Economia

Controle populacional: o inimigo agora é outro

Meu colega de Papo de Boteco, Márcio Hervé, para não variar, acaba de publicar um instigante e bem escrito artigo sobre um tema sempre candente: a superpopulação global e o planejamento familiar. Não pude deixar de lembrar do subtítulo do filme Tropa de Elite 2, “o inimigo agora é outro”. O amigo Márcio está lutando contra o inimigo do passado, não do futuro. Vejamos.

O artigo compara o crescimento populacional de China, Uruguai e Brasil, demonstrando que, entre 1975 e 2015, os dois primeiros países cresceram muito menos do que o Brasil neste período, o que teria sido benéfico para ambos. Sem disputa aqui, isso é uma realidade. A questão, no entanto, é outra: o que podemos esperar do futuro? Ou, por outra, será que o Brasil precisa de um programa de controle populacional neste momento? A resposta pode ser deduzida do gráfico a seguir:

No gráfico acima, temos a evolução do índice de fertilidade (número de filhos por mulher) de China, Uruguai e Brasil nos últimos 60 anos. Podemos observar que, em 1975 (ano em que começa a comparação feita pelo Márcio), de fato, o índice de fertilidade de China e Uruguai era por volta de 3 filhos por mulher, muito abaixo do Brasil, que era de 4,5 filhos por mulher na época. O Brasil só vai alcançar o mesmo nível de fertilidade do Uruguai no ano 2000 e o da China no ano de 2010. E é exatamente este o ponto: hoje, o índice de fertilidade dos 3 países é muito semelhante, e abaixo da taxa de reposição de 2,1 filhos por mulher. Ou seja, é questão de tempo para que os três países comecem a ver as suas populações diminuírem.

Na verdade, a queda do índice de fertilidade é um fenômeno global. Coincidentemente, nesta semana, a Economist publicou matéria de capa abordando o assunto. O título? Global fertility has collapsed, with profound economic consequences. A matéria não é 100% pessimista, apontando que, assim como o gênio humano conseguiu alimentar bilhões e escapar da profecia de Malthus, provavelmente conseguirá lidar com o problema inverso, o de uma população global que deve começar a encolher até o final deste século. Mas, de qualquer forma, trata-se de um desafio.

Na verdade, já há países que estão encolhendo. É o caso do Japão e Rússia, por exemplo. Países como Finlândia, Austrália e Itália, além do Japão, têm programas governamentais de incentivo à natalidade, com bônus em dinheiro (veja aqui). Até a própria China reverteu sua política de “filho único”, e agora permite até 3 filhos por casal. A julgar pela taxa de fertilidade vista acima, as autoridades chinesas estão descobrindo que é mais fácil evitar filhos do que fazê-los…

Encerro lembrando a França na 2a Guerra Mundial, que achava estar protegida pela Linha Maginot. A França estava ainda lutando a guerra de trincheiras, enquanto os alemães tinham Panzers e faziam a guerra relâmpago. Apontar o planejamento familiar como uma urgência é lutar a guerra de 40 anos atrás. Essa guerra já passou. O inimigo agora é outro.

Marcelo Guterman

Engenheiro que virou suco no mercado financeiro, tem mestrado em Economia e foi professor do MBA de finanças do IBMEC. Suas áreas de interesse são economia, história e, claro, política, onde tudo se decide. Foi convidado a participar deste espaço por compartilhar suas mal traçadas linhas no Facebook, o que, sabe-se lá por qual misteriosa razão, chamou a atenção do organizador do blog.

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