Opinião

Disciplina é Liberdade. A Bíblia explica

Este texto é a continuação do anterior, publicado aqui mesmo no Papo de Boteco (ver https://papodeboteco.net/opiniao-princ/disciplina-e-liberdade-e-liberdade-se-conquista/ ).

O objetivo é reiterar a diferença entre disciplina e obediência cega. E demonstrar, mais uma vez, que a opção entre as duas acontece, principalmente, em função da atitude das pessoas em um grupo. Desta vez vamos utilizar conceitos bíblicos para demonstrar nossa tese.

Aplicando a Bíblia ao mundo corporativo – funciona!

Mesmo sem ser profundo conhecedor da Bíblia, é fácil perceber que há uma diferença fundamental entre o Velho e o Novo Testamento. O Velho Testamento, anterior à vinda de Cristo, ainda trabalha com a Lei de Talião (“olho por olho, dente por dente”). A justificativa é que os povos da Terra ainda eram muito primitivos. Assim, podemos dizer que os dez mandamentos trazidos por Moisés são uma espécie de código de proibições básicas, por isto quase todos começam com a palavra “Não”; não matarás, não roubarás, não cometeras adultério… Ou seja, as pessoas entendiam que matar e roubar eram atitudes normais, alguém teve que explicar que não era bem assim. É mais ou menos como falar com uma criança; a palavra que os pais mais usam também é “não”; não mexe, não põe na boca, não grita… tudo porque a criança ainda não tem as noções básicas de comportamento.

Jesus chega e, segundo suas próprias palavras, não vem destruir a lei, mas cumpri-la. E propõe uma visão mais flexível, que inclui, entre outras coisas, o perdão das ofensas e o amor ao próximo. Neste contexto, a própria imagem de Deus evolui de um impiedoso carrasco que esmaga os infiéis para um Pai carinhoso, que ama e orienta seus filhos amados. Só que o pressuposto para colocar tudo isto em prática seria que o ser humano já estivesse mais evoluído e preparado para lidar com esta nova liberdade. Talvez neste ponto o cronograma celestial tenha sido muito otimista. Tudo bem, isto acontece muito em grandes projetos.

Colocando isto no mundo corporativo, costumo dizer que os dez mandamentos são “compliance”; a empresa é uma bagunça, precisamos dar um choque de ordem, é hora de jogar duro e estabelecer uma política firme de causas e conseqüências, doa a quem doer. Quando a cultura evolui, podemos começar a pensar em horário flexível, home office, hierarquia menos rígida, enfim, várias características focadas em produtividade e não em fiscalização. Os chefes carrascos têm que evoluir para líderes servidores, assim como o Pai bíblico. Sustentando nossa tese, saímos do estagio de obediência cega e conseguimos alcançar e nos fazer merecedores do grau de disciplina. As melhores empresas do planeta já trabalham assim.

E nós, onde estamos?

Para situar o nosso nível de “civilidade”, que é a medida da disciplina, listei atitudes do dia a dia que caracterizam pessoas (ou empresas, ou países) que atingiram o grau de “civilizados”, e a sua contrapartida, que caracteriza os “primitivos”, aqueles que ainda precisam de cabresto. Vamos lá;

Civilizados acreditam em instituições democráticas, primitivos adoram teorias conspiratórias.

Civilizados escolhem líderes, primitivos cultuam mitos, santas criaturas ou salvadores da pátria.

Civilizados separam religião de política, primitivos misturam poder espiritual com material e acreditam ser os únicos escolhidos de Deus, portanto podem bater, matar, roubar….

Civilizados gostam de esportes, primitivos querem ganhar o jogo a qualquer custo.

Civilizados se divertem com educação e respeito ao próximo. Primitivos só param a festa quando a polícia chega. E, às vezes, recebem a polícia a tiros.

Civilizados entendem que todos são iguais perante a lei. Primitivos adoram dizer; você sabe com quem está falando?

Civilizados tratam a sexualidade com respeito. Primitivos não conseguem controlar os próprios instintos (Me Tarzan, you Jane). E tome estupro, gravidez adolescente, transmissão de doenças…

Enfim, eu podia ficar enumerando exemplos o dia todo, mas acho que o espírito da coisa já ficou claro. Favor somar os pontos e ver em que coluna você se encaixa melhor. E não vale dizer, como o Quico do seriado Chaves, que você poderia ser muito melhor se não fosse obrigado a conviver com “esta gentalha”. Você é responsável pelos seus atos, não me venha com xurumelas. E não pense que aqueles povos maravilhosos que cedem a vez, obedecem filas e elegem políticos honestos vieram de outras galáxias; são humanos como nós. Só que fizeram e fazem outras escolhas. Simples assim.

Fecho o texto com a mesma dúvida do imortal mestre Cazuza, “Porque é que a gente é assim?”.

Sei lá.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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Um Comentário

  1. Esta escrito que a palavra de Deus é o proprio Deus.Em 66 livros Ele se expõe, desde a Sua vontade e de como fez tudo que criou. Tudo foi feito e já é passado para Ele. Os livros indentificam professias já realizadas e as ainda abertas.Tudo corre para um destino, Seu povo enfim estará pronto. O mais forte conteúdo sobre o homem é sua fraqueza e corrupção. Tanto que recebeu no suor a maldição eterna. NADA do homem será aceito naquele dia. Nada. Nenhuma empresa de homens terá compliance ou justiça pois o homem é injusto. Comparar alguns trechos e fatos é apenas uma desconstrução desnbecessária para construir algo irreal, mas agradável aos ouvidos dos menos favorecidos.

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