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Como a invasão da Ucrânia afeta a todos nós ou o risco de uma WWIII

Muita gente tem tratado a invasão da Ucrânia como algo que não os afeta, mas é bom perceber que não é bem assim e que grandes conflitos nasceram dessa maneira.

Tenho acompanhado apreensivo o desenrolar da guerra na Ucrânia, não apenas por questões humanitárias, mas também por fatos práticos relacionados aos efeitos que já estamos sentindo no curto prazo e o que ainda vem por aí com a mudança geopolítica de seus desdobramentos.

É impressionante como Putin conseguiu canalizar para si a resposta de um conjunto alargado de nações em um espaço de tempo tão curto. Guardadas as devidas proporções, creio que nem Hitler conseguiu tal feito e nem vou entrar no mérito de Stalin, que invadiu a Polônia com seu parceiro alemão, mas que o pessoal de esquerda insiste em “esquecer”.

Mas o mais incrível é agora perceber que Putin vem trabalhando nesse cenário há anos e que poucos políticos tiveram a coragem para verbalizar isso.

O Gás

Muitos não gostam, mas Donald Trump chamou a atenção da Alemanha quando era presidente americano porque esta não estaria cumprindo as metas de investimentos militares acordados na OTAN. Em uma reunião, ele afirmou que não entendia o fato da Alemanha estar “dando milhões de dólares para a Rússia e estar ali pedindo para que os EUA a defendesse em caso de agressão”.

Estamos falando da dependência clara que estava sendo criada do gás russo por parte da Alemanha e diversos países europeus.

Mas haveria alternativa?

Talvez não.

Putin trabalhou para que não houvesse. E fez isso mantendo uma antiga aliança com o ditador Sírio, que já vinha do tempo da URSS.

Para quem não entendeu a relação, para manter os russos como aliados, A Síria barrou qualquer hipótese de ser construído um gasoduto proveniente do Oriente Médio por ser seu caminho natural para chegar à Europa.

Dessa forma, por anos os russos e sírios trabalharam de modo a garantir o virtual monopólio do fornecimento de gás para a Europa, sendo a opção mais simples.

O Mar Negro

Outra manobra foi a tomada da Crimeia em 2014.

A Rússia possui um enorme interesse no Mar Negro, pois é por ele, e depois o estreito de Bósforo, que o grosso da produção de petróleo russo é exportado.

Aí temos que voltar um pouco na história.

Desde o começo do século XX que a Turquia tem o controle desse estreito que é fundamental para os países com portos no Mar negro.

Há um acordo onde esta se compromete a não cobrar qualquer tarifa para a passagem de navios por ele, e não é permitida a passagem de navios não pertencentes aos países que tem costa no Mar Negro.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, a URSS pressionou a Turquia para ter o direito de compartilhar a administração do estreito, que naturalmente foi negada.

Porém, sabendo que não teria como resistir à pressão e até a uma possível ação militar da URSS, a Turquia ingressou para a OTAN, o que irritou os soviéticos.

Agora a mesma Turquia está construindo um novo canal para desafogar o atual que está completamente congestionado.

O problema é que este estará fora do acordo e, portanto, poderá permitir a passagem de qualquer navio para o Mar Negro, inclusive navios de guerra da marinha americana.

Putin trata isso como um grande risco à Rússia e militarmente está buscando ampliar sua costa e sua presença no Mar Negro.

Notem que os ataques tem se concentrado nesse lado do país.

Comida

Aí temos o fator comida, e vamos lembrar que comida já foi motivo para inúmeras guerras na história da humanidade.

A Ucrânia é responsável pela produção de 16% do trigo do mundo e à data de hoje, 03 de junho, há cerca de 20 milhões de toneladas de trigo bloqueadas pelos russos nos portos ucranianos.

Até o papa se manifestou contra esse bloqueio.

O presidente da Ucrânia, Zelensky, declarou que Putin está buscando controlar grandes áreas de produção agrícola com o objetivo de controlar a produção de alimentos e desestabilizar o mercado.

Eu penso que ele está conseguindo, pois não param de surgir notícias de uma possível crise de alimentos a nível global, pois não há como substituir a Ucrânia em um prazo tão curto.

Vale aqui uma citação ao Brasil.

Poucos dias antes da invasão da Ucrânia, Bolsonaro visitou a Rússia e esteve com Putin. Na época eu mesmo achei que não era adequado, mesmo lembrando que Macron e outros líderes fizeram o mesmo.

Mas a verdadeira razão da visita acabou aparecendo depois, quando uma frota de mais de 30 navios carregados de fertilizantes saiu da Rússia com destino ao Brasil. A safra 2022 estaria então garantida. A 2023 será o que Deus quiser.

Então temos o seguinte: o sujeito que controla a produção de fertilizantes necessários para o Brasil, que produz comida para 900 milhões de pessoas, que controla os gasodutos que garantem a energia de boa parte da Europa, que também exporta petróleo para a mesma Europa, tem uma grande produção de cereais, invadiu o vizinho, que é um dos maiores produtores de trigo do mundo e que tem a maior concentração do melhor solo para agricultura.

As consequências são imprevisíveis.

Hipocrisia Global

Nesse momento é importante mostrar o tamanho da hipocrisia global quando se fala de perservação do meio-ambiente.

Há poucos anos houve uma comoção mundial por conta dos incêndios na Amazônia. Muita gente aproveitou o momento para se promover, posar de amigo da floresta e imagens circularam pelas redes sociais à vontade, mesmo muitas vezes fazendo uma verdadeira salada mista.

Houve giraffas correndo, fumaça da Amazônia na cidade de São Paulo (como se São Paulo precisasse de ajuda para ter fumaça), e até um vídeo mostrando o globo terrestre e culpando Bolsonaro pelos incêndios, mesmo que esses estivessem no Peru.

Agora, com a ameaça da fome, os EUA autorizam o plantio em áreas de preservação e a Alemanha manda cortar uma floresta para ter eergia elétrica.

Então? Cadê a gritaria?

Rearmamento

O fato é que, com a Alemanha, Países Baixos, França, Japão (esse por conta da China e da Coreia do Norte), entre outros, anunciando aumento significativos aumentos nos investimentos em defesa, Suécia e Finlândia querendo entrar na OTAN (encerrando uma neutralidade secular), Polônia, e até a Moldávia preocupados, se há uma indústria dando pulinhos de alegria é a de armas pesadas.

Putin acabou por se tornar o maior vendedor desses fabricantes, motivando diversos países a se armar mais. At´é Portugal tem feito suas contas.

Essa Guerra Afeta Todos

Para quem acha que essa confusão é no leste Europeu, que não tem nada a ver com isso e que não será afetado, é bom parar para perceber que está em jogo a estabilidade de uma área responsável por prover milhões de pessoas com energia e boa parte do planeta com comida.

Quando a fome chega, a razão vai embora.

Emanuel Alexandre Tavares

Matemático, apaixonado por tecnologia, dados e BI. Leio muito e analiso tudo o que passa por mim. Sempre levanto dúvidas e avalio a fonte. Hoje moro em Lisboa, estava precisando de um pouco mais de qualidade de vida.

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