cristianismo – Artigo 3

Setembro amarelo – o espiritismo e o suicídio

A escolha do mês corrente como o “Setembro Amarelo”, em que a sociedade se preocupa com a prevenção do suicídio, me levou a dedicar este terceiro artigo ao tema, por ser atual e muito relevante. Recomendo, logo de início, a leitura de uma obra focada especificamente ao assunto, o livro “Mãos Estendidas”, do espírito conhecido como Luiz Sérgio (Ver https://www.mensagemespirita.com.br/livro/1783576/maos-estendidas-luiz-sergio-espirito ).

Usando uma linguagem coloquial, Luiz Sérgio, um jovem que desencarnou ainda adolescente em um acidente de carro, narra suas experiências no mundo espiritual, quando resolve se dedicar à missão de trabalhar e auxiliar os suicidas. Conforme espero ter deixado claro nos textos anteriores, a doutrina espírita não se ocupa de julgar, muito menos condenar os que cometem este ato; o importante é acolher e orientar, com muito amor, para que a experiência dolorosa se transforme em aprendizado. Obviamente, isto só faz sentido se entendermos que haverá futuras reencarnações, para que este aprendizado aconteça.

Da mesma forma, a doutrina não faz generalizações (do tipo todo o suicida é um pecador, ou algo assim); embora seja visto, normalmente, como um ato de fraqueza extrema, cada situação que pode levar alguém a atentar contra a própria vida merece ser analisada com carinho, nunca esquecendo que Deus é amor, e não vai abandonar, muito menos condenar à desgraça eterna um filho querido apenas porque ele tomou uma decisão infeliz em algum momento.

Repetindo sempre que não estou falando em nome do espiritismo, muito menos em nome de Deus, estou apenas tentando explicar as coisas a partir de uma perspectiva que estudei durante um bom tempo, a ideia geral é que cada uma das nossas reencarnações é cuidadosamente planejada, e, como não vivemos sós, este planejamento envolve também as pessoas à nossa volta (pais, irmãos, amigos, amores, filhos e tudo o mais). Nem sempre o caminho será de flores, afinal somos espíritos já bastante rodados e nem sempre temos boas histórias para contar das reencarnações anteriores; toda esta memória está registrada, sob a forma de energias positivas ou negativas, em nosso perispírito (ver definição no primeiro artigo da série, https://papodeboteco.net/cultura-princ/allan-kardec-o-cientista-que-explicou-o-cristianismo-artigo-1/ ), e vai se refletir, muitas vezes, em problemas e atribulações no nosso caminho.

A visão reencarnacionista esclarece melhor do que qualquer outra (opinião minha, diga-se), a origem dos sofrimentos. No capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Bem-aventurados os aflitos”, Kardec fornece várias explicações. Abre aspas;

“(…), desde que admitamos a existência de Deus, não podemos concebê-Lo sem Suas perfeições infinitas. Ele possui todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, pois sem isso não seria Deus. E se Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir por capricho ou com parcialidade. As vicissitudes da vida têm, então, uma causa e como Deus é justo, essa causa deve ser justa. Eis o que cada um deve compenetrar-se.

(…) Entretanto, em virtude do axioma todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa sempre precedendo ao efeito, e desde que não se encontre na vida atual, deve pertencer a uma existência precedente”.

Resumindo, todas as provas que um espírito está destinado a passar nesta reencarnação são consequências de seu passado. E o objetivo, não canso de repetir, não é o castigo, mas sim o aprendizado. Ora, no momento em que alguém não suporta a prova e prefere abreviar a existência material, ele está apenas adiando e aumentando o seu problema e, pior ainda, prejudicando o desenvolvimento de todos os que vieram junto com ele. Luiz Sérgio deixa isto muito claro no livro que recomendamos acima, ao descrever o enorme arrependimento que estes espíritos experimentam ao voltar para o mundo espiritual. Porque o suicídio não é o fim da vida; é apenas um retrocesso no avanço espiritual. E, conforme dito, tem consequências no avanço espiritual de todos os que estão à sua volta.

Enfim, espero ter deixado claro que a doutrina espírita não só é frontalmente contra o suicídio, como demonstra claramente a inutilidade deste ato, porque a vida vai continuar. De qualquer forma, que isto jamais seja visto como uma condenação ao irmão suicida; sempre temos que ter as mãos estendidas, conforme o título da obra anteriormente citada.

Não entrei em detalhes sobre as circunstâncias de cada suicídio, entendo que não nos cabe julgar os atos dos outros. Procurei apenas dar uma visão genérica sobre a abordagem da doutrina espírita a respeito deste tema, extremamente delicado e espinhoso. Que Deus nos ilumine, hoje e sempre.

Até o próximo artigo.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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3 Comentários

  1. Hervé,
    Fico grato por dispender seu tempo e escrever sobre um tema tão difícil como o suicídio na visão da Doutrina Espírita. Não sou espírita, e além desse tema, e aqui faço uma pergunta sobre o suicídio que a humanidade faz consigo, e como os espíritos poderiam ajudar nesse momento de guerras, com tantos inocentes sendo sacrificados, e num momento onde se destrói o planeta ? Veja, aqui é uma refelxão, e talvez não haja resposta, mas será justo que um único inocente que seja, pereça ?
    Abs
    William

    1. A pergunta é ótima, e a resposta exigiria uma longa reflexão.
      De qualquer forma, tomamos decisões como indivíduos e como coletividade. E, em princípio, não há “sacrifício de inocentes”, uma vez que todo e qualquer espírito que esteja no planeta, seja hoje criança, adulto ou idoso, já tem uma bagagem de energias negativas e positivas acumuladas ao longo de vidas passadas.
      Resumindo, cada um de nós será responsável pelo seu pedaço na história. Se estamos aqui, neste momento, é porque assim foi combinado. Se o planeta efetivamente chegar a uma espécie de “suicídio coletivo” e a vida na Terra se inviabilizar, todos vamos sofrer as consequências. Sempre entendendo a separação do joio do trigo; quem tentou ajudar e distribuir amor e consolo será consolado, quem se deixou levar pelo egoísmo e ódio vai ter que repetir de ano. Sempre lembrando que não nos cabe julgar os outros, apenas tomar conta do nosso quadrado.
      O assunto vai longe…
      Muito obrigado por ler e comentar.

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