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Em breve: ‘uma IA para chamar de sua’

Vídeos de inteligência artificial pipocam na minha timeline com uma frequência quase diária. Alguns são hilários, como aqueles que colocam vozes adultas em versões infantis de artistas — os do cantor Leonardo, então, estão impagáveis.

Outros exploram contrastes mais sérios: imagens de alguém décadas atrás lado a lado com sua aparência atual. Para quem já tem quilometragem rodada e conheceu esses personagens no passado, as marcas do tempo saltam à frente e se tornam protagonistas da reflexão. Afinal, o tempo não poupa ninguém — nem as celebridades, nem nós, anônimos que também nos deparamos com nossa “versão 30 anos depois” diante do espelho.

Há também os vídeos de artistas já falecidos. A IA recupera imagens antigas e as contrasta com registros mais recentes, muitas vezes mostrando um sorriso de despedida. É curioso como só então percebemos a quantidade de gente conhecida que já partiu. Em muitos casos, são atores de papéis secundários — “um filme aqui, uma novela acolá” — que nos arrancam aquela reação surpresa: “Nossa, havia esquecido que fulano já tinha morrido!”

Essa sensação inevitavelmente transborda para o nosso círculo pessoal, aguçando a percepção da passagem do tempo e das pessoas — especialmente em quem já entrou na “segunda etapa da vida”.

Mas o ponto central que me intriga não é o tempo, e sim a própria IA. Hoje ela apenas costura vídeos, mas não tardará para que, a partir de textos, áudios, fotos e gravações, seja capaz de recriar alguém que já partiu. Não só em imagem, mas em interação — conversas que podem ser bem mais intensas do que lembranças protocolares e, quem sabe, quase tão profundas quanto as de quando a pessoa estava viva. Claro, não espere reencontrar seu bisavô em versão digital — faltam registros suficientes. Mas para quem se foi recentemente, deixando rastros digitais abundantes, a possibilidade é real.

Nós, que estamos apenas iniciando o “segundo tempo da vida”, podemos até imaginar um futuro em que deixaremos versões nossas em IA como legado para filhos, netos e bisnetos. Uma herança imaterial, mas capaz de simular presença.

Louco, não?

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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2 Comentários

  1. Nunca tivemos muito controle sobre a Vida, embora, acreditemos que tínhamos essa primazia. O mundo rodava mais devagar e tínhamos tempo de agir e ir ajeitando o caminho sendo que, às vezes, dava certo. Hoje em dia a velocidade das coisas é tanta que não da mais para corrigir o percurso a tempo. Vendo a IA chegar com tanta força fico atônito, perplexo, cheio de esperanças e receios. As áreas de saúde e educação, por exemplo, tem tanto a ganhar, e a violência também. Opa, pera aí, e a liberdade de expressão ? É melhor parar por aqui.

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