Esporte

O início do fim

Com finais no masculino e no feminino realizadas nesse último fim de semana, o US Open de Tênis apresenta um início do fim das hegemonias Federer – Nadal – Djokovic e da única Serena Williams. Já temos alguém aquecendo no banco para substituir?

No tênis masculino, antes da pandemia, dos últimos treze torneios de Grand Slam de tênis, o trio Federer – Nadal – Djokovic venceu todos, mas, aparentemente, essa hegemonia parece estar perto do fim.

Federer, já não vence desde 2017 e é o mais velho (39 anos), já não se dedicava ao circuito completo, evitando piso de saibro, que não é especialista. Possui 20 títulos de torneios de Grand Slam (é o maior vencedor, sendo o primeiro em 2003). Sua aposentadoria está muito próxima. Não jogou o US Open desse ano, recuperando de lesão.

Nadal, 34 anos, vencedor de 19 torneios de Grand Slam, é especialista em Roland Garros, com inacreditáveis 12 títulos, mas venceu apenas uma vez o Australian Open há 11 anos e duas vezes Wimbledon, sendo o último há dez anos. Com 04 títulos de US Open, optou por não participar nesse ano devido à insegurança quanto à Pandemia. Tem ainda lenha para queimar, mas pode ser que viva de Roland Garros na disputa insana com Federer e Djoko para ser o maior ganhador de torneios de Grand Slam de todos os tempos.

Djokovic, 33 anos, é o que parece estar mais inteiro. Possui 17 títulos de Grand Slam. Tem títulos recentes em todos os torneios de Grand Slam (Australian Open – 2020, Roland Garros – 2016, Wimbledon – 2019 e US Open – 2018). Mas será protagonista com as aposentadorias de Federer e Nadal? Sua eliminação inusitada no US Open desse ano por acertar sem querer uma bolada na juíza de linha, impediu uma análise do seu momento.

A nova geração pode ter seu lugar ao sol?

Pode e certamente em algum momento terá, mas entendo que terão que fazer por merecer.

O melhor ranqueado e agora com seu primeiro título de Grand Slam (US Open – 2020), Dominic Thiem, não é mais garoto (27 anos). É especialista no saibro e pode impedir títulos de Nadal em Roland Garros, mas joga também em alto nível em outros pisos. Fez partida histórica de mais de 4 horas de duração para vencer de virada seu amigo Zverev no US Open e isso pode abrir portas para mais títulos depois de três derrotas em finais (Australian Open – 2020 Djokovic, Roland Garros 2018 e 2019 Nadal).

O vice-campeão do US Open desse ano, Alexander Zverev, tem 23 anos, é menino prodígio, com excelentes resultados quando era juvenil. Já profissional, possui títulos de torneios Master em quadra rápida e no saibro, sendo finalista em Halle (grama) por duas vezes. Isso o credencia para disputas durante todo o circuito de tênis (quadras rápidas, saibro, grama).

Medvedev, 24 anos, venceu um torneio de Masters (Cincinatti) mas é especialista na grama. Foi semifinalista do US Open nesse ano.

Stefanos Tsitsipas, grego de 22 anos, aparece no Top 10 do ranking da ATP. Também especialista em grama, com excelente saque, pode vir a ter seu nome entre os grandes, mas é cedo para previsões.

Federer venceu seu primeiro Torneio de Grand Slam aos 22 anos, Nadal aos 19 anos e Djokovic aos 20 anos. Todos os tenistas que surgiram nos últimos anos já estão com idade maior do que esses três fenômenos. Provavelmente não teremos uma hegemonia como essa vivida no tênis desde o início do milênio tão cedo.

O que esse trio fez e ainda fará por algum tempo antes do apagar definitivo das luzes de suas carreiras é praticamente inigualável, mas certamente está bem perto de acabar.

A curiosidade é que nenhum dos três ídolos conquistou o Grand Slam de Tênis (quando o tenista vence os quatro torneios de Grand Slam no mesmo ano (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open).

Para a conquista do Golden Slam, incluímos a medalha de ouro em Olimpíada no mesmo ano do Grand Slam, e, dos três, apenas Nadal venceu no torneio de simples, em Pequim 2008, ano em que ele venceu dois dos quatro torneios de Grand Slam. Djokovic venceu o Australian Open e Federer o US Open naquele ano.

O fato dos três competirem na mesma época ajudou a impedir uma hegemonia absoluta de qualquer um deles.

Ao mesmo tempo que mídia e patrocinadores buscam incessantemente uma nova carinha para o tênis, já começamos a ter saudade desses monstros do esporte mundial. Será muito difícil acompanhar o Grand Slam sem eles.

Antes de falar do feminino, importante lembrar a conquista de Bruno Soares nas duplas, seu terceiro torneio de Grand Slam em duplas masculinas, somando a mais três em duplas mistas. Bruno, com 38 anos, consegue manter alto nível nas duplas, onde se permite mais tempo de vida esportiva.

Agora, no feminino, a história muda um pouco de figura. Serena Williams, com 38, perto dos 39 anos, dominou o milênio, apenas alternando rivais. Seu primeiro título em 1999 aos 17 para 18 anos abriu a sequência que teve como última conquista o Australian Open de 2017, seu 23º título de torneio de Grand Slam.

Rivalizou com a irmã Venus (7 títulos), depois Justine Henin (5), Maria Sharapova (5), Kim Clijsters (4), e só. Nenhuma delas conseguiu estar à altura de Serena durante todo o período de suas conquistas.

Serena não conseguiu a proeza do Grand Slam (vencer os quatro grandes torneios em um único ano) mas, assim como Nadal, possui também um Ouro Olímpico de simples em Pequim 2008, ano em que venceu “apenas” o US Open.

Ainda joga em alto nível e precisa de mais uma conquista de torneio de Grand Slam para empatar com Margaret Court, lenda australiana dos anos 60 e 70, e se tornar recordista. Atletas do nível dela aparentemente ficam obsessivos (as) com esses recordes. Acredito que não descansará até conseguir ou até perceber que o corpo não responde mais.

Depois de sua última conquista, surgiram dez diferentes campeãs de torneios de Grand Slam. Mas uma tricampeã se destaca pela idade e pela qualidade.

A japonesa Naomi Osaka teve sua primeira conquista meio que ofuscada por um “chilique” de Serena na final do US Open em 2018 (Serena tem histórico de destemperos no torneio), mas nesse fim de semana Naomi já chega ao seu 3º Torneio de Grand Slam, e com apenas 22 anos.

Além de carismática, Naomi defende a luta contra o racismo abertamente e demonstra muita calma e serenidade. Uma verdadeira mina de ouro para patrocinadores.

Assim como no masculino, dificilmente teremos uma hegemonia tão ampla como foi com Serena, mas uma queridinha já pode estar reivindicando o trono de Rainha do Tênis. E a mídia e torcida adoram aposentar Rainhas e coroar Princesas.

Um grande viva para Naomi Osaka!

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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2 Comentários

  1. Vinícius, o Nadal para mim será o primeiro a sair cabeceira do tênis masculino porque seu jogo é baseado em força e agilidade incríveis, as lesões e a idade já estão se mostrando em seu jogo. O fato de ser canhoto e jogar bolas com top spins altas na esquerda dos adversários sempre foi seu ponto forte, mas não incomoda tanto o Djokovic como irritava o Federer. Dos novos talentos, para mim, Tsitsipas. Esse vai ser o nome do tênis na década de 20.
    No feminino, você não citou a Azarenka. Apesar de não acreditar que ela volte ao topo, ela foi a unica que fez jogos incríveis contra a Serena no auge da força da Serena, inclusive ganhando vários jogos dela. Ela engravidou e teve uma disputa judicial da guarda do filho, que a impediu de disputar jogos no circuito internacional. Uma pena. Ela teria o nome muito mais em evidência se isso não tivesse acontecido.

    1. Oi Viviane !
      Fiquei tão decepcionado com a derrota da Azarenka (estava torcendo por ela) que acabei não comentando. De todo modo, ela já é uma veterana e não ficará no topo tanto tempo quanto Serena. Busquei uma bem nova, e, no caso da Osaka, já com três títulos de torneios de Grand Slam.

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