Opinião

Será que a forma de cronometrar o futebol não está ultrapassada?

É verdadeiramente incrível que o futebol já tenha adotado o VAR e não mude suas jurássicas regras de cronometragem. A confusão ao final do recente jogo entre Grêmio e São Paulo pela Copa do Brasil é uma boa prova disto. Toda a briga girou em torno dos acréscimos concedidos (ou não) ao tempo de jogo.

No futebol, marcar o tempo e decidir os tais “acréscimos” é tarefa exclusiva dos árbitros, por critérios que só Deus sabe. É incrível que, em pleno século XXI, no esporte mais popular do mundo, ainda tenhamos uma cena destas; o árbitro se concentra, talvez consulte oráculos, entidades desencarnadas ou algo parecido, e dá a sentença; cinco minutos (ou três, ou oito). E depois pode ou não acrescentar ou tirar alguma coisa. O resultado, muitas vezes, é uma confusão como a que aconteceu neste jogo.

Sou um crítico deste sistema há muitos anos e, quando finalmente o futebol pareceu que ia se render à tecnologia, com o VAR e a Goal Line Technology, acreditei que viria uma nova era. Afinal, apesar de todas as críticas que sofrem, estes sistemas pelo menos servem para evitar erros catastróficos, como o gol com a mão de Maradona em 1986 e o “gol que não entrou” e decidiu a Copa de 1966 para a Inglaterra, ficando apenas em dois exemplos. Em outras palavras, bem ou mal, a arbitragem subiu de patamar.

A pergunta que não quer calar é; porque não contar apenas o tempo de bola em jogo, como já fazem há décadas o basquete, o futsal, o handebol e outros? Atendimento médico, substituição, consulta ao VAR – trava o cronômetro. Simples assim. E já que a própria FIFA afirmou que 60 minutos de bola rolando seria o “tempo ideal” para um jogo de futebol, fico pensando em qual a dificuldade de estabelecer dois tempos de 30 minutos, marcados por uma mesa de cronometragem fora do campo (talvez usando a própria cabine do VAR).

Isto nos livraria de cenas patéticas como jogadores simulando contusões, substituídos tendo que ser arrastados para sair do campo, demora proposital em cobranças de tiro de meta e até gandulas “cúmplices” do time da casa, retardando ou acelerando a entrega da bola para os jogadores (e até sumindo com elas, às vezes), conforme a necessidade.

Com cronometragem externa poderíamos até pensar em conceder dois pedidos de tempo para cada treinador durante o jogo. Ou mesmo dividir a partida em quatro quartos, como no basquete. Tudo isto proporcionaria mais espaço para inserções comerciais, gerando lucro prá todo mundo.

Uma última dica; para evitar que o jogo termine durante um ataque promissor, ou algo parecido, poderia ser adotado o critério consagrado nas peladas de rua da minha infância; o jogo só acaba na “primeira bola fora” após zerar o cronômetro. Mais uma discussão evitada.

Será que vale a pena conversar sobre isto? Acho que sim.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

Artigos relacionados

Um Comentário

  1. Prezado Marcio. Não entendo como com tantos técnicos de futebol no BR, este espaço esteja vazio. Não sei se os coments são excluídos automaticamente a partir de certo tempo. Pode ser. Bem, a questão da cronometragem a mim me parece fundamental para tornar o futebol mais justo. Estou consciente que deveria ser cronometrado exclusivamente o tempo de bol rolando. Pronto. Mas, ao mesmo tempo, me indago se com isso não poderia vir ocorrer o mesmo que está a acontecer com o VAR, que por seu uso indiscriminado acaba com a emoção e a polêmica e as discussões sobre um certo gol duvidoso. Digo uso indiscriminado pois entendo que, quando de sua criação, a intenção seria de ele atuar somente por solicitação do árbitro quando este tivesse em dúvida sobre algum lance durante o jogo. Hoje o VAR interfere à sua vontade, de dorma autônoma, sem que tenha sido solicitado. Outra regra que eu gostaria de ver substituída é a da cobrança do lateral com as mãos. Por que todas as infrações são cobradas com os pés, mas o tiro de lateral tem de ser com as mãos? Outra que eu acabaria é com a regra do impedimento. Não encontro justificativa para ela, que se extinta obrigaria os defensores a ter mais atenção à marcação quando sob ataque do adversário. Minhas opiniões. Abraços.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
%d blogueiros gostam disto:
Send this to a friend