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Por que Cuba é pobre?

É verdade que quase todo mundo em Cuba come, tem educação e saúde? Sim, embora em nível básico. Isso não deixa de ser algo bom, considerando a maioria dos vizinhos paupérrimos da América Central.

No entanto, não vai muito além disso. Básico é a palavra chave e isso é possível perceber quando se verifica que a expectativa de vida lá é 1,8 anos abaixo da vizinha Costa Rica e 1,6 anos abaixo de Porto Rico, embora 2,6 anos maior que no Brasil.

Tirando o mínimo para sobreviver, não existe praticamente supérfluos em Cuba para a imensa maioria da população e, por vezes, mesmo itens essenciais como pasta de dente e papel higiênico faltam.

Todos pobres, exceto….

A pobreza “digna” lá é generalizada. Com exceção de grupos muito pequenos de privilegiados, que se estima ser em torno de 1% da população. Isso inclui pessoas do partido dirigente e mais algumas celebridades, fazendeiros, artistas etc.

Antiga casa da neta de Fidel, que ela aluga via airBnb

Fidel era muito rico. Parte do dinheiro dele saiu de Cuba e talvez nem volte mais.

Fidel Castro's grandson flashes the family's wealth while sunbathing aboard a yacht in the middle of the ocean
barco de Tony Castro, neto do Fidel

Há ainda alguns poucos empreendedores, que lograram imenso sucesso, em decorrência da progressiva liberação de pequenos negócios em Cuba.

Mas, como se trata de Cuba, acumular dinheiro é quase um crime a pessoa termina sendo classificada como pessoa suspeita ou criminosa. Assim a elite de lá precisa disfarça e investe na compra de casa de parentes, obras de arte, ou tiram o dinheiro do país.

Cuba, hoje

O endurecimento do boicote e mais os efeitos da pandemia da COVID-19, incluindo o sumiço dos turistas, ajudaram recentemente a piorar a situação de Cuba, que já era delicada.

O agravamento da penúria acabou sendo o estopim de grandes manifestações, que tomaram as ruas de várias cidades de Cuba.

Manifestantes “tomando” a estátua em Havana

O governo reagiu rápido: Mais de 100 presos, pelo menos 1 morto e o principal: apagão digital em toda a ilha, cortando a internet nos celulares. Isso deixa o povo literalmente cego, porque não há imprensa livre.

O perigoso magrela sendo “neutralizado” pela polícia cubana. Equipado pela CIA?

O presidente cubano, Miguel Diaz-Canel foi rápido no diagnóstico: as manifestações de domingo são uma “contra-revolução”, liderada pelos Estados Unidos. Então tá!

História do boicote dos EUA à Cuba

O embargo econômico dos EUA à Cuba vigora a partir de 1960, dois anos depois da deposição do ditador Fulgêncio Batista e foi ampliado em 1962, desde a crise dos mísseis de Cuba.

Depois de décadas, ele foi um pouco abrandado na gestão Obama e novamente endurecido na gestão Trump, e, até agora, não abrandado na gestão Biden.

Efeitos econômicos do embargo

Não há dúvida que o boicote atrapalha, mas ele sozinho não explica, nem de longe, a pobreza de Cuba.

O boicote é usado como desculpa para o fracasso e a pobreza, mas não é bem assim que a banda toca.

Cuba não está sozinha, ela conduz comércio internacional com muitos países, incluindo muitos aliados dos Estados Unidos, mesmo com o risco de sanções. Cuba, como mau pagador, deve, no entanto, pagar à vista todas as importações, pois não há crédito.

Além disso, Cuba é um raro país patrocinado: por décadas pela antiga União Soviética, que ajudou fortemente Cuba até a sua dissolução em 1991, quando esse papel meio que passou para China, com o posterior e adicional do apoio do regime de Chávez, antes da Venezuela quebrar.

Não se esquecendo do Brasil com o Porto de Mariel, no tempo do PT, que deve gerar um grande calote e portanto foi como uma doação.

Turismo ajuda a movimentar Cuba, respondendo por quase 12% do PIB (poderia ser muito mais) em 2019, assim obviamente a pandemia de COVID-19 foi um baque.

Fora isso, a economia é minguada. E isso acontece por culpa deles mesmos, A atividade econômica lá é bem fraca.

Mesmo o boicote sendo só com os EUA, o nível de comércio exterior é insignificante.

Em 2019 foram apenas 1.21 bilhões exportados (24% de charutos, 18% de açúcar e 11% de níquel) para países como a China (38%), Espanha (11%) e Alemanha (5%) para um PIB de pouco mais que 100 bilhões de dólares.

China (38,2%) é o grande destino das exportações de Cuba

Como se vê, não é o boicote que paralisa Cuba; é a falta de atividade econômica.

Por outro lado, falta tudo, a produção lá é incipiente. Cuba importou US$ 5,28 bilhões (19% da Espanha e 15% da China) em 2019, mais que 4 vezes mais do que exportou. Inclusive, 5,3% desse total dos EUA, mesmo com o embargo.

Como era Cuba antes de Fidel?

Quando Fulgêncio Batista, o último dirigente antes de Fidel tomar o poder, deu um golpe de estado em 1952, ele herdou um país que era relativamente próspero para a América Latina.

Embora um terço da população ainda vivia na pobreza, Cuba era um dos 5 países mais desenvolvidos da América Latina. Nos anos 50, a renda per capita era aproximadamente igual ao da Itália, embora fosse 1/6 da norte-americana.

Embora a corrupção e a desigualdade indubitavelmente cresceram no governo do ditador Fulgêncio Batista, os salários dos trabalhadores subiram e estavam bem posicionados em relação ao mundo, incluindo comparado a vários países europeus.

Para mostrar como a miséria extrema era baixa em Cuba, mesmo antes do Fidel, a mortalidade infantil em Cuba era de 39 por 1.000 em 1960, logo no início de era Fidel. Esse valor era o menor índice da América Latina, praticamente 1/3 da mortalidade infantil no Brasil e mais baixa do que a Itália e a Espanha.

Entretanto, apesar de alguns indicadores positivos, havia cerca de 15 a 20% de desemprego e apenas 1/3 das casas tinha abastecimento de água.

Por outro lado, inegavelmente Fulgêncio Batista tinha relação com o crime organizado, incluindo o famoso gangster Lucky Luciano. No seu governo, Havana se firmou com um grande centro de jogos de azar, prostituição e drogas, a tal ponto que Havana passou a ser conhecida como a Las Vegas latina.

Grand monde: mulheres, jogos de azar, festas

Como estaria Cuba sem Fidel?

Eu acho relevante falar como Cuba era antes de Fidel, porque há uma defesa surrada e recorrente que sem Fidel Cuba estaria condenado a ser um país miserável da América Central como Honduras ou El Salvador e isso claramente não é verdade.

Temos que pensar sempre que o antes influencia muito o depois. Quem sai de Harvard é muito bom, mas é preciso lembrar que quem entra em Harvard já é muito bom.

Não é muito fácil prever como Cuba estaria hoje em relação aos seus vizinhos, se não tivesse havido a chamada “Revolução Cubana”. O fato documentado é que Cuba antes de Fidel era bem mais desenvolvido do que os seus vizinhos da América Central.

Com o enorme potencial de Cuba para turismo e tendo uma excelente infraestrutura quando comparado aos seus vizinhos da América Central, é muito provável que Cuba fosse um lugar de destaque na região.

É possível, por exemplo, comparar hoje Costa Rica (que tem renda per capita mais de 50% maior que a brasileira), com Cuba. Não dá nem para o começo: Costa Rica é um país lindo, com larga tradição democrática, repleto de reservas naturais, não tem exército e possui um povo feliz.

Cuba sofre com a falta de liberdade

O mérito de Fidel Castro termina na erradicação da pobreza absoluta.

No entanto, o homem não foi feito apenas para sobreviver. Ele anseia por uma vida plena de possibilidades e opções. Nesse sentido, Cuba é um lugar péssimo, pois não há nenhum tipo de liberdade:

A liberdade econômica ainda é extremamente limitada. Só recentemente Raul Castro tem relaxado algumas das restrições, o que seu sucessor tem continuado.

Não há liberdade política, já que o regime é de partido único sem eleições. Assim de 1959 a 2018, o país só teve 2 líderes: Fidel Castro e seu irmão Raul Castro.

O mesmo vale em relação à liberdade de informação, já que toda a mídia é controlada pelo estado. O jornal Granma é extremamente entediante, com predomínio de notas culturais, inaugurações, cerimônias e homenagens; ou seja, todo aquele maçante estilo chapa-branca.

Tampouco há liberdade de opinião. Houve, especialmente nos primeiros anos, muitos fuzilamentos, perseguições e prisões, inclusive de minorias LGBT. Muita gente inocente foi morta. Apesar da situação ter se abrandado hoje, ainda  presos políticos.

Finalmente, não existia, até há pouco tempo, a liberdade de ir e vir. A maior parte dos cidadãos não tinha o direito de sair do país. Só saiu e não mais voltou quem deserdou, a partir de uma viagem autorizada, ou fugiu.

Cuba, tirando os empreendimentos privados, ainda incipientes; funciona como uma grande empresa pública: quase quase todos os habitantes são funcionários públicos muito mal pagos. Isso resume bem o “socialismo”: uma monocorpoaração mastodôntica com monopólio total sobre todos e com ampla liberdade de explorá-los, em nome do “bem” maior.

Por que todos comem minimamente e tem algum acesso à saúde? Nenhuma empresa quer que seus empregados morram de fome ou padeçam por falta de assistência médica.

Que médicos no mundo se sujeitariam a trabalhar longe de suas famílias por um salário miserável, como no programa Mais Médicos? Amor ao socialismo? Conta outra!

Apoiar Cuba e democracia não cabem na mesma frase

Quando o PT exalta oficialmente Cuba hoje depois de tudo, simultaneamente às manifestações, realmente mostra que o PT não aprendeu nada e, provavelmente, nunca vai aprender.

O PT é completamente ligado à ideias que invariavelmente redundam no atraso econômico. A possibilidade do destino tenebroso que estamos assistindo em países socialistas como a Venezuela e Nicarágua, e agora Argentina volta ao nosso horizonte com a possível volta de Lula e seu populismo insano.

Socialismo e economia próspera são 2 palavras que nunca deviam estar na mesma frase.

Antes que alguém me fale da China (ou Vietnã) como exceção, é preciso dizer que ela prospera porque usa a falta de liberdade típica do socialismo, mas prática econômicas emprestadas do capitalismo….

E também não aguento mais ouvir que a Escandinávia é socialista. 1000 vezes não!

❂❂❂

É 100% certo que Bolsonaro é um desastre, mas definitivamente o PT também é uma catástrofe, ainda que mais bem embaladinha. O Brasil afunda, mas de forma mais elegante, como o Titanic o fez, com a banda tocando música até o exato fim.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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