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Mulher-Maravilha? Star Wars? Scooby-Doo? Hello, anos 80!

Wonder Woman 1984 começa muito massa mas viaja na maionese. Já The Mandalorians arrebenta a boca do balão. E juntos com Scooby-Doo, Dick Vigarista e outros, nunca deixam a gente se esquecer da melhor década da cultura pop.

Essa semana, eu me senti de novo aquele garoto que imitava as coreografias do Michael Jackson, tinha carteira com velcro da OP, jogava o video-game Senhor das Trevas no aparelho Odissey e dizia que odiava o Menudo, mas na verdade curtia pacas a boy band.

Isso por conta das obras audiovisuais a que assisti nesses dias. Na TV, maratonei o treco mais joia que o universo Star Wars criou desde O Despertar da Força: a série The Mandalorian. Também curti numa naice a mais recente animação do famoso cão dos desenhos da Hanna-Barbera: Scooby! O Filme (de quebra, conferi outra adaptação do Scooby-Doo, um longa um tanto trash e agora cult; o primeiro com atores reais, de 2002). E, por fim, abandonei minha bolorenta quarentena domiciliar, mas não para pintar numa aglomeração, e sim em um local amplo e (dizem) higienizado, onde havia somente eu e mais 6 (seis!) pessoas: a saudosa sala de cinema. Isso para ver Mulher-Maravilha 1984, um filme que começa massa que só, mas depois parece que dá tilt e termina meio xarope

Das três, certamente a melhor atração, pra mim, foi a série The Mandalorian, disponível na Disney+, superprodução com efeitos visuais de primeira, sobre um caçador de recompensa espacial que se vê com a missão de resgatar uma criatura bebê misteriosa (da mesma espécie do Mestre Yoda, para quem conhece a saga). A nostalgia que dá na gente não é só pelo fato de ser do universo Star Wars, mas também pelo formato: apesar de ter esse arco durante as duas temporadas, cada um dos 16 episódios abarca uma trama completinha (e bem explicada), recursos que não são tão comuns hoje em dia. São aventuras empolgantes, com ares de faroeste (o cavaleiro solitário e sem nome está sempre aportando em localidades ermas e arrumando encrencas e duelos no saloon, ops, no bar) ou de Indiana Jones (as jornadas incluem enigmas e muita ação aventuresca).

E há ótimos usos de elementos da franquia Star Wars, como as batalhas espaciais, as pelejas com tiros de raio laser, as criaturas bizarras, as piadas internas (como a fama dos soldados stormtroopers de serem ruins de mira), os veículos (eu me amarro nas speeder bikes (ou motos voadoras)!), as naves (há a banheiraça caindo aos pedaços da vez: sai o Millenium Falcon e entra o Razor Crest). Além disso, não faltaram jedis, sabres de luz e até a aparição, sempre prazerosa, de alguns personagens da saga.

Por fim, todo o elenco tem carisma, do ótimo vilão de Giancarlo Esposito (o Gus Fring de Breaking Bad e Better Call Saul) ao fofo Baby Yoda. O mais impressionante é o protagonista Pedro Pascal, que consegue exprimir emoção, humor, esforço, instinto paternal e até ensaia um romance, mesmo vestindo o capacete o tempo todo (lembrei de Woody, Buzz e companhia na cena final de Toy Story 3, quando são doados para sua nova criança: embora estejam com o rosto estático do modo boneco, passam para a gente uma emoção que me faz chorar, toda vez, aos borbotões!).

Enfim, se a série The Mandalorian é uma excelente pedida até para quem não conhece Star Wars; para os fãs, então, é nada menos que imperdível!

Já o recente Scooby! O Filme (2020), embora não tão empolgante, achei melhor que eu esperava. Mas antes de assistir a essa animação, resolvi matar uma curiosidade. É que há uma adaptação com atores reais de 2002, de nome simplesmente Scooby-Doo, disponível na Netflix, que eu lembro que não me levou na época ao cinema por causa das críticas ruins. Nos últimos anos, porém, tenho ouvido muitos nerds saudosos desse filme, percebi que ele se tornou uma espécie de cult. E depois de assistir e de ler sobre ele, eu acho que compreendi o porquê.

Esse Scooby-doo (2002) se passa em um parque temático, numa ilha cheia de adolescentes, onde coisas estranhas estão acontecendo. O filme me causou um certo estranhamento porque, ao mesmo tempo que inclui alguns elementos infantis, como a trama rocambolesca e colorida, há outros talvez adultos demais, como cenas de possessão um tanto fortes para crianças, referências pop, decotes e até um ensaio de romance entre Fred e Daphne. Depois eu fui ler que, faltando apenas um mês para as filmagens, o estúdio havia determinado que se mudasse o tom. Era para ser uma comédia de terror adolescente e picante, classificada para maiores de 13 anos, e resolveram que se tornasse uma atração familiar, censura livre para pequenos. O resultado é que o filme ficou bobão, mas sobreviveram alguns toques mais adultos. E era pra ser pior (ou melhor): eu vi depois no Youtube que as cenas deletadas incluíam até a normalmente feiosa e comportada Velma cantando e dançando sexy sobre o piano, pretty cool!

E, pasmem, era para até ter um beijo entre Velma e Daphne (com o propósito (ou pretexto) de suas almas, inadvertidamente trocadas, voltarem para o corpo certo), pena que acho que nem filmaram. Acho que com essa confusão de tons, o resultado que foi às telas ficou meio trash, muito criticado na época, mas que depois se tornou cult, pelo mesmo motivo. Eu, pessoalmente, não curti algumas coisas, como as sempre presentes piadas de pum (precisa?), mas gostei das personalidades atribuídas aos personagens clássicos (acho que tiradas da melhor série de desenhos da franquia: O Pequeno Scooby-Doo). Também os vestígios de filme pre-code (que desafiam sutilmente a classificação etária) achei, no final, que ficaram bem legais. E a Velma da bela atriz Linda Cardelini está demais!

Voltando para o longa de 2020 (disponível no Now), esse de animação, a primeira via CGI (gerada por computador), posso dizer que também teve muitas coisas bacanas. A trama, sobre um vilão que quer o Scooby para sua busca de um tesouro de Alexandre o Grande, revela-se bem urdida, daria um bom Indiana Jones (olha ele aí de novo). Mas o melhor é que há a presença de outros personagens da Hanna-Barbera, como Falcão Azul, o Bionicão, Capitão Caverna e, principalmente, o inesquecível Dick Vigarista, incluindo aí uma participação curta porém importante do meu favorito: Muttley, o cãozinho malvado com a risada mais divertida da cultura pop.

No filme, há um esforço para atrair o público infantil atual: a trama mais complexa, o abuso de tecnologias modernas, as tomadas grandiosas, muitas cenas de ação e a temática de relações humanas (e com pets) com vários momentos criados para puxar lágrimas. E Dick Vigarista lembra muito o Gru de Meu Malvado Favorito (ele tem até seus próprios minions, na forma de robozinhos). Talvez essa meta de atingir vários alvos tenha resultado exagerada, poderia ser mais simples e eficiente, mas o filme acabou me agradando bem!

E assim, chegamos à última quinta-feira, quando fui a uma construção gigante, cheia de cores, lojas e corredores amplos, como é mesmo o nome? Ah, sim, shopping center! Céus, como tenho saudades! Ainda não foi dessa vez que pude curtir passear por lá, passei batido, pois, para a minha surpresa, em pleno repique da pandemia, não estavam nada vazios os corredores do local. O que me leva a uma ótima cena de ação no início de Mulher-Maravilha 1984, justamente situada nesse símbolo da época, os nascentes shopping-centers. O filme, sobre um artefato que realiza desejos com risco de cair em mãos erradas, explora razoavelmente esse e outros elementos da época, como os figurinos (com direito a roupas largas e pochetes) e a paranoia da bomba nuclear. Podia usar mais dessa nostalgia, na minha opinião, coisa que ninguém faz melhor que a série Stranger Things.

De uma forma geral, Mulher-Maravilha 1984 começa muito bem, com cenas memoráveis (uma competição de tirar o fôlego na ilha original da heroína; cenas de ação como a citada no shopping ou outra na Casa Branca; e introdução de elementos do cânone como o jato invisível e a capacidade de voar, ambos em sequências belíssimas), dilemas morais interessantes (o famoso “cuidado com o que você deseja”) e, o principal: a presença nada menos que encantadora de Gal Gadot. Impressiona como a protagonista é cool, forte, linda e, quando demonstra uma fraqueza, é movida pelo coração e a gente empatiza totalmente. Não tem como não se apaixonar por ela.

No entanto, os defeitos do longa não demoram a aparecer. As regras do tal artefato são mal explicadas, mesmo seus efeitos caóticos parecem meio forçados (e poderiam acontecer de forma mais bem montada). Os ótimos atores Kristen Wiig e Pedro Pascal (olha o Mandalorian aí de novo) também estão muito bem no início. Ela, daquele jeito quero-ser-cool-mas-sou-loser que faz melhor que ninguém, e ele também no seu estilo canastrão-porém-com-substância. No entanto, ambos os personagens ficam over no final e, para a minha estranheza, são esquecidos no arremate. Uma pena. Aliás, esse final, com um clímax e uma solução que soaram inverossímeis, é o principal problema do filme, certamente foi o que gerou muitas críticas negativas. Como disse o Guilherme, aqui do Boteco, o filme tem o seu próprio “Maaarthaaa!” (reviravolta megacascata de Batman vs Superman). Eu concordo, mas fiquei pensando que a cineasta poderia ter feito exatamente o mesmo final de forma melhor, se tivesse preparado antes. Uma cena anterior mostrando a que nível podem chegar os poderes do laço mágico, por exemplo, poderiam salvar o estalo de dedos inacreditável que é apresentado para resolver a trama.

Enfim, espero que sejam a Gal Gadot, mandando na coisa toda, e as cenas esplendorosas, que tive o prazer de ver na saudosa telona, que fiquem na minha memória, e não o desfecho decepcionante.

Pelo menos, Mulher-Maravilha 1984 tem uma cena pós-créditos xuxu beleza, não perca, que me remeteu novamente à nostalgia dos anos 1980. O mesmo acontece no desfecho da segunda temporada de The Mandalorian e, um pouco, durante os créditos de Scooby! O Filme. Somos teletransportados para aquela época que era o maior barato, super chocante, mais gostosa que bala de leite Kids, mais mágica que desaparecimento da Estátua da Liberdade pelo David Copperfield, mais triunfante que a Gretchen no Qual é a Música

Depois, não tem jeito, voltamos, confinados, para 2020. Sim senhores, eu falei 2020, o ano que não acaba nunca. E a década de 80, bem… essa, infelizmente, tomou doril

Mulher-Maravilha 1984
★ ★ ★ ✩ ✩

The Mandalorians (1ª e 2ª Temp.)
★ ★ ★ ★ ★

Scooby-doo (2002)
★ ★ ★ ★ ✩

Scooby! O Filme (2020)
★ ★ ★ ✩ ✩!

Vladimir Batista

Vladimir Batista é escritor, professor e cinéfilo. Após 25 anos trabalhando como engenheiro em multinacionais de tecnologia, resolveu abraçar sua paixão de infância pelas palavras e por contar histórias e segue carreira na área de Letras e Literatura. Gosta de filmes e livros de gêneros variados, atendeu a vários cursos e oficinas de roteiros de cinema, de série e de técnicas de romance e tem um livro publicado pela Amazon: “O Amor na Nuvem De Magalhães”. Vladimir é casado, vegetariano e “pai” de cachorros resgatados.

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