Opinião

Redes sociais: Censura e Liberdade de Expressão.

O banimento de Donald Trump.

As redes sociais são plataformas privadas e podem banir quem bem entenderem. Por esse critério, única e exclusivamente, sequer seria necessário haver um pacote de termos e condições para justificar suas ações.

Todavia, nem mesmo o fato de serem privadas, não fazem do banimento de Trump uma ação abominável de censura. Afinal, trata-se de alguém que representa metade do eleitorado dos EUA e são essas pessoas que estão sendo atingidas com essa decisão. Não é por acaso que a principal “hashtag” do momento é #WeAreTrump.

Se você quer combater alguém ou suas ideias, criar um mártir é algo pouco inteligente. Desconstruir seu opositor com argumentos, promovendo o debate é o único caminho eficiente e democrático possível.

Sufocar alguém para lhe calar, é se colocar em pé de igualdade com regimes de exceção que calam opositores, é ir para o rodapé da História.

Apoiar uma decisão assim, denota uma postura servil a um viés ideológico, muito acima do compromisso de defender a liberdade de expressão como valor democrático basilar.

Dois pesos, duas medidas…

Nicolas Maduro comanda um regime de exceção. Prende e mata opositores; comanda forças paramilitares; promove censura nos meios de comunicação; interveio nos poderes judiciário e legislativo de seu país.

O Ditador levou a Venezuela para uma crise humanitária sem precedentes em sua História e apesar de comandar eleições fraudulentas, nem mesmo assim teve sua conta banida das redes sociais.

(BBC: as imagens da tragédia da fome entre as crianças na Venezuela)
(ATENÇÃO: imagens fortes)

(Human Rights Watch: a tragédia venezuelana)


Comandante supremo da teocracia iraniana, O Aiatolá Ali Khamenei coloca em dúvida o Holocausto e prega abertamente a destruição do Estado de Israel. O líder religioso é responsável por um regime que pune com pena de morte adultério, homossexualidade e até mesmo sexo entre pessoas solteiras.

No Twitter, líder iraniano pregou
o fim do Estado de Israel


Como Maduro, Khamenei não está banido das redes sociais. Fica claro que Trump foi vítima de uma ação e não alvo de um exercício em defesa da Democracia, contra a violência, ou algo perto disso.

Sem sombra de dúvida, trata-se de uma medida autoritária, de exceção e recheada de viés ideológico.

Democratas de ocasião.

O debate que essa ação das redes suscita, nos permite perceber quem de fato é democrata e tem a liberdade de expressão como um valor pétreo, independente de orientação ideológica.

Paladinos que comemoram que alguém seja amordaçado, por um “bom motivo”, serão os mesmos que no poder irão amordaçar quem a eles se opuser.

Há quem diga que Trump incitou a invasão do Capitólio promovida por radicais.

Essa é uma opinião que pode ser defendida e que talvez possa ter algum fundamento, quem sabe? Contudo, nem de longe é um fato incontestável.

Em contrapartida, indiscutíveis são as postagens de Trump pedindo por uma manifestação pacífica.

(Em vídeo Trump pede que manifestantes deixem o Capitólio)

As ações das redes sociais tem claro viés político, não foram e são tomadas de forma equitativa, são vergonhosamente tendenciosas.

Contudo, o que vivemos nesse momento, não se restringe as ações das quais Donald Trump foi alvo.

Com esse texto, tenho uma única pretensão: provocar uma reflexão sobre censura e liberdade de expressão.

O monopólio da informação.

A informação sempre foi um bem precioso e pertencia a um grupo que determinava quem, quando e a que conteúdo se teria acesso. Era uma relação vertical.

Com o surgimento das redes sociais esse fluxo se tornou horizontal.

A informação passou a ser mais democrática e acessível. Distorções promovidas por veículos de informações tradicionais ficaram mais perceptíveis e em alguns casos absurdamente latentes.

Sem tempo de televisão, base parlamentar e bombardeado pela mídia “mainstream”, Jair Bolsonaro conseguiu se comunicar diretamente com a população. Superou uma poderosa máquina de propaganda regada com centenas de milhões de dólares oriundos de corrupção.

O processo eleitoral brasileiro é um bom exemplo de como uma comunicação fluída foi capaz de mudar o eixo de poder.

Se as redes sociais foram as ferramentas que possibilitaram esse canal direto, não poderia ser por outro meio o contra golpe do establishment.

No Brasil temos em curso uma caça às bruxas travestido de combate as “fake news”, com a Suprema Corte jogando no lixo fundamentos do Direito.

Nos EUA o caso é ainda mais extremo. Existe um movimento coordenado pelas “Big Techs” tentando bloquear qualquer a comunicação de um líder político que detém a simpatia de quase metade da população. Um caso de censura sem precedentes na História da Humanidade.

Não é preciso uma análise profunda para se dar conta que o que se está buscando é o reestabelecimento de um “status quo”.

Uma ética torta.

A mim não causa estranheza alguma que forças políticas ditas progressistas celebrem prisões injustas e censura. Surpreendente para mim seria se fosse o contrário. A História nos mostra a recorrência de um padrão, o de que a “causa” justifica toda e qualquer ação.

Figura icônica, idolatrado por dez entre dez progressistas, vale relembrar Che na ONU exaltando os fuzilamentos que promovia com Fidel.

(Seguiremos fuzilando…)

No Brasil durante a Ditadura, militantes de extrema esquerda promoviam os “justiçiamentos”, execuções sumárias de “traidores”, mesmo que estivessem apenas lidando com uma dúvida.

(Justiçamentos)

Os exemplos acima são pontuais, ilustrativos de que a mentalidade progressista é movida exclusivamente por sua crença de superioridade moral. Não por acaso regimes de esquerda ao longo da História promoveram vergonhosos genocídios.

(A revolução que a China quer esquecer)

(Holomodor, massacre pela fome)

(Pol Pot e o Khmer Vermelho)

Reféns da política cotidiana, incapazes de perceber o plano geral, até quem não é simpático à agenda progressista está sendo contaminado por essa ética torta.

É fácil induzir pessoas bem intencionadas, basta fazê-las crer numa divergência rasa entre o “bem” e o “mal”, dando-lhes a “opção bondosa” embalada nesse critério.

A ação das redes sociais deixa claro que a liberdade está sob ataque e é preciso defendê-la.

Editoras da “verdade”.

Se as redes sociais trouxeram para si o papel de censoras de conteúdo, isso então deveria valer para tudo e para todos.

É o que se vê? Não.

Até muito recentemente, quando cobradas pelo conteúdo veiculado em suas plataformas, as redes sociais sempre alegaram ser um “meio”. Era o usuário o responsável por suas publicações e eventuais consequências legais.

Ao agirem em relação a Trump, as redes trouxeram para si o papel de editoria, devendo então também serem responsáveis por todos os conteúdos publicados.

Não há mais razoabilidade para que quando for conveniente alegarem serem apenas um meio. Especialmente se em outros casos por conta de viés ideológico se tornam censoras de conteúdo.

Se ainda existe em algum tribunal no mundo alguém decente com algum senso de Justiça, uma dia a conta dessa censura vai chegar.

Governo supranacional.

A liberdade de expressão é uma garantia fundamental, prevista na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Artigo 19°

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.”

Quando empresas agem de forma coordenada atentando contra esse valor estamos diante de uma questão humanitária que precede qualquer outro entendimento.

Há quem diga que restrições promovidas por empresas privadas não podem ser chamadas de censura, pois essas companhias não teriam o poder coercitivo de Estado.

As “Big Techs” são capazes de produzir um poder efetivo de coerção equivalente ou até maior do que a maioria dos governos são capazes.

Os atos coordenados dessas empresas, caracterizam a ação de um governo supranacional que atenta contra os direitos humanos.

#1984ISHERE

A hashtag acima é um dos “trending topics mundiais”.

Ainda assim, existe muita gente que entende ser exagerada a comparação do momento atual com o cenário descrito em 1984, romance de George Orwell. Será mesmo?

Opinião e Palavras - Live no Instagram debate a atualidade da obra "1984" de George Orwell
Em “1984”, Orwell previu o “Ministério da Verdade”

Uma “Novilíngua”, com a supressão de palavras do vocabulário como forma de orientar um “pensamento permitido” (politicamente correto); Um governo central (Big Techs); a onipresença Do Big Brother (redes sociais/algoritmos), a fim de nos observar e “zelar” por todos nós (vejam a nota de MZ); e o “Ministério da Verdade” (Agências de Checagem) são elementos fundamentais da obra que podemos notar com clareza no momento que estamos vivendo.

Para quem preza por liberdade, não há como ignorar esse cenário e esse é um debate inexorável.

Ao fim, é preciso reforçar:

  • Condenar o banimento de Trump, não implica em defesa de suas posições que aqui sequer foram analisadas.
  • Tendo vivido sob censura, esse texto é a reafirmação de meu anseio por um mundo com liberdade de expressão.

Marcelo Porto

Gênio do truco, amante de poker, paraíba tagarela metido à besta, tudólogo confesso que insiste em opinar sobre o mundo ao meu redor. Atuando no mercado financeiro desde 1986, Marcelo Porto, 54, também é Administrador de Empresas e MBA em Mercado de Capitais.

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