Segundo pesquisa da Exame/Futura, Pablo Marçal mantém a liderança na pesquisa para prefeito de SP com 26.2% da intenções de voto (+1% contra a pesquisa anterior, em que ele já aparecia em primeiro), mas a segunda colocação se inverteu e agora tem o atual prefeito, Ricardo Nunes, com 23.9% (+6%), seguido pelo psolista Guilherme Boulos com 20.6% (-2.7%). Datena e Tábata com 8.9% e 6.7% respectivamente e Marina Helena com 2.2% estão bem atrás.
Para o segundo turno, a pesquisa prevê Nunes vencendo com folga todos os demais candidatos e Marçal superando Boulos por 43.4 x 37.7%. A vantagem de Nunes nessa fase se dá pelo seu índice de rejeição (13%), bem inferior aos outros (Boulos com 42.7% e Marçal com 33.7%).
A pesquisa da Datafoha divulgada hoje coloca os três principais competidores empatados (Boulos 23%. Marçal 22%, Nunes 22%). Nela, a rejeição de Marçal e Boulos é similar (38 e 37% respectivamente) e a de Nunes bem mais baixa (21%). A divergência do cenário Datafolha para o da Exame se dá na disputa de segundo turno entre Boulos e Marçal, com o psolista à frente. Nunes também venceria todos os oponentes em um segundo turno.
Tecnicamente falando, ambas as pesquisas podem afirmar que estão os três estão empatados dentro da margem de erro, aqui existe uma diferença no Datafolha atribuindo a Boulos uma rejeição menor do que a registrada na Exame, o que ainda lhe daria uma vantagem contra Marçal em um segundo turno. A convergência parece ser no diagnóstico da freada do crescimento de Marçal (seria uma pausa?), o aumento de sua rejeição e o franco favoritismo de Nunes no segundo turno, o que faz com quem tanto Boulos quanto Marçal desejem um ao outro como oponente direto.
Muitas vezes os analistas políticos tratam o eleitor médio com uma lógica cartesiana que não o representa, criando uma espécie de muro entre os ditos candidatos de “direita” e “esquerda’, assumindo equivocadamente que não há conexões entre ambos lados. Não existe muro, mas uma área aberta onde boa parte dos eleitores circula sem dar importância às definições ideológicas. Isso posto, é plenamente possível que um eleitor mude o seu voto de ‘um Boulos para um Marçal” e vice versa. A cabeça do “afegão” médio não segue as prescrições ideológicas discutidas pelos especialistas e palpiteiros de boteco, como esse que vos escreve.
Dito isso, me arrisco a tirar conclusões em cima desses números.
- Marçal, o anti establishment, bem articulado com uma retórica menos rebuscada, mas ao estilo Ciro Gomes (com afirmações que muitas vezes não resistem ao “fact checking”), só que com muito mais controle emocional, veio do “nada para a liderança”, pegando de surpresa seus competidores. Aparentemente, parou de subir. O lado negativo da fama repentina também trouxe consigo maiores índices de rejeição (33% e 38%). Tem boas chances de chegar ao segundo turno. Eu acho que dos três, é o que mais está próximo desse objetivo.
- Dado como carta fora do baralho por muitos que previam que Marçal tiraria boa parte do seu eleitorado, Ricardo Nunes segue resiliente e tem uma “arma secreta” que somente lhe será útil em um segundo turno: a menor rejeição. O apoio contundente do governador Tarcisio também pode fazer a diferença. A missão mais difícil para Nunes é “passar de fase”, nem que seja na bacia das almas. Se conseguir, automaticamente será o favorito.
- Boulos, assim como muitos analistas, provavelmente achava que sua vaga para a “finalíssima” estava garantida. Os argumentos usuais sustentavam que o PT quase sempre chega ao segundo turno (quase, não se esqueçam que Haddad foi “surrado” em primeiro turno pelo Dória), Marçal e Nunes dividiriam o eleitorado da “direita” e que na eleição presidencial Lula venceu Bolsonaro na capital Paulista (análise rasa, já que era outra eleição, há dois anos e com outros personagens). Pois bem, o “afegão médio” aparentemente está ignorando essas teorias, há evidências de que Marçal está “mordendo” parte do usual eleitorado petista na periferia. De qq maneira, pela sua alta rejeição, cuidadosamente construída em anos de invasões e radicalismo, a versão “social democrata para inglês ver” de Boulos chegaria ao segundo turno como azarão contra Nunes, e em uma disputa ainda em aberto contra Marçal, que deve ser a preferência do psolista para um embate final.
- A candidatura Tábata não emplacou, a ver se ela consegue chegar em dois dígitos e sair maior do que entrou nessa campanha. Eu tendo a acreditar que periga se desidratar ainda mais por conta do voto útil na reta final.
- Meu palpite é que Datena desiste antes da eleição, vai inventar uma desculpa qualquer e sair de fininho. Não será surpresa para ninguém. Depois desse vigoroso fiasco, vários partidos e muitas bravatas, espera-se que ele fique sossegado em seu microfone de rádio daqui a dois anos.
- Marina Helena gera impressões positivas no eleitorado mais liberal, mas isso é insuficiente para carregar mais que 5% dos votos, seus números atuais devem até cair por causa do voto útil.
Entendo que a eleição segue aberta sem uma definição clara, há 3 candidatos competitivos para 2 vagas no segundo turno. Coincidentemente, tanto para Marçal, quanto para Boulos, seria melhor que Nunes fosse derrotado antes, isso pode implicar em mais ataques ao prefeito dos dois lados, à esquerda e à direita. Por outro lado, o fato de ser atacado não quer dizer necessariamente que você vai piorar seu desempenho (Marçal que o diga), e se o prefeito resistir firme com sua rede de apoio (principalmente Tarcisio), além de ter a máquina a seu favor, chegando segundo turno, transforma-se no candidato a ser batido.
Estamos a menos de um mês do primeiro turno, ainda há tempo para mudanças, mas eu reforço a minha previsão feita há alguns meses contra a qual quase ninguém aceitou apostar: Boulos não será prefeito. Por mais que uma eventual disputa contra Marçal lhe traga esperanças, o Datafoha a essa altura da competição frequentemente infla um pouco os números do candidato da esquerda. Eu aguardo a próxima edição da Paraná Pesquisas para ratificar ou ajustar meus pitacos, mas por ora, esses são meus “achismos”.