Opinião

A humanidade não está madura para problemas graves

O oportunismo e amadorismo imperam no mundo durante a COVID-19

Budapeste, Hungria, durante o lockdown
Budapeste, Hungria, durante o lockdown. Parece o primeiro dia depois do fim do mundo.

Mundo da ficção

Em alguns filmes de ficção científica assistimos a humanidade encarando um problema gravíssimo que ameaça sua existência e invariavelmente o mundo termina se unindo para enfrentá-lo.

Vemos laboriosos cientistas bolando esquemas altamente engenhosos, alguns líderes corajosos e abnegados tomando todas as providências necessárias; e por aí vai.

No final, após diversos percalços, chegamos sãos e salvos do outro lado.

Mundo real

O ano de 2020 nos têm mostrado que a realidade pode ser bem diferente.

A COVID-19 chegou, atingindo de forma comprovada até agora 38 milhões de pessoas e matando mais de 1 milhão, fora os casos ocultos e uma fração de óbitos não detectados

A doença ainda está em seu curso, mas a Gripe Espanhola que assolou o mundo entre 1918 e 1920 não deve ser de modo nenhum superada pela COVID-19, falando apenas da doença, em termos relativos e absolutos.

A Gripe Espanhola matou cerca de 50 milhões de pessoas perante uma população estimada de 2 bilhões, ou seja, 1 em cada 40 pessoas. A letalidade estimada é cerca de 2,5% dos infectados.

Seria de se esperar que 100 anos depois estaríamos muito melhor preparados. Só que tudo indica que não é o caso. Se a COVID-19, ressalvado o progresso da medicina, tivesse a letalidade e a virulência da Gripe Espanhola, estaríamos em péssimos lençóis.

Quão perigosa é a COVID-19?

Vale destacar que a COVID-19 tem uma uma letalidade total (número de mortes sobre casos totais, incluindo estimativa de casos não detectados) muito menor que a Gripe Espanhola, porque muitas pessoas ganham imunidade (IgG) sem desenvolver sintomas ou apenas desenvolvendo-os de forma muito leve.

O renomado pesquisador da Stanford, John Ioannidis , compilou 61 estudos e publicou os resultados no site da OMS no dia 14 de outubro. Ele estimou essa letalidade média em algo em torno de 0,23% e em apenas 0,05% para pessoas abaixo de 70 anos ( 1 para cada 2.000 pessoas)

Efeitos colaterais

Além da doença em si e seus efeitos, está havendo uma dose desproporcional de pavor, o que termina gerando adicionalmente um impacto econômico de proporções épicas.

Quem pensa que vidas são mais importantes do que economia, no sentido estrito, está correto; mas, no sentido mais geral, um ambiente de depressão econômica é visceralmente conectado ao aumento da miséria e portanto também é ligado a vidas humanas, como mostra esse esboço de raciocínio aqui.

Fora que esse clima extremado de “Fique em casa” tem afetado a saúde mental de muitas pessoas, além de tornar muitos mais desatentos em outros aspectos ligados à prevenção e cuidados com a saúde e bem estar.

A ideia inicial de fazer restrições para evitar o colapso do sistema hospitalar foi substituída, na cabeça de muitos, para se defender ou praticar restrições até a chegada da vacina, ou, de acordo com alguns, nem isso.

Em que pontos nós falhamos?

Acho que quase tudo pode ser resumido em 3 aspectos: mídia, governos e ciência

1 – Mídia

Disseminação do pânico

Inicialmente o que afugentou as pessoas de um nível razoável de normalidade, foi o medo real da doença aliado a medidas restritivas de diferentes governos.

No entanto, depois de uns meses, nada disso é mais “necessário”, porque veio o medo travestido de pânico, que pode ser definido como algo que vai além da racionalidade. E é isso que impede que as pessoas toquem sua vida de forma menos restrita.

Isso vale especialmente para parte dos indivíduos da classe C para cima, já que a grande maioria das pessoas não pode se dar a esse luxo, porque elas têm que fazer o que é preciso para sobreviver.

O temor paralisa a Economia

O pânico se origina a partir de tudo que a pessoa vê, ouve ou toma conhecimento pelos diferentes canais de comunicação e que depois é reverberado pelas redes sociais. E é esse pânico que mantém a economia deprimida, mesmo depois que se revogam as disposições legais.

Economia depende do nível de atividade, de trocas, de circulação. Quando isso tudo baixa, empregos são perdidos, empresas quebram e o mercado se encolhe.

Aqui no Rio, tirando alguns nichos da juventude, é o que podemos observar: a maioria dos shoppings, lojas, restaurantes estão bastante vazios. Assim, a retroalimentação da crise está posta. Ainda que nas regiões mais pobres o movimento voltou, grande parte da circulação da riqueza, depende do consumo da classe C para cima, já que muitas pessoas de todos os níveis sociais participam dessa fatia de consumo.

Alguns negócios estão tendo mais mais prejuízo agora, com tudo nominalmente aberto, do que antes, porque estando abertos os estabelecimentos, eles incorrem em um custo fixo bem mais elevado do que no auge da pandemia, só que a receita não chega de forma suficiente para cobrir esse acréscimo.

A mídia gosta de catástrofes

O fato é que a grande mídia, de modo geral, aposta no desastre. Tudo que é notícia ou versão ruim ou exagerada sobre a doença ganha um destaque desproporcional e as boas notícias são quase afogadas em meio a essa enxurrada de pessimismo e derrotismo.

Números da COVID-19 alimentam o clima pessimista

Uma das formas que se observa essa abordagem enviesada é o jeito que se divulgam os números sobre a doença. Casos e mortes são divulgados pela data de notificação, que se dá MUITOS dias após a data de contágio, ocorrendo de forma mais acentuada ainda na questão dos óbitos.

O ciclo completo é longo entre o dia do contágio e um caso e mais ainda até um eventual óbito: a pessoa tem que ser contaminada, desenvolver sintomas, procurar ajuda médica, fazer o exame PCR, ser hospitalizada, ir para a UTI, vir a óbito e depois, finalmente, ter sua morte notificada, para só então entrar na estatística oficial.

Isso transforma qualquer curva que deveria ser suave e contínua em um formato altamente serrilhado e caótico, porque há feriados e finais de semana que atrapalham o fluxo de notificações, que acumulam artificialmente os números em certo dias, gerando picos falsos.

E, incrédulos, ainda assistimos grandes órgãos de imprensa correlacionar aumentos de casos e mortes com pessoas na praia com uma pequena distância de dias, quando sabemos que isso é completamente espúrio em um prazo curto, justamente pelo exposto acima.

Uma gota no oceano vira algo provável

Um exemplo lapidar dessa abordagem catastrofista é a notícias sobre o quinto caso de reinfecção descoberto pelo mundo. Em um trecho da matéria da BBC:

.. mesmo pessoas que se recuperaram deveriam continuar a seguir as orientações de autoridades e especialistas em torno de distanciamento social, máscaras de proteção e higiene constante das mãos. ...

Que curioso! Suponha que dos já 30 milhões de recuperados da COVID-19, 20 milhões teriam um segundo caso corretamente detectado. Foram, até agora, 5 em 20 milhões em cerca de 6 meses. Isso dá 1 em 4 milhões. No Brasil, foram 41.635 assassinatos em 2019. Tomando a metade (6 meses), existe uma chance 400 vezes maior de morrer assassinado! Isso justificaria recomendar que a pessoa que já teve COVID-19 adote todas as medidas sugeridas acima para não ter a possibilidade (remotíssima) de se reinfectar?

Por que a mídia age dessa forma?

A grande pergunta é: por que a mídia adota essa linha? Alguns embarcam na ideia da teoria da conspiração, aliando a mídia aos “maus”.

Eu acho que a verdade é muito mais simples: o desastre vende mais, chama mais a atenção. Sempre foi assim! É o que podemos observar quando acontece uma enchente, um terremoto, um grande desastre etc. Nesse caso, invariavelmente, assistimos grande parte da imprensa martelar isso por dias e dias, de forma repetitiva.

Aí muitos podem perguntar: Por que a imprensa em geral aposta no catastrofismo se por trás existem empresas que se prejudicam pela depressão econômica prolongada, uma vez que vende menos anúncios, um dos principais motores do negócio de comunicação?

Mais uma vez penso em uma explicação singela: como coletividade, eles se beneficiariam por uma abordagem mais sensata da pandemia ao não jogar gasolina nas chamas do pânico, mantendo-as sempre reavivadas.

No entanto, uma só andorinha não faz verão. Uma determinada mídia não enxerga vantagens em mudar sua abordagem, porque sabe que essa atitude não muda os outros órgãos de comunicação. Dessa forma, o terror continua a imperar na população, com os seus devidos efeitos. Ou seja, isso tudo é uma consequência direta dos dilemas típicos do campo da Economia conhecida como Teoria dos Jogos.

Mais a mais, agora é tarde. Os próprios jornalistas, os comunicadores e uma importante parcela do público estão tomados pelo medo e a opinião sincera deles é “Fique em Casa” até não sei quando!

2 – Governos

A bem da verdade, na média, governos sempre foram uma decepção.

O fato é que a grande maioria dos governos está muito mais interessada no seu umbigo e nas próximas eleições. Assim, eles adotam a linha que mais agrada o populacho. Ora, adotando medidas restritivas aleatórias ou mesmo, de forma negacionista, não dando a devida importância à doença, dependendo do público alvo.

Como a maioria da população está convencida que estamos quase diante do Armagedom, diante do bombardeio da mídia e seus reflexos, a maior parte dos governos adota uma linha coerente com essa visão.

Não há nem muito o que falar. A decepção não é de agora. É ontem, hoje e sempre!

3 – Ciência

Muito dinheiro na mesa e pesquisas superficiais

Quanto sabemos de verdade sobre a COVID-19?

Pouco, em todos os aspectos, mesmo tendo zilhões disponíveis de recursos para pesquisas. Tudo são conjeturas e as certezas mudam a cada instante.

O fato é que as visões negativas acabam ganhando muito mais reverberações do que as visões menos negativas.

Apesar de se falar muito de contaminação por superfícies, por aerossol e por assintomáticos; a análise da evolução dos números do doença e diversos estudos (menos divulgados, é claro) parecem indicar que, como usual, o contágio direto por doentes sintomáticos é que realmente responde pela grande parte dos contaminados.

Muito poderíamos saber se tivesse sido elaborados mais estudos rigorosos de rastreamento de doentes e seus contatos, como esse, que concluiu que a contaminação por assintomáticos é bem rara.

São estudos caros, mas valem muito à pena para nos libertarmos de estudos muito pouco confiáveis que dependem apenas do que as pessoas dizem.

E olha que há muita coisa em jogo. O prejuízo do mundo envolve trilhões.

O contexto justifica de forma cristalina que se faça pesquisas grandiloquentes, envolvendo tecnologia de ponta, equipamentos de última geração e muitas pessoas.

Que nada! Vemos um bando de estudos pífios, envolvendo questionários, registros pouco confiáveis e com menos de 100 indivíduos.

Curar vale menos que o jogo de interesses

Em relação aos remédios, estamos dentro de um joguete de interesses e vaidades sem fim. Muitos cientistas querem se promover e a COVID-19 é a ordem do dia. O fato é que, por diversos motivos, a maioria dos estudos científicos publicados chegam a resultados falsos.

Em relação aos remédios, parece que o mainstream resolveu ignorar que um remédio novo leva de 10 a 12 anos para ser desenvolvido, enquanto se despreza por antecipação possíveis soluções a partir de remédios já existentes e com segurança de uso já estabelecida por um amplo histórico.

É o que está vitimando a priori opções como hidroxicloroquina, ivermectina e nitazoxanida. Uma mistura de purismo científico (inadequado em tempos de pandemia) com preconceitos ideológicos.

É interessante que a hidroxicloroquina na fase ambulatorial, tem estudos robustos estatisticamente tanto a refutando como a referendando, o que deixa o leigo perdido. Dá a impressão que as conclusões de um dos artigos (ou de ambos) são mais para corroborar as conclusões que eles queriam chegar desde o início. Em suma, parecem que estão se pesquisando doenças diferentes em cada estudo.

O fato é que, ao contrário de alguns articulistas irresponsáveis colocam, não dá para equiparar esses remédios à medicina alternativa. Eles são, de fato, parte do arsenal da medicina alopática e o reposicionamento de remédios em Medicina é algo muito comum e relevante, porque torna todo o processo muito mais rápido.

Não quero aqui afirmar categoricamente que um desses remédios funcionem, mas exigir padrões rigorosos de testagem (sucessivas pesquisas com duplo cego randomizado e placebo) antes de começar seu uso prático em tempos de emergência, chega a ser desumano, já que existem pesquisas favoráveis (ainda que não sejam unânimes) e as opções atualmente existentes são apenas paliativas.

O que a ciência poderia ter feito e não está fazendo

O que fico impressionado é como está faltando uma união de cientistas, universidades, centros de pesquisa em prol de se chegar a algum lugar.

Temos mais de 38 milhões de casos, o que traria um potencial inesgotável de material para aprofundadas pesquisas retrospectivas, se grande parte desses prontuários fosse disponibilizada em um esquema de big data.

Ferramentas de machine learning poderiam descobrir padrões pertinentes cruzando sintomatologia, comobirdades, dados demográficos e protocolos de tratamento. Nada de concreto foi feito, excetuando-se a fraude de Surgisphere.

E se…

Só gostaria de pensar (e isso é longe de ser impossível) se tivesse aparecido uma epidemia tipo Ebola, com alta letalidade. Pelo modelo que podemos enxergar da COVID-19, tudo indica que teríamos um caos completo, com quase todo mundo se atropelando de forma desorganizada, como porcos às vésperas do abate.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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