Opinião

Transexuais no esporte e o terraplanismo de gênero

Fui um razoável jogador de vôlei, cheguei a disputar campeonatos no colégio, na faculdade e na Petrobras. Isto no tempo em que os meus 1,81m não eram uma altura ridícula para um atleta de vôlei. E sobrou uma paixão enorme pelo esporte; até hoje acompanho qualquer jogo de vôlei que esteja passando na TV.

Pois um dia eu estava acompanhado um jogo pela Superliga feminina, quando um ataque de diagonal curta de uma menina me chamou a atenção. Para os leigos, explico que é um lance em que a jogadora corre paralela à rede, vindo de encontro à armadora, e bate num ângulo fechado. No masculino, Geovane era especialista nisto. Eu nunca tinha visto uma mulher fazer um ataque destes com tanta velocidade e força. E foi aí que descobri que o nome da moça era Tiffany, a primeira transexual do vôlei brasileiro.

Vejam bem, eu não sabia da história. Conversando depois sobre o assunto com amigos ligados em vôlei, um deles levantou uma tese muito boa; o corpo da mulher foi feito para abrigar um bebê, portanto a ossatura dos quadris delas é proporcionalmente mais larga que a de um homem (fato). Por isto Tiffany corre e salta com mais desenvoltura que as mulheres “originais de fábrica”. Somando isto à sua força e explosão muscular, desenvolvida em um corpo de homem até os trinta anos, temos as condições que fazem com que ela faça o ataque de forma tão diferenciada que chamou a minha atenção. Simples assim.

Tudo bem .sou um mero ex-peladeiro dando palpites, meu depoimento não vale nada. E o do Bernardinho vale alguma coisa? Pois é. Irritado ao ver que o esforço de suas meninas para bloquear ou defender os ataques de Tifanny era inútil, reclamou em linguagem de beira de quadra  (ver https://veja.abril.com.br/esporte/bernardinho-desabafa-sobre-tiffany-durante-partida-um-homem-e-f/ ). Obviamente o patrulhamento inquisitorial o obrigou a voltar atrás, mas a sensação dele foi igual à minha; é uma competição desigual. Recentemente a multicampeã Tandara também manifestou opinião semelhante.

Agora é o pessoal do rugby que resolveu dar um basta (ver https://www.uol.com.br/esporte/colunas/olhar-olimpico/2020/07/21/rugbi-estuda-proibir-mulheres-trans-por-seguranca.htm) . Ora, se no vôlei o problema já é sério, imaginem no rugby, esporte de contato físico muito intenso.

Infelizmente, associações ligadas à comunidade LGBT+ resolveram defender o indefensável, tentando enfiar goela abaixo de todo mundo um “direito à inclusão” totalmente atravessado. Digo infelizmente porque este tipo de atitude termina por desacreditar toda a luta contra o preconceito. No momento em que contrariam a lógica e o bom-senso, se tornam tão ridiculamente negacionistas quanto Trump e Bolsonaro chamando o Covid-19 de “gripezinha”.

As três questões

Todo o imbróglio pode ser resumido em três questões básicas;

1 – Tiffany, assim como a imortal Maria de Milton Nascimento, é uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta?

Resposta; SIM. Que seja feliz com sua nova escolha, afinal felicidade é o que merecem todos os seres humanos deste planeta Que Deus a ilumine.

2 – Tiffany pode jogar voleibol feminino como qualquer outra mulher do planeta?

Resposta; NÃO. Porque seu corpo é diferente do das outras e lhe dá vantagens competitivas muito claras. Não é uma questão de mais ou menos hormônios, embora isto também tenha influência.

3 – Isto caracteriza preconceito? Má vontade para com o “diferente”? Fascismo?

Resposta; NÃO. É uma decisão com base em evidências técnicas e científicas. E o pior é que a presença  de transexuais em esportes femininos é uma ameaça e, em muitos casos, um desestimulo para as mulheres atletas, presentes e futuras. Aliás, não sei por que as feministas ainda não se pronunciaram a respeito desta baita injustiça.

Enfim, os fatos são estes, e quem se apega mais às suas idéias do que aos fatos age como os que insistem que a Terra é plana. Por isto batizei esta corrente de “terraplanismo de gênero”. Que, repito, com seu radicalismo irracional acaba dando munição ao inimigo e atrapalhando o bom combate que todos devemos travar contra o preconceito.

Parafraseando os anarquistas espanhóis, se hay terraplanismo, soy contra!

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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