Opinião
Tendência

UKRAINIAN WAX (WAR)

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Esse post é sobre a fala do “comentarista de guerra” mais idiota que o mundo já viu – o AV – e seus pares espalhados pelo mundo que fazem memes com tragédias, repletos de inconsciência, sexismo e testosterona no cérebro no lugar de neurônios. Mas em vez de fazer discurso, conto 3 estórias. Elas ilustram as similaridades entre as mulheres brasileiras e as mulheres ucranianas nesse cenário de guerra e preconceito. Usando exemplos de um cotidiano bem familiar à mulher brasileira, ficará ainda mais claro o absurdo desse áudio. Se já não estava.

3 cenas e 1 opinião

Cena 1. Passeando na rua em Londres (e em qq lugar do mundo) você vê um anúncio : “Brazilian wax” (definição desse jeito de depilar na foto abaixo). Em alguns lugares chamam simplesmente de “Brazilian”. Sabem como me sinto todas as vezes que passo na frente de uma depilação e vejo esse anúncio? Desconfortável. É uma reação bem automática, nada intelectual, quase corporal. Ok só um estilo de depilação. Tem a Californiana, Hollywoodiana , mas me sinto mal. Envergonhada. No imaginário masculino ignorante, mulher brasileira é fácil. É corpo. É carne. E ele, açougueiro . O Brazilian wax é só uma símbolo tipo-exportação desse menu de preconceito. Unidas estamos às ucranianas nesse açougue mundial em que a carne somos nós. Menu abaixo (contém muita ironia). Existe alguma semelhança entre os estilos de depilação da segunda foto e o mapa de corte de carnes da churrascaria da sua rua?

Chocados (as) com a imagem à direita, acima? Pois é. Estupidez não tem barreiras de geografia, nem de contexto nem de língua
Menus


Cena 2.
Agora, imaginem um político estrangeiro cobrindo uma favela brasileira e focando em ressaltar os traseiros das mulheres fáceis e mostrando sua imensa tristeza em não poder pegá-las porque estava trabalhando. Não porque elas não queriam. Não se esquece de mencionar que, no próximo verão, lá estará para desfrutar dessas delícias brasileiras. Na cobertura, não cita nada sobre a tristeza da miséria, esgoto a céu aberto, crianças armadas até os dentes…

Cena 3: Tem uma mulher brasileira na fila do ônibus às 11 da noite voltando do curso de alfabetização. É uma das que atraiu a atenção do político da cena 2. Essa é chefe de família solteira porque o marido raramente aparece , tem 4 filhos, 1 deles já morreu em tiroteio, 4 empregos, geladeira vazia, pega 4 horas de condução por dia onde é regularmente apalpada. Já tendo sido abusada por tio & cia agora é abusada e também regularmente “ensocada” pelo marido quando resolve voltar bêbado pra casa.

Cena final – Sobre a fala desse AV : Misantropo, misógino, sexista, machista, idiota. Sei lá mais o que. Mas o escárnio de “cobrir a guerra” comparando filas de refugiados com filas de baladas é de cair o queixo. E falar que é “triste” porque ele não tem tempo de pegá-las? E dando a dica turística: quanto mais pobres, mais fáceis. Esse senhor não deu uma “declaração infeliz” por acidente. Uma pessoa que no meio de uma cena de guerra faz comentários como esse no privado, no público, na sua própria cabeça, é um ser abjeto que, tomara, seja banido da vida pública (como o político fictício da cena 2 teria sido). Mas, um castigo bom mesmo seria mandá-lo “cobrir” a guerra como soldado ao lado dessas valentes meninas. Afinaria em dois segundos.

Julieda Puig

Julieda ... é a Julieda. Mãe de 2, companheira de 1, filha, irmã, amiga e, nas horas vagas, trabalha e é responsável por Compliance em um banco na terra da Rainha. Graduada e mestre em Economia pela USP e GV. Vive em Londres, “fisicamente” e, no Brasil, “virtualmente”, já que seu coração não se separa de lá. A ideia é visitar o boteco de vez em quando, como uma “correspondente 🗺” contar um pouco como é a vida por essas bandas do planeta. Às vezes vai falar séria e apaixonadamente (porque, afinal é boteco e porque senão não seria ela!) sobre ética, compliance, sustentabilidade, políticas públicas, corrupção e inclusão, seus temas preferidos. Mas a verdade é que a maior parte das vezes não pretende falar muito sério não... Já deixa claro que é bem livre na opinião, prá desespero dos carimbadores de plantão..

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4 Comentários

  1. Muito bom, Ju.
    Também vi comentários idiotas de outros seres achando um absurdo grupos de mulheres ucranianas pedindo para não serem obrigadas a alistar-se.
    Se for voluntario, ótimo, há mulheres treinadas e com muito mais testosterona que certos moçoilos.
    Ué, mas os que reclamam da história de querermos tratamento igual esquecem-se que somos diferentes, somos normalmente mais fracas em força física devido aos hormônios e carregamos os filhos. Daí q sempre digo o tratamento tem que ser equitativo, não de trato exatamente igual, pois há diferenças sim a serem consideradas…

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