Opinião

Era uma vez em 2020 – Final 2

E, no final de 2020 todo mundo imaginava que como em todos os casos, isso tudo iria passar. As pessoas começaram a planejar suas férias de novo imaginando que, em meados de 2021, o pesadelo teria ficado para trás. Mas a revolução dos bichos não estava nos planos e… eles se revoltaram pra valer. Além dos morceguinhos chineses, as abelhinhas resolveram se vingar dos massacres dos anos anteriores… elas que estavam em extinção, fizeram um acordo secreto com o SARS-20 e espalharam uma beedemia que se espalhava por meio das sementes e dos alimentos vegetais. Aí veio o SARS-21, que se espalhava por meio dos franguinhos (de novo) e as carnes ficaram perigosas. E pra ajudar o SARS-19 não quis perder espaço e ficou mais forte ainda, e continuava a se espalhar pelo ar. Não podia comer em paz nem vegetais nem carnes. E respirar estava perigoso. E ainda porque os mesmos doidos-mor ficaram no poder por décadas. Eles que não acreditavam que o planeta estava em risco, ajudaram a “deletar” muitas florestas, não cooperam com os acordos mundiais de diminuição da emissão de carbono, as geleiras viraram caldo… Estava difícil. Ao menos a água ainda estava segura de tomar. Uma doença que não mais conhecemos hoje, era chamada de obesidade, mas desapareceu com essa crise alimentar.

Um terço da população pobre mundial não conseguiu sobreviver. A população idosa, antes preocupação máxima dos financistas pela pressão sobre a previdência, praticamente foi extinta da Terra. O mundo ficou sem rugas, sem custo de aposentadoria e mais magro. O mundo ficou sem contadores de história. Ela me conta que a voz e cantorias do meu bisavô logo se calaram. Tudo ficou triste.

Óbvio que sobrevivemos. Senão não estaria contando essa história.

Mas com uma mudança radical de restrição de contato. Vejo fotos dela hoje abraçada com mil amigos e confesso que não consigo imaginar que o povo se abraçava assim de graça, antes. Hoje a gente só abraça 14 pessoas. E tem que registrar no site do governo quem são elas. E ai de quem descumprir isso. Acho que isso não foi problema para as culturas mais frias. Mas aqui, ela disse que o povo estranhou pra valer. Eu não entendo muito bem.

E também acho estranho quando ela fala que ninguém queria compartilhar dados porque existia um negocio chamado privacidade. Agora, com os bebês nascendo já com chip no dia 1, a gente sabe quem está doente em tempo real. E se for uma das pessoas que temos contato, na hora que o outro começa a acusar um sintoma possível de doença, a gente recebe choque e já sabe que não pode sair do quarto por 14 dias. Tudo aqui virou 14 (acho que foi pra facilitar guardar as regras, não é?). Minha vó ainda reclama muito disso. Ela diz, zangada, que isso tudo é a realização de uma profecia cruzada de George Orwell que mistura “A Revolução dos Bichos” com “1984”…

Além disso, ela me conta que todo mundo tomava ônibus grudado, sentindo o “perfume” do outro. Que maluco. Nem imagino o que seja isso. Ela disse que adorou quando criaram a bolha auto-nebulizadora pra que as pessoas pudessem pegar transporte publico e sair nas ruas. Ela começou a achar chato e meio claustrofóbico mas depois se acostumou.

Ela conta que o duro foi encontrar uma solução para colocar o chopp dentro da bolha. Acredita que antes eles tomavam chopp no boteco em copo?!!! Ela me disse que tomar no canudinho foi estranho no inicio, porque o chopp esquentava. Mas depois, quando inventaram o canudinho extra-gelado foi demais!!!

Eu que não consigo me imaginar em boteco sem minha bolha Prada e meu canudo prime Heineken.

Julieda Puig

Julieda ... é a Julieda. Mãe de 2, companheira de 1, filha, irmã, amiga e, nas horas vagas, trabalha e é responsável por Compliance em um banco na terra da Rainha. Graduada e mestre em Economia pela USP e GV. Vive em Londres, “fisicamente” e, no Brasil, “virtualmente”, já que seu coração não se separa de lá. A ideia é visitar o boteco de vez em quando, como uma “correspondente 🗺” contar um pouco como é a vida por essas bandas do planeta. Às vezes vai falar séria e apaixonadamente (porque, afinal é boteco e porque senão não seria ela!) sobre ética, compliance, sustentabilidade, políticas públicas, corrupção e inclusão, seus temas preferidos. Mas a verdade é que a maior parte das vezes não pretende falar muito sério não... Já deixa claro que é bem livre na opinião, prá desespero dos carimbadores de plantão..

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