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Um mundo onde o que se pensa, não se fala…

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Crianças são autênticas. Dizem o que pensam, e com isso geram sorrisos e gargalhadas nos adultos, que algumas vezes escondem um certo constrangimento ao encarar a sinceridade infantil. Idosos são autênticos. Dizem o que pensam, normalmente cansados de obedecer por décadas aos padrões de comportamento de uma sociedade acostumada a ter cuidado com o que fala. No período entre a infância e a velhice, como regra geral as pessoas se acostumam a falar o que devem, e não o que pensam.

Outro dia, em viagem à Africa do Sul, a Presidente Dilma falou o que pensava em uma entrevista de sopetão a jornalistas. Se deu mal. E o que ela realmente pensa não é de agrado da maioria dos analistas de mercado. Mas ela falou. Horas depois, saiu furiosa de um evento e disse, muito brava, que houve manipulação do que havia dito. Rusticamente, ela ligou o famoso ‘veja bem…’, para explicar ‘que não é bem isso’. O momento de maior perigo para figuras públicas são essas ocasiões informais, para as quais não há preparação prévia, pois as chances de alguém dizer o que realmente se pensa aumentam muito e com isso também as possibilidades de confusão.

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Reparem nas declarações ou entrevistas de CEOs mundiais, ministros de estado, presidentes, entre outros. Em geral, são de uma ‘mesmice espetacular’. As figuras mais polêmicas no mundo artístico, político ou corporativo, via de regra são aquelas que falam o que pensam. Elas certamente vendem mais notícias e a mídia sempre está à sua espreita, na espera de mais um ‘foguete’. Registre-se: Steve Jobs, Romário, Maradona, Eurico Miranda, Andres Sanchez, Luana Piovani, Nelson Piquet, Ciro Gomes, Dercy Gonçalves, entre outros…não escondem o que pensam, mesmo que seja uma opinião lamentável. A vida fica muito mais divertida com esses personagens politicamente incorretos.

falar_o_que_pensa2Falar o que pensa é politicamente incorreto? Muitas vezes, sim. E isso não se restringe ao trabalho. Em qualquer aspecto da vida, até nas relações pessoais e familiares, a sinceridade em excesso pode gerar efeitos colaterais não desejáveis. No mundo de hoje, a forma com a qual se diz algo é tão importante quanto o seu conteúdo (já escrevi sobre isso no texto ‘ A ditadura da forma na Era do  superficial’). Uma simples opinião do tipo ‘isso está ruim’ pode ser traduzida em muitas linhas, e terminar passando uma mensagem difusa. Dito assim, em três palavras, pode transformar o seu interlocutor em um carrasco antipático e sem coração. Emitir opiniões que são notadamente contrárias ao ‘status quo’ vigente pode causar transtornos a quem as faz: preconceito, perseguições veladas e assédio moral, nos mais variados níveis.

Então vivemos em um mundo hipócrita?  Em parte, sim. Em prol de uma convivência social ou ambiente de trabalho ‘moderados’, muitas vezes deixamos de manifestar nossos pensamentos com a assertividade que eles brotam em nossa mente. Entre o cerébro e a boca,  existem rédeas de contenção que suavizam ou mesmo impedem que cometamos impropérios verbais. Se todos ‘falassem o que vem à telha’, o mundo seria muito mais conflituoso.

Se você sente necessidade de falar o que pensa em qualquer ocasião, e não quer ser carimbado como as figuras mencionadas acima, o jeito é cultivar uma turma de amigos chegados, onde não será julgado por sua opinião diferente ou muito objetiva. A outra alternativa é esperar pelos setenta e poucos anos e colocar a boca no trombone. Nessa idade, já será perdoado. Mais trabalhoso, porém socialmente aceitável, é dizer o que pensa de forma indireta, tornando-se um ‘mestre das entrelinhas’.  Pensando bem, nesse aspecto é mais fácil ser criança ou idoso. Eles não precisam se preocupar com isso…

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Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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2 Comentários

  1. Uma vez, conversando com uma consultora de RH sobre qualidades dos profissionais no mundo corporativo, discutimos sobre ‘transparência’, no sentido de sinceridade. Esta é uma qualidade que, se mal utilizada, pode ser uma fragilidade do profissional. Mas, se bem usada, pode ser de grande valia, especialmente para a empresa. O ‘como’ é a chave do negócio e talvez a parte mais difícil de se conseguir fazer direito. Um dos seus comentários foi de que já viu muitas empresas passarem por sérios problemas por falta de ‘sinceridade’ dos executivos e que, algumas delas chegaram a quebrar. Faz sentido.

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