Quem quer dar nome de rua?
A cada quatro anos, um enorme contingente de pessoas tenta nos convencer de que estão suficientemente habilitados para dar nome adequado às ruas de nossas cidades e definir bem os horários das feiras. Nas eleições de Outubro, o Brasil elegerá 56.818 vereadores. O que eles fazem é um mistério para a maioria da população.
Na teoria, são responsáveis por legislar sobre temas municipais. Na prática, pouco se sabe sobre sua efetividade. Felizmente, há um teto de 8% do orçamento municipal para ser gasto com a câmara de vereadores. Não fosse isso, seguramente a bancarrota de municípios seria uma praga nacional. Em algumas capitais, como Recife, um vereador tem à sua disposição até 23 funcionários. E se você, leitor, não sabe o que faz um vereador, desafio a descobrir o que faz seu assessor. A quantidade deles varia de cidade para cidade, mas a ‘boquinha’ está sempre presente. Arrisco-me a fazer uma estimativa conservadora: se cada vereador do Brasil tiver direito a 5 funcionários (em média), o que me parece razoável, pelo menos se comparado ao indicador da capital pernambucana, teríamos mais de 284 mil assessores no Brasil, que somados aos seus chefes resultam em um ‘exército’ superior a 341 mil funcionários do poder legislativo municipal. Se esse for um número direcionalmente correto, fica claro que uma função básica das câmaras municipais é a geração de emprego, atividade onde as mesmas são bastante eficientes.
O custo total desse exército de colaboradores dos municípios atingiu R$ 6.2 bilhões em 2010. A partir dos reajuste nos orçamentos dos anos posteriores, esse valor certamente superou a casa dos R$ 7 bilhões em 2012. É muito dinheiro gasto sem ter a devida contrapartida. Imaginem quantas escolas, hospitais ou creches poderiam ser construídas com esse valor.
No limite, alguém pode sustentar que meu raciocínio é anarquista. Afinal, analogamente chegaríamos à conclusões não muito diferentes para as Assembléias Legislativas estaduais, Câmara e Senado federais. Isso nos induziria facilmente à conclusão de que estaríamos melhores sem qualquer forma de governo, o que infelizmente é impossível. Mas eu realmente tenho muita curiosidade em saber o que os vereadores fazem com o meu dinheiro. Afinal, eles teoricamente são os políticos mais próximos à população. Entretanto, sabemos de notícias da Câmara Municipal somente quando algum escândalo é divulgado pela imprensa.
Esse tipo de governança existe em qualquer lugar do planeta. O nome pode ser diferente, mas a função de legislador municipal sempre se faz presente, do Zimbabwe à Noruega. Não tenho em mãos informações relativas às efetividades das diferentes estruturas da legislatura municipal mundo afora, mas suspeito de que não obteríamos uma boa colocação em um hipotético ranking do gênero. Infelizmente, nos tornamos reféns de um mastodonte que dificilmente emagrecerá. Sendo uma casta tão numerosa, certamente os vereadores e seus funcionários jamais permitiriam uma redução nos custos dessa máquina de eficiência ‘duvidosa’.
Para evitar que meu preconceito se intensificasse, dei uma chance aos vereadores. Assisti uma vez ao programa eleitoral e o ouvi pelo rádio um par de vezes. Fiquei boquiaberto com a qualidade dos postulantes ao cargo. A meia hora diária entre 8:30 às 9:00 tem potencial para ganhar prêmios de melhor programa humorístico do Brasil, desbancando o Zorra Total, a Praça é Nossa, entre outros. Humor interativo, já que os comediantes estão na TV e os palhaços estão assistindo. Mas não me arrependo. Pude concluir que as ruas da cidade de São Paulo não precisam de novos nomes. Não há necessidade de maiores inovações nessa área. Por isso, anularei meu voto para vereador. Mas continuarei preocupado com o que eles fazem com o meu dinheiro. Precisamos ficar de olhos bem abertos com essa turma…
Realmente, eu tenho ódio de ver meu dinheiro sendo jogado fora.