A Guerra na Ucrânia – Capítulo 5: O “neonazismo” ucraniano

Este é capítulo que mais me tomou tempo para escrever, pois temos aqui um jogo intrincado de fatos e versões, que precisam ser desenterrados e interpretados, com o envolvimento altamente emocional de todos os envolvidos. Há narrativas para todos os gostos, e cada uma delas carrega uma parcela de verdade, a depender da forma como se vê. Tentei o meu melhor para entregar uma visão a mais imparcial possível, ainda que as acusações de colaboração com os nazistas sejam especialmente dolorosas para mim. Espero que gostem.
Um capítulo bastante controverso da política ucraniana é a suposta influência dos “neonazistas” nos rumos do País. Este é um dos pilares da propaganda do Kremlin dirigida ao seu público interno para justificar a invasão (a “desnazificação” da Ucrânia) e o motivo pelo qual muitos no Ocidente têm algum desconforto com relação ao apoio ao regime ucraniano, mesmo tendo, do outro lado, Vladimir Putin.
O documentário do Brasil Paralelo, ao analisar os motivos pelos quais Zelensky voltou atrás no que seria um conjunto de concessões que selaria a paz com os rebeldes, no final de 2019, coloca a influência de grupos nacionalistas com inclinações neonazistas como fator determinante para esta meia-volta, volver. Essa tese do documentário baseia-se em um artigo do jornalista Michael C. Desch, A Tragédia de Volodymyr Zelensky, largamente utilizado como fonte do documentário. Em um determinado momento, o jornalista afirma o seguinte (o trecho é longo, mas vai valer como fio condutor deste capítulo):
“Embora as alegações da Rússia de que o governo em Kiev seja neonazista nunca tenham sido críveis, há uma corrente oculta obscura na política ucraniana. Os partidos de extrema direita, alguns com uma clara inclinação neonazista, incluem o Congresso dos Nacionalistas Ucranianos, Svoboda, a União Nacional Ucraniana, o Right Sector e o Corpo Nacional. As forças de ultradireita não se saíram bem eleitoralmente nos últimos anos, mas, mesmo assim, provaram ser influentes, em parte porque estão dispostas a recorrer a ações extraparlamentares. […] Além disso, os ultranacionalistas estão super-representados nas forças armadas e de segurança, incluindo movimentos com suas próprias milícias, como S14, a Divisão Misantrópica, o Sich dos Cárpatos (associado ao Svoboda), Aidar e Azov (associado ao Corpo Nacional). Esses batalhões provaram ser eficazes no início da revolta do Donbas, em um momento em que o exército da Ucrânia estava em desordem. À medida que o exército se reconstruía com a ajuda substancial do Ocidente, vários desses grupos paramilitares foram incorporados às forças regulares.
Em outubro de 2019, depois que Zelensky propôs um cessar-fogo e a retirada das forças da linha de contato, ele foi para a frente de batalha para persuadir os vários batalhões a honrá-lo. Um vídeo amplamente divulgado da visita mostra Zelensky debatendo com o líder do Corpo Nacional, Denys Yantar, que alertou que haveria protestos se o presidente concordasse com um cessar-fogo. Este foi apenas um dos muitos avisos transmitidos por grupos de veteranos. O aliado de Poroshenko, Volodymyr Ariev, alertou que ‘se o presidente assinar qualquer coisa concedendo influência russa na Ucrânia, isso causaria tumultos’.
Essas não foram ameaças vazias. A direita nunca aceitou o processo de Minsk e enfrentou os passos hesitantes de Zelensky em direção à paz com forte oposição. Isso começou com protestos menores em Kiev em outubro de 2019. Então, em 8 de dezembro, cerca de dez mil linha-dura se reuniram no Maidan para encorajar o presidente a dizer “não” a Putin. Rudenko observa que seus “discursos no centro de Kiev foram, é claro, um aviso ao próprio Zelensky”. […]
Essa oposição seria assustadora para qualquer líder, mas Zelensky prometeu que era o homem certo para o trabalho. “Não tenho medo de tomar decisões difíceis”, declarou. “Estou pronto para perder minha popularidade, […] ou até mesmo meu posto, desde que alcancemos a paz.” No entanto, seu entusiasmo pelos acordos de Minsk rapidamente murchou diante da oposição linha-dura. Em uma declaração após a cúpula de dezembro de 2019, Zelensky ecoou muitas das linhas vermelhas da direita ao expor a posição da Ucrânia. Naquela reunião, Zelensky havia estabelecido uma nova fórmula para a paz que incluía um status especial limitado para o Donbas (não diferente de qualquer outra região ucraniana) e propôs apenas um desengajamento militar fragmentado. Em julho de 2020, ele sinalizou falta de interesse no Grupo de Contato Trilateral coordenado pela OSCE — que havia sido uma plataforma central para as negociações — ao nomear o ex-presidente Leonid Kravchuk, que tinha então 86 anos, como representante da Ucrânia. No início de 2021, Zelensky moveu um número substancial de tropas de volta para a linha de contato, fechou veículos de mídia pró-Rússia e acusou os líderes das repúblicas separatistas de traição. Logo após essas movimentações, a Rússia começou a construir suas forças militares do outro lado da fronteira.”
E assim é contada a história de como Zelensky, subjugado pela “corrente oculta obscura neonazista”, provocou a reação de Putin, que, de outra forma, estaria agora quieto no seu canto.
Até que ponto essa versão da história é verdadeira? É o que veremos neste capítulo.
Apenas uma nota metodológica antes de começarmos. Preferi chamar de “nacionalistas ucranianos” a todos esses grupos que lutaram pela independência ucraniana e seus descendentes ideológicos, apesar de sua clara orientação fascista. A mídia ocidental se refere a esses grupos genericamente como “extrema-direita”. Preferi evitar este termo porque entendo ser impreciso e carregado de emoções políticas negativas. Assim como normalmente não chamamos os stalinistas de “extrema-esquerda”, não me pareceu adequado chamar esses grupos de “extrema-direita”. No entanto, não evitei o termo “fascista”, pois trata-se de uma orientação política muito bem definida na literatura da ciência política.
A origem dos grupos nacionalistas ucranianos
Além desse artigo de Michael Desch, uma peça de propaganda russa (Nazismo ucraniano hoje: origem e tipologia ideológica e política) nos servirão de rota para investigar o que a mídia ocidental normalmente chama de “extrema-direita ucraniana” e a propaganda russa chama de “neonazismo ucraniano”.
Como toda narrativa que visa à desinformação, a história contada pelo Kremlin tem um pano de fundo verdadeiro, mas liga pontos e chega a conclusões, no mínimo, disputáveis. A história começa com a guerra de independência da Ucrânia após a tomada de poder pelos bolcheviques na Rússia, em 1917. Aproveitando a confusão em Moscou, vários grupos se organizaram para estabelecer o poder em partes da atual Ucrânia, mas dois acabaram por prevalecer inicialmente, fundando a República do Povo Ucraniano e a República do Povo Ucraniano do Oeste. O primeiro incluía a área de Kiev, a atual capital, e outras províncias do leste, ao passo que o segundo incluía as atuais províncias mais a Oeste, e áreas que hoje pertencem à Polônia, uma região conhecida então como Galícia. Ambas acabaram se juntando em 1919 para lutar contra dois inimigos externos, os poloneses pelo Oeste e os russos pelo Leste.
A Polônia inicialmente se aliou à Ucrânia para combater os bolcheviques, em troca dos territórios da antiga República do Povo Ucraniano do Oeste. No entanto, em 1921, Polônia e Rússia assinaram o Tratado de Riga, que estabeleceu a paz entre os dois países às custas da Ucrânia. Esta, lutando sozinha, caiu nas mãos dos bolcheviques, que fundaram a República Socialista Soviética da Ucrânia, mantendo o país sob controle, desta maneira, até 1991. Ironicamente, apenas 18 anos depois, em 1939, a União Soviética invadiria a Polônia e retomaria os territórios que são, hoje, as províncias do Oeste da Ucrânia, ficando o restante da Polônia nas mãos dos nazistas.
Em 1929, é fundada em Viena a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN, na sigla em inglês), reunindo os vários grupos que lutavam pela independência da Ucrânia. Estes nacionalistas viam no fascismo italiano e, posteriormente, no nazismo alemão, aliados potenciais para a sua luta contra a Polônia e a União Soviética, os dois países que haviam dividido entre si o território ucraniano. O Holodomor, em 1933, foi outro fator relevante para os nacionalistas ucranianos escolherem o lado oposto ao dos soviéticos. Havia também afinidade ideológica entre os ideólogos da OUN e o fascismo italiano e o nacional socialismo alemão.
Agora, entra em cena um personagem controverso: Stepan Bandera. Guarde esse nome, ele reaparecerá mais à frente. Um dos membros mais radicais da OUN, Stepan Bandera, responsável pela propaganda da organização e um dos seus dirigentes mais radicais, foi preso e sentenciado à morte em 1934 pela justiça polonesa, acusado do assassinato de um ministro polonês. A pena foi comutada para prisão perpétua, mas Bandera escapou (ou foi libertado, há divergência de versões aqui) depois da invasão da Polônia pela Alemanha, em 1939.
Uma vez fora da prisão, Bandera foi para Cracóvia, a capital do Governo Geral que os alemães haviam estabelecido na Polônia, o que reforça a evidência de seus laços com o regime nazista. Em 1940, Bandera rebela-se contra o comando da OUN, em função de seus métodos menos radicais, e funda uma dissidência, que recebeu o nome de OUN-B, de Bandera. Seus seguidores receberam, dos soviéticos, o apelido pejorativo de “banderites”.
O símbolo da OUN original (que ficou conhecida por OUN-M, em função de seu líder, Andriy Melnyk), era este:
Já o símbolo da OUN-B era este:
As cores da organização dissidente, preto e vermelho, que remetem às cores do símbolo nazista, até hoje são usadas pelos grupos nacionalistas mais radicais na Ucrânia.
Com o início da operação Barbarossa, em 22/06/1941, em que Hitler rasga o pacto Ribbentrop-Molotov e invade a União Soviética, a OUN-B declara a independência da Ucrânia uma semana depois. Bandera coloca o novo país a serviço de Hitler, aliando-se ao ditador alemão nos progroms contra os judeus ucranianos, além de usar violência contra poloneses e outras minorias na região.
Hitler, no entanto, tinha outros planos para a Ucrânia. Em 05/07/1941, Bandera é preso e levado para Berlim, onde inicialmente cumpriu prisão domiciliar, e depois foi confinado em um campo de concentração para presos políticos importantes até quase o final da guerra. Isso não impediu que outros membros da OUN-B, através do seu braço armado, a UPA, continuassem a sua tarefa de fazer a limpeza étnica na antiga região da Galicia, hoje, as províncias mais a Oeste da Ucrânia. O comandante da UPA, Roman Shukhevych, é outro nome que aparecerá mais à frente.
O fim da batalha de Stalingrado, em fevereiro de 1943, marcou uma virada na orientação da OUN-B, que, vendo a guerra mudar de direção, passou a renegar o seu passado de aliado da Alemanha nazista e, inclusive, suas inclinações antissemitas. Em agosto de 1943, uma Assembleia Geral da OUN-B, sem a presença de Bandera, que estava preso, determinou o abandono da doutrina do nacionalismo integral (um outro nome para fascismo) e a dedicação exclusiva à independência da Ucrânia com base em valores democráticos, tanto em relação aos ocupantes alemães quanto aos da União Soviética. Essa nova orientação é usada pelos que defendem a herança nacionalista ucraniana, e que negam a afinidade dos nacionalistas ucranianos com o fascismo e com o nazismo.
Com o fim da guerra, houve uma diáspora dos nacionalistas ucranianos, fugindo do exército vermelho, mas os patrocinadores da Assembleia Geral e os “bandeirites” continuaram lutando pela hegemonia do movimento nacionalista ucraniano a partir do exterior. Essas duas facções irão se transformar em forças políticas depois da independência, em 1991.
Tendo visitado a pré-história do movimento nacionalista ucraniano, vamos entender de que maneira isso influencia os movimentos nacionalistas ucranianos pós-independência.
O moderno nacionalismo ucraniano
Apesar de Stepan Bandera ter sido assassinado pela KGB em 1959 por envenenamento quando morava em Munique, as duas facções da OUN continuaram em atividade na diáspora ucraniana.
Logo após a independência da Ucrânia, o que era um fenômeno subterrâneo pôde se organizar à luz do dia. Um dos grupos mais importantes de nacionalistas, liderado pelo filho do ex-líder da UPA (o braço armado da OUN-B), Roman Shukhevych, fundou a UNA – Assembleia Nacional Ucraniana. O seu braço paramilitar – Auto-Defesa do Povo Ucraniano (UNSO) – foi criado em seguida, e a organização ficou conhecida como UNA-UNSO. A UNA era o braço político, e chegou a eleger 3 deputados nas eleições parlamentares de 1994, enquanto a UNSO era o braço paramilitar, que se engajou na luta contra os separatistas da Crimeia e do Donbas nos primeiros anos da república independente, além de lutar ao lado dos chechenos contra a Rússia entre 1994-1996. Ou seja, onde havia russos tentando avançar, lá estava a UNSO para lutar contra. A UNA irá se juntar a outros grupos radicais no que ficará conhecido como o Setor Direito depois do Euromaidan, sobre o qual falaremos mais adiante. A bandeira da UNA tinha as cores preta e vermelha, típicas do nacionalismo radical:
Um outro partido formado logo após a independência foi o Congresso dos Nacionalistas Ucranianos (KUN), fundado em outubro de 1992 por militantes da OUN-B, a facção de Stepan Bandera. O KUN sempre fez parte de coalizões que se colocassem no lado anti-Rússia, ainda que, como todo partido nacionalista, fosse anti-Europa também. Seu sucesso eleitoral foi sempre muito limitado. Lançou um candidato a presidente somente em 2019, tendo obtido apenas 1,62% dos votos no 1º turno. Seu símbolo, assim como o da UMA-UNSO, também tem as cores preta e vermelha:
Um outro partido menor, o Partido Nacional-Social da Ucrânia (SNPU) foi fundado na mesma época, mas não teve o alcance nacional do UNA. O nome do partido pode ser entendido como uma referência pouco sutil ao nacional-socialismo alemão, popularmente conhecido como Partido Nazista, assim como o seu símbolo, um wolfsangel estilizado:
Em fevereiro de 2004, o deputado Oleh Tyahnybok, único eleito pelo SNPU nas eleições parlamentares de 1998 e 2002, passa a ser o presidente do partido, e decide repaginá-lo para tentar aumentar a sua base de eleitores. Para isso, renomeia o partido para União pela Liberdade de Todos os Ucranianos (em ucraniano V.O. Svoboda, ou, simplesmente, Svoboda). Tyahnybok muda também a bandeira do partido, substituindo o wolfsangel por uma mão com os 3 dedos levantados, lembrando o tridente símbolo da Ucrânia e que foi o gesto dos nacionalistas no final dos anos 80:
No entanto, Tyahnybok é expulso da coalização chefiada por Viktor Yushchenko em julho de 2004, por ter proferido um discurso antissemita diante do túmulo de Roman Shukhevych, o comandante da UPA, organização paramilitar ligada à OUN-B, de Stepan Bandera. Suas palavras foram as seguintes:
“Há uma necessidade de que a Ucrânia seja finalmente devolvida aos ucranianos” da “máfia moscovita-judaica que governa a Ucrânia hoje”.
Yushchenko era o principal opositor do então presidente, Leonid Kushma, e que iria enfrentar o candidato apoiado pelo governo, Viktor Yanukovych, primeiro-ministro de Kushma, no final do ano, representando as forças pró-Europa. Um discurso xenófobo e antissemita era a última coisa de que ele precisava naquele momento, razão pela qual decidiu pela expulsão do deputado de sua coalizão. Este discurso demonstra que, apesar da repaginação, as ideias xenófobas continuavam sendo um dos pilares do partido.
Até hoje, o Svoboda é o maior partido nacionalista da Ucrânia, e é o que comumente chamamos de extrema-direita no Ocidente. Por isso, é interessante observar o apoio ao SNPU/Svoboda nas diversas eleições do País. É o que podemos observar no gráfico a seguir:

O grande momento do Svoboda foi em 2012, quando ganhou 10,4% dos votos, conseguindo eleger 37 parlamentares (em um total de 450 cadeiras). Foi o momento “será que somos a Alemanha de 1933?” da Ucrânia, o mesmo que agora está vivendo a Alemanha com a ascensão do Alternativa para a Alemanha.
Lembremos que, em 2012, o presidente era Viktor Yanukovych, do Partido das Regiões, pró-Rússia. Apesar de seu posicionamento relativamente ambíguo, Yanukovych era visto, principalmente nas províncias do Oeste, como alguém alinhado a Moscou. Por exemplo, uma de suas primeiras medidas foi rever o status de Herói Nacional concedido a Stepan Bandera, o controverso líder da OUN-B, pelo seu predecessor. Era o primeiro presidente com essa clara orientação desde a independência, o que, provavelmente, cevou o apoio aos grupos nacionalistas, e o Svoboda era o mais organizado politicamente entre eles.
Mas, após o Euromaidan, o apoio ao Svoboda despencou, provavelmente pelo mesmo motivo que havia aumentado dois anos antes: agora, havia um novo governo claramente anti-Rússia, e todos os partidos democráticos adotavam o mesmo discurso contra Moscou, sem o componente de xenofobia e antiliberalismo que caracteriza o Svoboda. Além disso, em 2010 o Svoboda havia alcançado um imenso sucesso nas eleições regionais, conseguindo maioria em três províncias do Oeste. Agora como partido da situação nessas três províncias, virou telhado de vidro, pois uma coisa é criticar, outra bem diferente é encontrar as soluções para os problemas do dia a dia dos cidadãos. Slogans não pagam o almoço. Também prejudicou a performance do Svoboda em 2014 o seu alinhamento, no Euromaidan, com o Setor Direito, uma associação de grupos radicais nacionalistas sobre o qual falaremos em seguida, alinhando-se ao que havia de mais extremo nas manifestações.
No mapa abaixo, podemos acompanhar as votações do Svoboda nas eleições parlamentares de 2012, 2014 e 2019. Podemos observar que nas três províncias do Oeste onde o partido obteve as maiores votações em 2012 (e que eram governadas pelo partido desde 2010), foram as que apresentaram maiores quedas, ainda que mantivessem votações razoavelmente expressivas, mesmo em 2019.

Durante os protestos do Euromaidan, grupos nacionalistas radicais se organizaram no que ficou conhecido como o Setor Direito, sendo os protagonistas dos episódios mais violentos das manifestações. Segundo reportagem da BBC, faziam parte do Setor Direito o UNA-UNSO (que já vimos acima), além de alguns grupos paramilitares, como o Patriotas da Ucrânia e o Tridente, e hooligans de torcidas organizadas. Ou seja, gente boa de briga.
O Setor Direito transformou-se em partido político após o Euromaidan, em maio de 2014, e participou das eleições parlamentares de 2014 e 2019, obtendo, respectivamente, 1,8% e 2,2% dos votos, e tendo conquistado uma cadeira em 2014 e nenhuma em 2019. Como se vê, o Setor Direito não atraiu muito apelo popular.
Os grupos que formaram o Setor Direito não queriam a união com a Rússia e nem com a União Europeia, considerando ambos os lados como inimigos dos valores ucranianos. Trata-se de puro nacionalismo, tanto contra a “opressão russa” quanto contra o “globalismo europeu”. Esses nacionalistas também não veem o partido Svoboda, da extrema-direita nacionalista, como o seu representante. Eles querem “destruir o esqueleto do Estado e fundar um novo”. Mas normalmente se unem aos pró-europeus em eleições, pois veem a Rússia como o inimigo mais próximo.
De qualquer modo, como diz a historiadora Alla Hurska, em um artigo para o Barcelona Centre for International Affairs, tanto o Setor Direito quanto o Svoboda são franjas políticas na Ucrânia, e tiveram bem menos sucesso eleitoral que seus pares de extrema-direita em outros países da União Europeia.
Grupos paramilitares
Os grupos nacionalistas sempre se caracterizaram por formarem grupos paramilitares a si ligados. Esses grupos poderiam ser braços paramilitares de organizações políticas ou grupos autônomos. Lembremos que a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), de Stepan Bandera, tinha o seu braço paramilitar, a UPA, que colaborou com os nazistas em pogroms na Ucrânia e Polônia, para depois lutar contra esses mesmos nazistas quando a União Soviética passou para a ofensiva, após a Batalha de Stalingrado.
Esses grupos irão surgir principalmente para combater a rebelião dos separatistas na região do Donbas, logo após o Euromaidan e a troca do governo em Kiev, no início de 2014. Com o exército pouco preparado para lutar no Donbas, grupos de voluntários, alguns ligados a partidos nacionalistas e outros independentes, se apresentaram para levar a cabo a Operação Anti-Terrorismo (ATO, na sigla em inglês), anunciada pelo governo. Portanto, esses grupos, em sua maioria, operavam sob coordenação das forças de segurança do governo de Kiev. O exército ucraniano somente entrará na guerra em Donbas em 2018, quando a ATO dá lugar ao JFO – Operação das Forças Conjuntas.
Os grupos paramilitares nos interessam especialmente porque são esses grupos que Zelensky terá que enfrentar, em 2019, quando quiser avançar em um acordo de paz com os separatistas.
Entre os grupos paramilitares mais famosos, temos:
Batalhão Sich: ligado ao Svoboda, partido nacionalista de maior sucesso eleitoral na Ucrânia, foi formado em junho de 2014.
Corpo de Voluntários Ucranianos: ligado ao Setor Direito, foi formado em abril de 2014. Note as cores preta e vermelha, típica de grupos fascistas, ao invés das cores nacionais, azul e amarelo.
Brigada Azov: brigada formada em maio de 2014, em Mariupol, cidade banhada pelo Mar de Azov, de onde deriva o seu nome. Seu comandante é Andriy Biletsky e seu símbolo inclui o wolfsangel, símbolo considerado neonazista.
As leis de “descomunização”
Depois da Revolução Laranja, o Estado ucraniano aprovou algumas iniciativas caras ao nacionalismo ucraniano. Em 2006, foi a aprovada a “Lei do Holodomor”, que reconhecia a Grande Fome na Ucrânia nos anos de 1932-33 como um ato de genocídio contra o povo ucraniano, e proibindo a negação deste fato, estabelecendo uma verdade oficial.
Em 2007, em um esforço de reabilitação dos combatentes pela independência da Ucrânia da União Soviética, o governo ucraniano concede o título de Herói da Ucrânia ao ex-chefe da UPA, o braço armado da OUN-B, Roman Shukhevych.
Finalmente, em janeiro de 2010, Stepan Bandera, líder da OUN-B, recebe o título de Herói da Ucrânia. Este título seria retirado em janeiro de 2011 pelo recém-eleito presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych. Em dezembro de 2018, um grupo de deputados do parlamento ucraniano decidiu colocar em votação um projeto de apelo ao presidente da República para que reinstituísse o título de herói da Ucrânia a Bandera. Este projeto foi engavetado em setembro de 2019 por falta de apoio.
Em maio de 2015, como consequência do Euromaidan e da queda do presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, o parlamento ucraniano passa uma série de leis, conhecidas como “leis da descomunização” da Ucrânia. São elas:
- Lei do acesso aos arquivos dos órgãos de repressão do regime comunista no período de 1917-1991.
- Lei da comemoração da vitória sobre o nazismo na 2ª Guerra Mundial 1939-1945. A ideia aqui foi “europeizar” a narrativa da Grande Guerra Patriótica, que era a narrativa dos soviéticos e, hoje, dos russos. As datas são importantes: a 2ª Guerra Mundial tem início em 1939, enquanto a Grande Guerra Patriótica se inicia apenas em 1941, com a invasão da União Soviética pelos alemães.
- Lei sobre o status legal e honra da memória dos combatentes pela independência da Ucrânia no século XX. Esta lei lista uma série de combatentes, entre os quais, os pertencentes à controversa OUN-UPA e classifica como um “insulto público fora da lei” qualquer tentativa de negar esse status.
- Lei da condenação dos regimes totalitários do comunismo e nacional socialismo (nazi) e proibição da propaganda de seus símbolos.
- Esta lei não diferencia o comunismo do nazismo, considerando ambos como regimes criminosos contra a humanidade, assim como não diferencia o stalinismo dos regimes posteriores na antiga União Soviética.
- Com essa lei, ficam proibidos os nomes ligados ao regime soviético dados a lugares públicos, assim como monumentos em homenagem ao período.
- Esta legislação aproxima a Ucrânia das instituições europeias, ainda que seja criticada pela criminalização do pensamento crítico, estabelecendo uma “verdade oficial única” sobre a História.
Esta última lei foi a mais controversa de todas. Feriu suscetibilidades dos ucranianos do Leste e criou animosidades em vários casos de renomeação de ruas e retiradas de monumentos. O interessante é que não houve nenhuma resistência à proibição de símbolos que lembrassem o regime nazista, o que não deixa de ser mais uma evidência de que o “neonazismo ucraniano”, se existe, é bastante limitado.
Análise
Há um conflito de versões bastante profundo sobre este passado na sociedade ucraniana. Para que tenhamos uma pálida ideia da dimensão deste conflito, cabe o paralelo com as posições a respeito do golpe de 1964 na sociedade brasileira. Aqui, ao mesmo tempo em que a maioria concorda que a democracia é superior a um regime ditatorial, as narrativas em relação ao golpe vão desde “a deposição de um presidente democraticamente eleito” até “a reação contra um golpe comunista em gestação”. Ambas as visões têm os seus méritos e deméritos, e nenhuma esgota a realidade, mesmo porque a interpretação dos fatos históricos, ainda mais tão próximos no tempo, depende de nossas próprias convicções íntimas. Além disso, a História é uma prática ingrata, no sentido de que a interpretação dos eventos pode ser, e muitas vezes é, contaminada pelo zeitgeist do momento em que a interpretação é feita, esquecendo-se o intérprete que os agentes do evento viviam sob outro zeitgeist.
Essas dificuldades precisam ser levadas em consideração quando analisamos o nacionalismo ucraniano. Há duas histórias sendo contadas sobre os mesmos fatos: ao mesmo tempo que o Kremlin faz uma ligação direta entre o passado nazista da OUN-B com os modernos movimentos nacionalistas ucranianos, estes negam por completo esse passado, exaltando apenas a luta nacionalista. Veremos que ambos os lados estão forçando a barra para venderem o seu posicionamento político.
Antes de mais nada, é preciso tentar separar o que é fato do que é narrativa. E isso é especialmente importante quando tratamos de algo tão grave quanto a colaboração com o Holocausto. Com relação especificamente à ligação da OUN-B com o Holocausto, como leigos, precisamos confiar na versão de alguma autoridade que mereça a nossa confiança. No meu caso particular, acredito que o Yad Vashem, órgão criado pelo parlamento israelense com o objetivo de manter viva a memória do Holocausto, é suficientemente crível para assuntos neste campo. No caso, o Yad Vashem não teria motivos para reverberar propaganda soviética e, portanto, sua leitura sobre o papel dos nacionalistas ucranianos no Holocausto é bastante significativa. De maneira geral, os historiadores do Yad Vashem concordam que a OUN-B e Stepan Bandera tiveram papel decisivo na perseguição aos judeus ucranianos, e sua ideologia era bastante próxima à dos nazistas alemães e fascistas italianos.
Tendo estabelecido e reconhecido este fato, é preciso contextualizá-lo em seu tempo. Não foram somente os nacionalistas ucranianos que apoiaram os alemães em sua missão de exterminar os judeus da Europa. Houve colaboracionistas no continente inteiro e, em especial, na Europa Oriental. Cabe lembrar que o termo “pogrom”, que denomina as campanhas de perseguição a judeus do final do século XIX e início do século XX, tem origem russa, e os russos promoveram vários pogroms em território russo antes e depois da revolução bolchevique. Assim, é no mínimo curioso que Vladimir Putin fale de “desnazificação” da Ucrânia, quando o passado do seu país não é especialmente virtuoso quando falamos de antissemitismo.
O espírito do tempo, na primeira metade do século XX, era claramente antissemita. E não somente na Europa. Os Estados Unidos não aceitaram receber milhares de judeus que tentavam escapar da perseguição nazista. Nem por isso, países inteiros foram demonizados como antissemitas. O Holocausto foi o um horror de tal ordem que todas as instituições europeias fizeram questão de se colocar a uma distância sanitária segura deste evento.
Esta distância sanitária foi implementada através de um grande “mea culpa”, principalmente na Alemanha. Mas a Ucrânia decidiu seguir por um caminho diferente para estabelecer essa distância sanitária, o da simples negação da simpatia e da colaboração dos nacionalistas das décadas de 30 e 40 pelos nazistas.
Como a colaboração é inegável até 1943, a história é apresentada como um movimento tático com o único propósito de criar um estado ucraniano independente. Ainda que se possa debater se os meios justificam os fins, os nacionalistas ucranianos preferiram este debate do que simplesmente assumir que os seus antepassados tinham como ideologia motriz o fascismo com colorações de pureza étnica.
O fato é que a reabilitação de Bandera e dos nacionalistas da OUN-UPA é tremendamente divisiva na sociedade ucraniana. A grande questão é se vale a pena o desgaste de ter como “heróis nacionais” pessoas que, a despeito da sua luta pela independência do País, propugnavam ideologias genocidas e as colocaram em prática. Ou se podemos separar uma coisa da outra, exaltando a sua luta e “esquecendo” o lado negro da força.
A respeito dessa questão, podemos lembrar dos founding fathers americanos. George Washington, Thomas Jefferson, James Madison, entre outros, tinham escravos. Eram o produto de seu tempo. Os americanos deveriam deixar de reverenciar as virtudes desses homens, que colocaram em pé a nação americana, por conta de seu lado negro?
Este paralelo, no entanto, tem uma falha em relação ao problema ucraniano atual. Enquanto a sociedade americana reconhece que os seus heróis eram escravocratas e isso é uma mancha em seu curriculum, ainda que justificada pelo espírito do tempo, os nacionalistas ucranianos contemporâneos tentam reescrever a história, apagando o passado fascista de seus heróis. Seria como dizer que os fouding fathers, na verdade, nunca tiveram escravos e lutavam pela sua libertação. Trata-se, obviamente, de uma postura problemática.
E tem mais. Havia uma contradição clara entre o que Jefferson escreveu na Declaração de Independência (…todos os homens são criados iguais e independentes, de modo que dessa criação igual derivam direitos inerentes e inalienáveis, entre os quais estão a preservação da vida, da liberdade e a busca da felicidade) e sua condição de dono de escravos. Ao longo dos séculos, o que estava escrito serviu como o verdadeiro fundamento da nação americana, levando, inclusive, à libertação dos escravos e às diversas lutas por direitos civis. No caso dos nacionalistas ucranianos, no entanto, os fundamentos da nação ucraniana baseiam-se na ideia da “Ucrânia para os ucranianos”, um slogan que pode ser, e assim foi durante a 2ª Guerra, interpretado como um chamamento à limpeza étnica. Repetir esse slogan, ou o “Glória à Ucrânia, Glória aos seus Heróis” (Slava Ukraini, Heroiam Slava!), pode ser interpretado como uma alusão a essa base teórica, bem diferente da Declaração da Independência Americana.
Mas há um complicador sério quando se trata de avaliar as ações dos dirigentes ucranianos em relação à reabilitação da memória dos nacionalistas ucranianos: a propaganda soviética/russa. O Kremlin, desde o final da 2ª Guerra, sempre fez questão de ligar a luta nacionalista ucraniana com o nazismo. Apesar de, ideologicamente, estarem próximos, a principal preocupação dos nacionalistas ucranianos era a independência da Ucrânia, ainda que isso dependesse de um alinhamento com os nazistas. Aliás, cabe destacar, entre parênteses, que a proximidade ideológica com as ideias do nacional socialismo alemão não era monopólio dos nacionalistas ucranianos, sendo um caldo de cultura que era predominante na Europa da primeira metade do século XX, incluindo o antissemitismo. Os próprios separatistas da região do Donbas, que lutam pela independência da região, bebem dessa mesma fonte. Fecha parêntesis.
Como dizíamos, interessava à União Soviética, em seu combate à independência da Ucrânia, associar a luta pela independência ucraniana com as ideias nazistas. Matava, assim, dois coelhos com uma cajadada só. Para o seu público interno, os nazistas foram os grandes inimigos da Grande Guerra Patriótica, o nome que a 2ª Guerra ganhou na Rússia. Para o público ocidental, o nazismo é o que mais próximo temos do inferno e Hitler a mais próxima encarnação do demônio em pessoa. Vladimir Putin está somente dando continuidade a uma narrativa que teve início na década de 40.
Assim, fica muito difícil colocar a mão nesse piche e depois limpar-se. Assumir o colaboracionismo com os nazistas, mesmo que taticamente, ou o alinhamento ideológico com o nacional socialismo alemão, e depois exaltar as virtudes heroicas dos nacionalistas ucranianas é uma tarefa por demais complexa. Mais fácil tentar “higienizar” o passado, atenuando-o ou mesmo negando-o, e atribuir aos que argumentam em contrário uma subserviência à “propaganda russa”. Os americanos tiveram bem mais de 100 anos para solidificar o culto aos founding fathers antes que a escravidão se tornasse uma mancha em sua reputação. Os nacionalistas ucranianos não tiveram esse tempo para estabelecer uma reputação antes que seu passado os condenasse.
Quando o Estado ucraniano decidiu reabilitar a memória desses nacionalistas, certamente tinha em mente contrapor a propaganda russa em seu núcleo, o que os dirigentes ucranianos chamaram de “descomunização”. Stepan Bandera dá nome a ruas e praças, e é objeto de museus e estátuas na região da antiga Galicia polonesa, que inclui as províncias mais a Oeste do país. Os ucranianos que vivem nessa região e outros pelo país precisam sublimar o passado fascista dos seus heróis para poderem reverenciá-los sem que tenham crise de consciência ou deem razão aos seus detratores russos, enfraquecendo a causa da independência.
Os herdeiros ideológicos de Stepan Bandera são uma franja política na Ucrânia contemporânea, menor do que em outros países da Europa Ocidental, como Itália, França e a própria Alemanha, onde partidos de inspiração fascista representam minorias relevantes. No entanto, ao acolher esses nacionalistas como heróis nacionais, é inevitável arrastar a sua herança ideológica e colocá-la no centro mesmo da vida política do país.
De qualquer forma, não deixa de ser encorajador o reconhecimento, por parte da sociedade ucraniana, de que essa herança é vergonhosa. Só o fato de se procurar formas de lidar com ela, seja escondendo-a, seja condenando-a, demonstra o quanto a sociedade ucraniana contemporânea, em sua maior parte, está distante dessas ideias.
A Pew Research, um instituto de pesquisas independente, fez, em 2017, um amplo levantamento nos países do leste europeu sobre vários aspectos da religiosidade e nacionalismo nesses países. Na tabela abaixo, resumi dois desses levantamentos: a prevalência de ortodoxos e católicos nesses países, e como cada um desses grupos veem os judeus. Foram feitas 3 perguntas: você rejeitaria ter um judeu como 1) membro da família; 2) vizinho e 3) cidadão do país?
A coluna Total em cada um desses itens foi calculada por mim, com base na média ponderada pela prevalência de cada um dos grupos religiosos. A coluna final Média é a média aritmética simples dos 3 itens, calculada por mim para termos apenas um número síntese.

Como podemos observar, o antissemitismo na Ucrânia está abaixo da média de países comparáveis, e arrisco dizer, em linha ou abaixo da média da Europa como um todo. Estes números demonstram que ideias xenófobas, em particular contra os judeus, têm repercussão limitada na sociedade ucraniana como um todo.
O fato é que, em toda guerra de narrativas, a verdade encontra-se em algum lugar no meio. Nem os “heróis da independência” não cometeram crimes ao colaborar com o nazismo, e nem a Ucrânia moderna precisa passar por uma “desnazificação”, como afirma Vladimir Putin, com o objetivo de propaganda interna e externa para justificar a sua guerra. Na verdade, é o regime russo, hoje, que tem mais semelhanças com o nacionalismo fascista autoritário. Exploraremos este ponto no próximo capítulo.
Termino aqui com as palavras do historiador russo Georgiy Kasianov, atualmente lecionando na universidade polonesa Marie Curie-Sklodowska, e que, creio, resume bem o assunto:
“Nacionalistas ucranianos buscam se apresentar como os verdadeiros representantes do povo ucraniano, a única força que entende corretamente o passado, o presente e o futuro da Ucrânia. Eles afirmam falar em nome de todos os ucranianos étnicos, alegando que todos, indistintamente, são nacionalistas ou deveriam ser nacionalistas. Na visão deles, a causa dos problemas da Ucrânia e dos ucranianos está no desvio dos princípios do nacionalismo.
A propaganda russa faz uso ativo dessas alegações exageradas, apresentando a Ucrânia como um santuário do nacionalismo. Como toda propaganda, ela se baseia em uma abordagem seletiva dos fatos, inflando alguns e ignorando outros. A existência de organizações e partidos nacionalistas de direita na Ucrânia, a presença de seus representantes no governo e ações regulares de rua são apresentadas como o triunfo do nacionalismo da idade da pedra.
[…] A apoteose foi a acusação de que todos os ucranianos eram nazistas ou colaboradores nazistas, ativos ou passivos. […] Levando em conta outras alegações monstruosas da liderança russa sobre “territórios russos históricos” e o não reconhecimento do direito da Ucrânia de existir como um estado independente separado, a instrumentalização do mito do “nazismo ucraniano” serve como um casus belli secundário. No entanto, combinado com o culto militante extremo em torno da Vitória de 1945, que se tornou um mito consolidado para a Rússia, o “nazismo ucraniano” parece uma farsa cada vez mais perigosa, visando desumanizar os ucranianos e eliminar a Ucrânia.”
Leia mais posts do autor em seu blog: https://marceloguterman.substack.com/