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Quem tem medo do lobo mau… chinês? Eu tenho

Sim, hoje vamos falar da China.

Nada de Alemanha, França, Brasil e afins.

Você deve estar aí se pensando: “Mas, Anna, vamos falar de novo do Coronavírus, da Pandemia, da OMS etc.?”. Não, colega, hoje o Papo Reto de Boteco é outro. No que você replica: “E, Anna, você vai continuar nessa toada narração a “la Enola Holmes””? Vai saber se Anna Paula Más é só um pseudônimo, não😉!? Aí você atrás se pergunta: “Quem raios é Enola Holmes?” Momento Merchant do Papo de Boteco, assistam esse filme na Netflix, e ainda temos comentários neste Blog via Vladimir Batista 😊.

Saindo da introdução, sigamos para o Papo Reto de Boteco do dia: a China e seus crimes. E, não, não é xenofobia, nada disso. Pobre povo oprimido chinês. Povo esse que provavelmente nunca leria minha crítica, pois lá a internet, conhecida como “Great Firewall”, é a mais censurada do planeta.

Não há acesso ao Twitter, Facebook, WhatsApp, Instagram, Youtube ou Google. Nem Wikipedia, nem acesso a praticamente toda mídia internacional. Apesar que, vejam só, um passarinho verde que lá já morou me contou que até na China, sim, há acesso clandestino às redes. Porém, mesmo clandestino, tal acesso é para uma certa elite, controlado e monitorado.

Minha crítica é focada nele, o poderoso PCC (Partido Comunista Chinês).

Fico definitivamente impressionada como a mídia internacional adora e reverbera matéria seguida de matéria da destruição da Amazônia, das queimadas no Pantanal, do nosso caro presidente ‘ultra-direitista’ Bolsonaro. Cansei de ver matérias, televisivas e em outras mídias, na Alemanha, na França, e obviamente no Brasil, sobre tais tópicos. E dá-lhe visibilidade via declarações de Greta, Di Caprio, Gisele, Papa. Temos críticos a esses temas para todos os gostos.

Antes que me questionem, longe de mim querer patrulhar bandeiras ou julgar quais tenham ou não tenham o seu valor. Cada um que tenha a sua. Desde que esta seja legítima e, para defendê-la, não usem de dados distorcidos (e aí que a história pode ficar complicada, pois nesse mundo atual, das mais diversas narrativas, polarização e viés de confirmação, há Fake News para tudo que é lado).

Mas voltando ao Papo Reto de Boteco de hoje, fico aqui pensando com meus botões: “Cadê, cadê os críticos contundentes ao que anda acontecendo na China?”. Está bem, chega de mistério, vamos aos tópicos.

Xinjiang e seus campos de concentração de muçulmanos: você pode não ter ouvido falar, mas em pleno século XXI ainda temos campos de concentração. Entre 1 (um) e 2 (dois) milhões de muçulmanos do grupo étnico de origem turcomena chamado Uigur, estão aprisionados em campos de concentração de trabalho forçado (escravos, né, galera! Vamos colocar os pingos nos ‘is’). Dona China justifica esses campos como uma ação contra terrorista, um projeto educativo. “Ah tá, agora que você me explicou direitinho… 🙄 🙄 ”

A bem da verdade, nos últimos meses, grupos de defesa dos direitos humanos tem mostrado sua preocupação com os uigures. E se formos ler os critérios da ONU, o que acontece lá com os uigures pode ser entendido como um genocídio étnico.

Em um “ooops” o lançamento do filme “Mulan” tem em seus agradecimentos oito entidades governamentais de Xinjiang, inclusive o Departamento de Segurança e de Publicidade do PCC. E, surpresa!!! Esse Departamento é responsável pela administração desses campos de concentração. Impressionante, não, pessoal!? Agora a Disney, sim, aquele mundo encantado onde levamos as crianças, adolescentes e família para sonhar com príncipes, princesas, heróis e heroínas fecha os olhos para o problema. Será que um dia ainda comprarão os direitos de filmagem e romantizarão tais campos de concentração em Xinjiang? Não duvido de mais nada.

Esse “ooops” da Disney trouxe realmente mais holofotes para o problema, em várias publicações, de Le Monde, BBC, NYT e outros.

Como bem escreveu Jeannete Ng para a Foreign Policy: “Mulan tem uma mensagem – sirva a China e esqueça os uigures”.

E apesar de todas essas matérias, sigo sentindo falta de campanhas mais chamativas. Vocês não?

Campos de concentração de tibetanos: sim, você leu direito, temos mais campos de concentração. É sabido que historicamente a relação entre chineses e tibetanos é conturbada. Até que lá pelos anos 50, quando o PCC assumiu o poder na China, o Tibete foi dominado e ocupado por Pequim. Nessa época, o que eles chamam de 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, abandonou o Tibete e foi recebido em Dharamsala na Índia, onde vive até hoje e constituiu o governo tibetano em seu exílio. A obra “Kundun” de Martin Scorsese conta essa história. E, respira, temos mais uma surpresa: a Disney sofreu boicote da China por causa de “Kundun”. Tá bem, mas como resolveram isso? Uma chance: resolveram esse ‘mal-estar” agradando o PCC com o lançamento de “Mulan”. Aham… Você ouviu direito.

Mundo encantado? Que nada… Repita comigo, “Repeat after me”:

Imagem com foto famosa de James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992: "It's the economy stupid"

Hoje, em outra manobra para oprimir minorias, camponeses tibetanos estão sendo recolhidos para o que eles chamam de “centros de treinamento militar”, de forma coercitiva (pois é, não estamos falando daquela condução coercitiva do Lula, “taokey”?!) e passam a trabalhar como operários em fábricas.

Navios chineses em Galápagos: Sim, estamos falando dessa região, formada por um arquipélago, tão conhecida para quem lembra de Charles Darwin, o autor da teoria sobre a evolução das espécies. Esse arquipélago é reconhecido patrimônio mundial da humanidade e protegido pela UNESCO (desde 1984).

Cerca de 300 embarcações foram identificadas lá pelo mês de julho pela marinha equatoriana, em áreas que estão sob proteção para preservar a fauna marinha.

Navios chineses são já conhecidos por “assaltarem” a fauna local. Em 2017, por exemplo, apenas um único cargueiro chinês foi revistado e tinha 300 toneladas de fauna marinha, entre eles 7.200 tubarões e, entre esses, espécies ameaçadas como tubarão-martelo e tubarão-seda.

Esse ano, uma ONG chamada Oceana, publicou uma investigação alegando saque de lulas por tais navios. Aqui fica uma observação: as lulas são essenciais para a alimentação de várias espécies de tubarões, focas e outros peixes.

Pois é, incêndio é algo tão visual. Ver a extensão das queimadas, a onça pintada machucada, o jacaré que morreu e virou cinzas, tudo isso é muito triste. Dói ver. Me questiono: como fazer o mundo entender a extensão dos efeitos desse saque da fauna marinha desse patrimônio? Ah, sim, não faço a mínima ideia se há alguma ligação ou benção do PCC para isso. Mas me questiono também se realmente o PCC não se meteria.

E “finally and not least”, Hong Kong: provavelmente o que você mais deve ter visto por aí. “Um país, dois sistemas”?! Já era, acabou, “c’est fini”. Hong Kong voltou a pertencer a Pequim. Seu PCC liberou uma confusa Lei de Segurança Nacional a qual, no fundo, tem como principal objetivo inibir, com duras punições, protestos contra Pequim.

Nem vou tocar no ponto em como eles estigmatizam o povo do Ocidente, principalmente os que se identificam mais à esquerda. Casamento gay e adoção de crianças por casais homossexuais?! Nem pensar.  

E a tal “Nova Rota da Seda”, já ouviram falar? Qual seria a real intenção? Sugiro darem uma pesquisada (sim, aqui também distribuímos tarefas, mas nada coercitivamente 😉. Fica a seu critério). E o projeto ambicioso da infraestrutura global 5G? Pois é, caros telespectadores. Onde vamos parar?

Por tudo isso, e muito, muito mais, simplesmente não entendo, não me desce, esse silêncio assustador por parte das celebridades e tantos “influencers” frente a esses e tantos outros crimes. Eles que têm em suas mãos um poder imenso em influenciar, replicar, propagar informações e chamar atenção de uma boa parte da população para qualquer tema.

Trump, Bolsonaro, Putin, e tantos outros políticos merecem muitas e seguidas críticas. Mas eu, eu tenho é mais medo desse PCC. Principalmente pois tenho calafrios com esse silêncio por parte dos influenciadores globais. Pois quem cala, meus amigos, consente.

Foto de frase famosa de Martin Luther King: "O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons"

Anna Paula Más

Anna Paula Más, farmacêutica e bioquímica (USP-SP), fez carreira trabalhando quase 20 anos na área de pesquisa clínica e desenvolvimentos de novos medicamentos, focada na área ética e regulatória. Caixeira viajante (morou nos EUA, França e hoje fica entre Alemanha e Brasil). É extrovertida, social, costuma ‘unir’ turmas e pessoas de turmas diferentes. Dizem as más línguas que conversa até com o poste, adora palpitar, não tem receio de se posicionar e, por vezes, criar polêmicas. A pedidos, veio fazer parte do time Papo de Boteco com o propósito de trazer um olhar feminino, mas não por isso menos crítico, sobre assuntos diversos.

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2 Comentários

  1. É de fundamental importância que Paposdeboteco como esse apareçam. Temos que expor essas situações. Seria bom termos outros mostrando a situação em outros países, principalmente na África e Oriente Médio (ainda existe esta expressão?) onde atrocidades também acontecem.

    1. Obrigada pelas palavras de apoio, Daniel. E pelas sugestões. Boa ideia!
      Vou pesquisar sobre … com certeza, são tantas atrocidades, que demandaria vááários Papos Retos de Boteco 🙁
      Haja chopp

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