
Hoje o Brasil ganhou suas primeiras três medalhas, uma de prata com Willian Lima, no judô masculino (categoria até 66Kg) e duas de bronze, com Larissa Pimenta, também no judô (até 52Kg) e Rayssa Leal, no Street skate.
O judô é a categoria olímpica que mais trouxe medalhas ao Brasil, agora são 26 no total e há 40 anos nunca falhou em subir ao pódio, já são 10 Olimpíadas seguidas. Se observarmos o ranking geral histórico de mundiais e jogos olímpicos, o Brasil se posiciona bem, em disputa acirrada no segundo escalão desse esporte dominado por Japão, França, Coreia do Sul, Cuba e China. Geralmente ao redor da décima força, nunca decepciona. Consideremos que trata-se de um esporte amador, com pouca visibilidade e apoio em um país notoriamente monoesportivo, é um resultado expressivo.
Para os quase leigos, como eu, vale um esclarecimento sobre as regras. O objetivo de uma luta é derrubar o seu oponente com as costas no chão ou conseguir uma imobilização por mais de 20 segundos. Qualquer uma dessas situações vale 2 pontos e equivale ao fim do combate, seria um ippon. Se o lutador conseguir colocar seu oponente de costas no chão por um período breve ou imobilizar o adversário entre 10 e 20 segundos, é um golpe de 1 ponto (vazzari), para vencer a luta são necessários 2 desses. Durante a luta, de 4 minutos de duração, o árbitro pode atribuir punições aos atletas por falta de combatividade ou alguns outros critérios técnicos. É o famoso cartão amarelo,, e a cada três recebidos, o oponente ganha um ponto.
Aqui existe um certo grau de subjetividade e imagino que há espaço para reclamações e polêmicas, embora a tradição oriental normalmente se sobreponha pelo respeito à hierarquia.
Se a luta terminar empatada no tempo regulamentar, começa a etapa do golden score, e quem fizer o primeiro ponto ganha, se estendendo até que isso aconteça.
O atleta brasileiro Willian Lima chegou a final hoje com um ippon sensacional no golden score, derrotando um judoca alemão e na finalíssima foi superado pelo japonês Hifume Abe, agora bicampeão olímpico (já havia sido ouro em Tóquio) e invicto desde 2019. Um resultado fantástico, que obviamente deixa um gosto amargo pela perda do ouro, mas que pelo contexto, tem quase o mesmo valor.
Larissa Pimenta conquistou sua medalha de bronze pela respescagem, e aqui cabe mais um esclarecimento, nas modalidades de luta, são distribuídas duas medalhas de bronze, porque os competidores são distribuídos em duas grandes chaves. Os campeões de cada chave se enfrentam em uma final olímpica e os segundos melhores de cada lado ganham bronze. Isso é feito para não prejudicar alguém com “azar” no chaveamento, fazendo com que o atleta tenha chance de medalha mesmo após sofrer uma derrota.
Voltando à judoca brasileira, sua luta final contra a italiana Odette Giufrida, atual campeã mundial, foi exaustiva, mais de 4 minutos de golden score. A brasileira saiu em desvantagem com dois shidos (punições) por falta de combatividade, mas virou o jogo e venceu exatamente por esse critério. Detalhe, ela já havia lutado contra a italiana em seis ocasiões, e perdido todas. Um grande exemplo de superação, um bronze com “jeito” de ouro!
No Street skate, Rayssa Leal, 16 anos, prata em Tóquio, descolou um bronze na bacia das almas, em sua última tentativa na fase de manobras e passa a ser a atleta olímpica mais nova da história a conquistar medalhas em duas Olimpíadas seguidas. Aqui as regras são as seguintes, as oito finalistas carregam a melhor nota do “rolezinho” pela pista (45 segundos para atravessá-la com várias manobras) em duas tentativas e na sequência as duas maiores notas em cinco tentativas de manobras específicas.
O somatório das três notas é considerado para a pontuação final. Eu confesso que não entendo muito como a nota é atribuída (inclusive com duas casas decimais), deve haver critérios bem estruturados. Ao longo da competição, tentava adivinhar qual seria a nota da competidora, em geral, chegava perto, entendo que ao menos nesse evento não houve margem para reclamações (é sempre mais complicado quando o vencedor é definido por árbitros).
Rayssa não foi muito bem na primeira fase, terminou com 71 pontos, a uma distância que tornava o ouro difícil (as japonesas abriram mais de 15 pontos de vantagem) e depois de fazer uma excelente pontuação na sua segunda manobra (92 pontos), foi para a quinta tentativa com a obrigação de pontuar muito alto, sob o risco de voltar para a casa de mãos abanando. Não deu outra, aguentou a pressão, cravou 88 pontos e garantiu o bronze, com o pódio completado pelas japonesas. Tivesse feito a primeira parte melhor, brigaria pelo ouro. Em uma final disputada por todas as atletas com menos de 20 anos, Rayssa se consolida como una gigante nesse novo esporte olímpico, com um futuro ainda mais promissor, dada a pouca idade.
Outros registros importantes do dia, primeiro o ouro do nadador francês León Marchand nos 400m medley, atual recordista mundial, batendo o olímpico em 4m02’50″”, um passeio nas águas de Paris, com metade de piscina de vantagem sobre o segundo colocado, o japonês Matsushita Tomoyuki (4m08’62″”).
O Brasil tem uma certa tradição nessa prova, com duas pratas, uma com Ricardo Prado em Los Angeles 1984 (4m18’45”) e Thiago Pereira em Londres 2012 (4m08’86”). O vencedor em Londres nadou em 4m05 e em Tóquio em 4m09. Ou seja, os tempos do nadador francês são mesmo de outro planeta.
Outra nota importante foi a final dos 100m borboleta feminino, simplesmente sensacional. A americana Terry Husket virou os primeiros 50m em terceiro lugar a 21 centésimos de sua compatriota Gretchen Walsh, atual recordista mundial, que liderou a prova toda até praticamente a batida., quando foi superada por Husket por meros 4 centésimos. Em Tokyo, a nova campeã olímpica perdeu una medalha nessa prova por 1 centésimo. Hoje, fez história e resgatou a decepção de 3 anos atrás, com os últimos 50m em um ritmo monstruoso.
Na minha opinião, as provas do nado borboleta são as mais bonitas esteticamente e extremamente demandantes. Você pode notar o rosto de muitos atletas corados ao final delas. Esses 100m ou 200m dessa modalidade valeriam a colocação de uma ambulância da Samu à espreita para qualquer eventualidade. Quem praticou, sabe do que estou falando.
E o que dizer da final dos 100m peito masculino, com todos os 8 nadadores terminando no mesmo segundo? O vencedor, Niccolo Martinenghi, cravou 59’03”, um azarão que superou o atual campeão olímpico e recordista mundial, o britânico Adam Peaty, por apenas 2 centésimos. Detalhe, houve empate na prata, com o americano Nik Fink finalizando com o mesmo tempo.
Não faltaram emoções nesse Domingo olímpico, um dia bom para o Brasil, com três medalhas, grande feito de Willian, Larissa e Rayssa! Vamos ficar de olho no mesatenista Hugo Calderano, na melhor fase de sua carreira e na ginástica artística feminina, boas chances de medalha!


