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Welcome to the www (Warm World War)

Já não se fazem mais guerras como antigamente, Vlad...

A evolução nos transformou em uns bichos impacientes e acomodados. Não adianta negar, isso também inclui você que está me lendo agora. Confesse: se aquele marcadorzinho no alto da página indicasse que este texto leva mais de 7 minutos para ser lido você nem teria começado a leitura …

Entender e aceitar isso é o segredo por trás dos políticos que mais se dão bem hoje em dia. Repare o que tem em comum todos os políticos populistas, tanto de esquerda quanto de direita, de países ricos ou pobres: são eleitos porque prometem vida acomodada para quem votar neles! E, perdem eleições seguintes porque os eleitores não tem paciência para esperar estas promessas serem entregues.

Não levar em conta estas duas novas características fundamentais dos seres humanos é o que está por trás da maior parte das bolas foras que são cometidas todo santo dia, por todo mundo, no mundo todo.

Em menos de uma semana aposentamos nosso PhD em imunologia e infectologia, desenvolvido ao longo dos últimos 2 anos, e fizemos um MBA executivo em geo-política internacional, com especialização em guerras na Europa do Leste .

Você leu certo, nem parece mas a invasão das tropas russa na Ucrânia ainda não completou nem uma semana!

Mas já foi suficiente para passarmos da fase inicial de otimismo de que não haveria invasão, para a raiva contra o Putin por realmente ter invadido, admiração pela resistência ucraniana, depois a ansiedade pelo iminente fim do mundo numa hecatombe nuclear e, até os últimos 15 minutos atrás, ainda vivíamos um otimismo porque tudo está saindo errado pra Rússia e algum tovarich contaminado pelo coronavírus irá espirrar perto do Putin, o infectar e ele entrará numa espiral paranóica que o levará ao suicídio.

Este é o Mundo de 2022: o da Guerra-Twitter, que precisa estar concluída em 280 caracteres, no intervalo da agenda entre o fim da Covid19 devido ao feriado de Carnaval e a estr´éia de The Batman no dia 3 de março.

Vladimir Putin é um ex-agente da KGB, que iniciou sua carreira na Alemanha Oriental e, após a queda do Muro de Berlim e desmantelamento da URSS, teve uma ascendência vertiginosa no caótico ambiente russo durante a presidência de Bóris Yeltsin e governa a Rússia desde 1999.

E, o destino lhe foi favorável: ele tem o physique du rôle que esperamos de um ex-KGB que se torne presidente russo ! Isso faz com que tenhamos aquela típica distorção cognitiva de achar que ele seja frio, calculista, implacável, um gênio pragmático infalível. O vilão perfeito para um filme do 007!

A partir desta premissa, que qualquer coisa que tenha a grife “озданный Владимиром Путиным” (criada por Vladimir Putin) sempre será algo com propósito infalível e satânico, o mundo entrou em pânico desde quinta-feira passada, já contando os minutos para o fim do mundo.

Porém, Putin cometeu um erro fatal: Ele se baseou nas 2 premissas certas, que os seres humanos se tornaram acomodados e impacientes. Porém, utilizou uma estratégia aprendida durante seus anos de formação na KGB, baseada em valores do século XX, que já não funcionam mais em 2022.

Sua Blitzkrieg inicial tinha 2 objetivos:

  • apavorar os ucranianos com os ataques iniciais e leva-los a se render imediatamente por medo do que poderia vir a piorar nos dias seguintes. Ele contava que o ex-humorista que inacreditavelmente foi eleito presidente em 2019, renunciaria por medo e aceitasse a carona no jato da força aérea americana que o governo biden-mole ofereceu para leva-lo a um país que o aceitasse como refugiado político.
  • Amedrontar os dirigentes e habitantes dos demais países da OTAN, com a perspectiva de novas invasões em outros países que declararam independência da antiga URSS, e reanexa-los com a omissão da atual geração de líderes cautelosos, não dispostos a sair de suas calmas rotinas diárias de democracias de bem-estar social, tipo assim o Castreau do Canadá ou o Bundon francês. Lembre-se que a Europa ocidental tornou-se energeticamente dependente do petróleo e gás russo (valeu, Merkel, por ter cedido à pressão dos Verdes e abdicado da energia nuclear). Ele apostou que o comodismo dos eleitores destes países, preferindo continuar contando com energia barata e abundante, falaria mais alto que a solidariedade pelos habitantes de um país que tem caras, nomes e idioma indistinguíveis do russo.

Na teoria, estratégia perfeita. E, principalmente, lhe renderia dividendos no mercado interno. A Rússia de Putin tem sido uma ditadura nos últimos 23 anos. Têm eleições, mas são tão pouco críveis quantas as que reelegem nosso vizinho Maduro na Venezuela. Sua estratégia eleitoral mais comum é envenenar adversários políticos. Em países assim, o ditador não precisa conquistar votos de eleitores. Apenas tem que ser mais forte que seus companheiros da classe dirigente, para desestimular qualquer tentativa de golpe contra si, e manter os habitantes do país numa faixa ideal de satisfação com seu governo, para evitar revoltas populares que costumam ser um incômodo administrável com uma repressãozinha básica.

O problema é quando essas revoltas populares levam o ditador de plantão a ter que subir o tom na repressão. E, aí chegamos na Ucrânia …

Você assistiu o documentário Winter On Fire, na Netfllix? Se não, assista. Ele explica o porquê do que está acontecendo na Ucrânia hoje.

Durante 4 meses, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, a capital Kiev teve manifestações de protestos, por conta do presidente Víktor Yanukóvytch, eleito com apoio da Rússia de Putin, ter subitamente interrompido as negociações para entrada do país na União Européia, por por pressão de Vladimir Putin. Não darei spoilers sobre o que aconteceu nesses 4 meses (assista o documentário!!!), mas no final o presidente renunciou e logo em seguida a Russia invadiu e anexou as regiões ucranianas da Criméia e Donbas e passou a apoiar os rebeldes separatistas das provincias de Luhansk e Donetsk, em conflitos que já resultaram em milhares de mortos.

Assim, invadir a Ucrânia, derrubar o governo atual e instalar um simpático a Moscou era o cenário dos sonhos pro Vlad: teria um país vizinho domesticado, aumentaria seu cacife para novas exigências junto aos países da OTAN, e mostraria para seu público interno que ele continuava sendo o poderoso líder incontestável e que qualquer tentativa de revolta popular na Rússia, nos moldes da Euromaidan (Primavera Ucraniana) seria inapelavelmente reprimida.

E, com sorte, ele deixaria como seu legado para a história a reestruturação da mãe-Rússia em moldes semelhantes aos da antiga URSS (ele nunca aceitou o modo como a União foi desmantelada e antigas repúblicas satélites aderiram à União Européia) .

Só que …

Quem diria, parte 1: o presidente Volodymyr Zelensky, mostrou-se um líder surpreendente, que não apenas não se rendeu como inspirou a resistência dos ucranianos ao ataque russo!

Quem diria, Parte 2: A impaciência das pessoas funcionou para viralizar, com uma rapidez impressionante, o engajamento de populações do mundo inteiro em manifestações fofinhas de apoio à Ucrânia.

Quem diria , Parte 3: o engajamento dos eleitores, digo, da população das democracias ocidentais na causa ucraniana levou seus líderes a pensarem nas próximas eleições, digo, a também se solidarizarem e decretarem medidas de retaliação contra a Rússia mais fortes do que pretendiam inicialmente.

E, agora entra o erro cometido pelo Putin, com um impacto junto a Stakeholders russos de uma maneira que ele não esperava…

Meu amigo Marcelo Guterman publicou esta brincadeira hoje, que me inspirou a escrever este post que você está lendo agora. O fato é que, no mundo de 2022, equipamentos militares tem sua importância em operações como esta, mas novas ferramentas também contam na batalha.

Nas últimas semanas, as redes sociais russas foram municiadas com uma intensa campanha de desinformação para preparar o povo russo sobre o que aconteceria, numa narrativa conveniente aos interesses de Putin.

Já as medidas de sanções econômicas decretadas pelos governos dos países ocidentais, somadas com iniciativas avulsas não-governamentais, como por exemplo a suspensão das competições pela FIFA , embargos de bens e serviços digitais, até podem ter sido previstas por Putin como algo “administrável” durante um periodo de tempo. Mas, ele não contava com a impaciencia de seus diversos públicos internos.

O congelamento de ativos no exterior de bilionários russos, somado com a proibição de uso do espaço aéreo, provocou reação forte de descontentamento e pressão desta elite contra o presidente. A população russa em geral também está enfrentando inconvenientes no seu dia a dia, por conta das consequencias do embargo, como desvalorização da moeda, subida da taxa de juros, filas para saques em dinheiro, etc. Provavelmente a proxima consequência será o desabastecimento de bens de consumo nos varejistas das cidades russas. Sem falar na virtual interrupção no comercio externo entre empresas russas exportadoras e países importadores. Até mesmo a China , nos últimos dias, já tem dado sinais que não dará aquele apoio incondicional que parecia acertado previamente entre os dois países.

Abaixo um clipping de várias destas consequências e pressão que o presidente Putin já vêm enfrentando internamente:

A Rússia perdeu esta guerra!
Talvez ainda não militarmente, mas já moralmente!

E, o grande vencedor, sem dúvida, é o presidente Zelensky, com 94% de aprovação em seu país pelas suas atitudes nesta última semana e por estar sabendo usar a situação como um Fast-Track para a entrada do país na União Européia.

https://www.oantagonista.com/mundo/aprovacao-de-zelensky-vai-a-94-na-ucrania/
https://www.oantagonista.com/mundo/nao-nos-abandonem-provem-que-voces-sao-europeus-diz-zelensky-ao-parlamento-da-ue/

Já quanto ao Putin … o poderoso e temido Putin … vou fazer minhas as palavras do Mario Sabino, n’O Antagonista:

https://www.oantagonista.com/opiniao/os-russos-precisam-derrubar-putin/

Vladimir Putin, o frio e duro ex-agente da KGB que soube tornar-se presidente e manter-se no poder por 2 décadas estava preparado para as consequências de suas ações. Mas, ele não contava que seus impacientes e acomodados compatriotas não estariam. E, muito menos no poder que impacientes e acomodados tem atualmente, quando algum fator perturba sua confortável e cômoda impaciência…

PS: a sanção definitiva, que poderá encerrar esta guerra-Twitter antes do dia 3 de março, pode vir a ser esta aqui:

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

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