Opinião

Tudo o que você queria saber sobre a “Democracia Relativa” e tinha medo de perguntar

Por uma questão de justiça, devemos citar o criador do termo, o então Ditador Ernesto Geisel, que o usou em 1977, quando fechou o Congresso na marra. Diga-se de passagem que, na época, ninguém podia chamar Geisel de “Ditador”, mas sim de “Presidente” – como se ele tivesse sido eleito. A “Democracia Relativa” tem uma espécie de transtorno comportamental que a faz querer sempre se passar pela original. Mas não dá prá confundir. Talvez Freud explique. Enfim, as coisas mudaram desde 1977, mas não muito.

Agora, o Congresso dos Estados Unidos resolveu se meter na briga entre Ellon Musk e o Ministro Alexandre Moraes, do STF, este apoiado pelo Presidente Lula.

Aparentemente, a coisa é simples; num mundo globalizado, Musk é o dono de uma rede de troca de informações que também opera no Brasil. Musk e os Estados Unidos só conhecem a democracia em sua versão “standard”, onde todos são iguais perante a lei, todos têm direito a manifestar sua opinião e a cassação deste direito pode acontecer, mas só após um processo legal, com amplo direito de defesa, onde se prove que o cidadão representa algum perigo para a sociedade. Simple like that.

A partir do momento em que soube que, no Brasil, houve uma cassação em massa de contas, Musk tentou entender o que estava acontecendo. E a consulta que foi feita (agora com o apoio do Congresso americano) é bastante óbvia; por que estas contas foram cassadas? Qual a justificativa? Houve um processo legal? Onde estão as provas?

É neste ponto que o conceito de “democracia relativa” surge para deixar as coisas claras (ou não). Sua melhor definição é a do livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, onde os porcos que passaram a dominar a fazenda estabeleceram que “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”. Ou seja; na “Relativa” entende-se que deixar certos indivíduos livres para manifestar suas opiniões é muito perigoso, porque eles são inimigos da democracia. Em outras palavras, para manter a democracia, é preciso cassar o direito democrático de ter opinião diferente. Entendeu isto? Se entendeu me explica, por favor.

Numa segunda fase, estes “inimigos da democracia” são marcados como gado pelo dono da fazenda. Na época de Geisel eram chamados “subversivos”, hoje são “golpistas”. Variações sobre o tema. E como são muito perigosos, é melhor agir preventivamente; primeiro eles são amordaçados, depois se inicia o processo legal (só em caso de necessidade, que fique claro). Os “relativos” que ocupavam o poder em 1977 diziam que era necessário calar a oposição porque atrapalhavam o “País que vai prá frente”. E garantiam; “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Enfim, eram “defensores da pátria” (ou não). Já os de hoje calam os opositores porque estão “defendendo a democracia”. Conforme dizia Walfrido Canavieira, o imortal personagem corrupto de Chico Anísio, “Palavras são palavras, nada mais que palavras”. Na República de Bananas a farsa se repete como história. Desde sempre

Stanislaw Ponte Preta, genial escritor que foi calado pela Ditadura Militar, quando queria dizer que alguma tarefa era muito complicada, usava a expressão; “Mais difícil do que explicar em inglês, para um gringo, o que significa ponto facultativo”. Talvez explicar a “Democracia Relativa” para o Ellon Musk seja mais desafiador ainda. Por isto Lula e Alexandre preferem o confronto. Melhor do que tentar explicar o inexplicável é chamar o Musk de “inimigo do Brasil” ou reclamar que ele “nunca plantou um pé de capim”, ou algo parecido. Bem a propósito, sobre esta última metáfora, o animal urbano aqui ficou em dúvida; alguém planta capim? (tirando capim-limão, é claro). Bem, suponho que Lula deve ter recebido uma assessoria técnica do MST que, como se sabe, conhece tudo de agricultura, por isto quer se apropriar do agronegócio na marra. Afinal, Lula não é do tipo que sai por ai falando bobagens (ou não). Tá legal, chega de parênteses.

Enfim, vamos ver o que acontece. Não verás nenhum país como este.

Vida que segue.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo
Send this to a friend