Brasil

‘Nossos bosques…tem mais vida!!!’ E nossa água é muito mais cara!!!!

Dizem os pessimistas que em um futuro não muito distante, as guerras ocorrerão em decorrência da falta de água.  A ONU prevê que até 2050, quase metade da população mundial não contará com a quantidade mínima individual de água para atender as necessidades básicas. Nesse aspecto, o Brasil está tranquilo. Ao lado de Rússia, Canadá e China, conta com as maiores reservas mundiais de água potável – provavelmente a maior do planeta.

 

O tempo dirá se as previsões catastrofistas se concretizarão. Mas esse não é o tema desse texto, apenas um gancho para tratar de um assunto bastante atual.

Com a crescente prosperidade econômica experimentada nesse século, o consumo de água mineral em garrafa no Brasil tem aumentado bastante. A última estatística que li a respeito, indicava um consumo per capita individual de 63 litros anuais e se referia ao ano de 2005. Hoje, certamente ele está bem maior e já deve ter superado os 80 litros anuais.

E como felizmente temos as maiores reservas de água doce do planeta, a lógica indicaria que pagaríamos barato por ela. Certo? Completamente errado.

Em recente viagem pelos Estados Unidos, um país que não está entre aqueles cujas reservas de água saltam aos olhos pela abundância, memorizei o preço de uma garrafa mineral de 591ml da marca Zephrylhills, famosa na Flórida, comprada em uma loja de conveniência de um posto Shell: US$ 0.99. Com o imposto, o preço final foi de US$ 1.06. Utilizando um câmbio de 1.80, estamos falando de um custo para o consumidor de R$ 3.22/litro.

De volta ao Brasil, fui checar o preço da água mineral por aqui. Em uma loja de conveniência do Posto Shell, encontrei as garrafas de água mineral de 500ml da Danone e da Crystal vendidas a R$ 2.90. Ou seja, um custo para o consumidor equivalente a R$ 5.80/litro.

Conclusão: no Brasil, país detentor das maiores reservas do mundo, a água mineral engarrafada é em média 79% mais cara que nos Estados Unidos! Um absurdo!!!! Estamos falando de um produto que pode ser considerado como a commodity suprema: água!!!! Não se trata de Ipads, laptops, iphones e outros gadgets. Nesses casos, já estamos acostumados a pagar muitíssimo mais caro por nossa incapacidade de produzir tecnologia localmente. Falamos de água! Qual o custo envolvido na operação de vendê-la? Assumo que engarrafá-la e transportá-la. E porque pagamos tão mais caro que os americanos para tomar água???

Não tenho a resposta, mas suspeito que o problema começa na baixa produtividade, catalisada por custos trabalhistas desenhados na primeira metade do século passado, e termina com impostos muito mais altos do que na terra do Tio Sam. Duvido que o retorno obtido com a venda de água mineral seja muito maior aqui do que nos EUA. Se bobear, é até pior. Temos abundância na matéria prima, mas não conseguimos fazer com que o preço do produto ao consumidor final seja minimamente compatível com as condições privilegiadas que a mãe Natureza nos concedeu. Isso chama-se ineficiência.

Pode-se louvar em prosa e verso a nossa nova condição de potência emergente, mas esse exemplo banal do preço da água mineral apenas prova que temos uma longuíssima jornada pela frente até atingirmos um estágio de desenvolvimento aceitável.

Em tempo, se não fosse pelo custo adicional do excesso de bagagem, trazer água mineral dos EUA seria um ótimo negócio para os turistas brasileiros. Considerando uma família de 5 pessoas, o consumo anual de água mineral gira ao redor de 400 litros. A família brazuca poderia trazer água para o ano a um custo de R$ 1290. No Brasil, pagaria R$ 2320. A economia de R$ 1029 é de proporções similares ao que se salva com eletrônicos, roupas, tênis, talvez até maior. Não fosse pelo peso, o aeroporto de Guarulhos ia receber mais água mineral que água das chuvas de verão!!! Não é uma piada????!!!!!

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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5 Comentários

  1. Eu não conhecia este seu lado escritor Victor! Muito bom o seu texto e concordo contigo, se não fosse pelo peso e volume, o aeroporto de Cumbica ficaria mesmo “inundado”…

    Os preços no Brasil estão realmente exorbitantes. Hoje por exemplo, postei a foto de um assento de privada ao custo módico de R$ 325,40! E olha que este não era nem de longe o assemto mais caro da loja!

    Se bem que agora, após ler seu texto, chego a conclusão de que se compararmos os custos de fabricação do tal assento sanitário com os custos de “fabricação” da água vendida aqui, aquele assento até parece uma bagatela não é mesmo! Rs

  2. Uma paciente do interior do PR me disse que, para reformar a casa dela, seria muito mais barato comprar produtos Deca (louças brasileiras), no Paraguai… Imagine isso… É tanto imposto que o produto produzido aqui, fica mais barato vendido lá fora… Assim como os carro da Fiat que saem daqui para toda América latina, e são bem mais baratos lá fora.

    É o mesmo que a água que vc encontrou em SP, ser vendida na Florida mais barata que no Brasil. Se exportássemos água, isso certamente ocorreria! Absurdo!

  3. Olá Victor, parabéns pelo blog, os textos são extremamente bem escritos, informativos e de uma sensibilidade impar. Adorei todos, já os reli várias vezes; “temos prazo de validade” é maravilhoso. Olha que interessante hj a Rede globo apresentou uma matéria que complementa seu texto.
    Confira: http://g1.globo.com/economia/pme/noticia/2012/03/empresa-do-litoral-de-sp-transforma-agua-do-mar-em-agua-para-beber.html
    Estou a instigada a te sugerir um tema: a presença dos avós na vida de nossos filhos.
    Aguardando o próximo,
    Abs.
    Fátima Ciapina

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