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O “descrescimento econômico” como solução para a preservação do meio-ambiente

Este post é sobre a questão de fundo que organiza todo o pensamento ambientalista: a humanidade é a grande inimiga do planeta, e sua busca incessante por crescimento econômico e lucros é um pecado que será punido, mais ou mais tarde, com a ira de Gaia, a Mãe Natureza. Trata-se da versão científica do Juízo Final, com a diferença de que mesmo os “bons” serão punidos junto com os “pecadores”. Afinal, estamos todos no mesmo barco planetário.

Em artigo publicado no Estadão em 15/09, (Decrescer, uma saída para o planeta em colapso ou uma utopia?) alguns economistas defendem a tese do “decrescimento econômico”. Segundo essa tese, não bastaria “crescer de maneira sustentável”. Em um planeta com recursos finitos, mesmo esses recursos sendo consumidos de maneira mais lenta, um dia acabarão. A figura utilizada por um dos economistas citados é a de um trem que vai a alta velocidade na direção errada. Não basta reduzir a velocidade, pois a direção continuará errada. É preciso inverter a direção.

Bem, se o efeito do crescimento contínuo é a exaustão dos recursos naturais, o efeito do decrescimento continuo é, no fim da linha, a volta da humanidade às cavernas. O crescimento do PIB nada mais é do que a medida monetária do aumento do padrão de vida da população global. Vivemos hoje com um nível de conforto médio inimaginável para o homem comum do início da Revolução Industrial. O consumo de recursos naturais foi (tem sido) o preço pago para manter e aumentar este conforto.

Sabemos que diminuir o padrão de vida é das tarefas mais difíceis. Uma pessoa que perde o emprego e é obrigada a reduzir o seu padrão de consumo, sofre muito, por mais alto que seja o seu padrão anterior. O ser humano se acostuma muito rapidamente às coisas boas. Por isso, é mais fácil demonizar “os CEOs” e “a busca incessante por lucros”. Em resumo, culpar o “capitalismo selvagem”.

Na verdade, como sabemos, os CEOs das empresas respondem a incentivos. Os incentivos são dados pelos investidores das ações das empresas, que se valorizam na proporção de seus lucros. E os lucros, vejam só, ocorrem quando as empresas conseguem atender satisfatoriamente à demanda dos clientes. Então, na ponta final desse sistema que está levando o planeta Terra à destruição está, veja só, você, que sempre busca produtos e serviços melhores e mais baratos. E os CEOs, que são pagos para atender a esta demanda, levam a culpa.

A tese do “decrescimento do PIB”, além disso, é injusta. Países mais pobres, que não chegaram ainda a um padrão de vida decente, seriam os primeiros prejudicados por uma recessão global permanente. Se a diminuição do padrão de vida é ruim para os mais ricos, chega a ser cruel para os mais pobres. Não à toa, a tese é defendida por economistas de países mais ricos.

Não está aqui em discussão o problema das mudanças climáticas causadas pela humanidade, este breve artigo não se destina a refutar ou apoiar a tese. O objetivo é apenas chamar a atenção para o que realmente significa “reverter a deterioração do planeta”: diminuir o padrão de vida da população em geral. Esta má notícia ninguém conta, está escondida nos inúmeros planos governamentais de combate às mudanças climáticas, e que patinam como carro em atoleiro. Nesse sentido, a tese do “decrescimento do PIB” está cruelmente correta, seus proponentes são os únicos que têm a coragem de mandar a real sobre o que significa “reverter a deterioração do planeta”.

No entanto, sou mais otimista. Se alguém fizesse a previsão, há dois séculos, de que o planeta seria capaz de sustentar uma população de quase 8 bilhões de almas com um padrão de vida muitas vezes superior ao que vigia à época, seria considerado um visionário utópico, com um otimismo desligado da realidade. Isso porque temos imensa dificuldade de antecipar tecnologias. Da mesma forma, tentar prever o que acontecerá com o planeta daqui a um século com base na tecnologia atual é um exercício fútil. Aqueles que advogam a tese do “decrescimento econômico” subestimam a incrível capacidade humana de fazer mais com menos, capacidade esta levada ao máximo com os incentivos do capitalismo. Trata-se de uma visão pessimista da humanidade. No limite, segundo essa visão, seria melhor que não existíssemos.

Marcelo Guterman

Engenheiro que virou suco no mercado financeiro, tem mestrado em Economia e foi professor do MBA de finanças do IBMEC. Suas áreas de interesse são economia, história e, claro, política, onde tudo se decide. Foi convidado a participar deste espaço por compartilhar suas mal traçadas linhas no Facebook, o que, sabe-se lá por qual misteriosa razão, chamou a atenção do organizador do blog.

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