Brasil

Dilma e o beco sem saída

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A presidente Dilma chega ao segundo trimestre do ano da eleição, a pouco mais de seis meses do pleito, com índices de aprovação que na melhor das hipóteses podem ser considerados tímidos. Gestões apenas regulares são capazes de reeleger seus mandatários. Para ser desalojado do poder sem a chance de exercer o segundo mandato, o governo tem que ser pior que medíocre. Quando mais de 70% dos eleitores dizem esperar mudanças no próximo governo, o sinal está claro.

E por que então Dilma lidera as pesquisas com folga, com a indicação de que venceria as eleições no primeiro turno? Algumas razões explicam essa situação, e elas não se constituem boas notícias para a petista. A presidente é conhecida por 100% da população. Seus adversários imediatos, Aécio e Campos, são desconhecidos por 25 e 42% do eleitorado, respectivamente, segundo informações recentes da Datafolha. Ainda estamos em Abril, e a maioria dos eleitores sequer pensa nas eleições. Nesse contexto, o mais conhecido leva vantagem. Se dividíssemos a intenção de voto de cada um dos três principais candidatos pelo seu índice de conhecimento do eleitorado, teríamos uma situação diferente: Dilma seguiria com 38%, Aécio teria 21% e Campos 17%, cenário que já levaria a eleição para o segundo turno. Essa disposição de percentuais considera que os três manteriam a mesma eficiência que tem hoje na conversão de eleitores que os conhecem e que na data da eleição todos seriam plenamente conhecidos.

E o que faria a cotação da Dona Dilma subir? Boas notícias na área econômica ou social. Mas elas não virão. O governo atual é refém de suas escolhas infelizes ao longo dos últimos três anos, período em que o Brasil patinou e ficou muito longe de exercer o seu potencial. Após um crescimento extraordinário em 2010, último ano do governo Lula e que ajudou a transformar um poste em presidente, o país retomou a sina dos voos de galinha. A eleição de Dilma depende do bom trabalho de sua equipe de marketing para aproveitar o extenso tempo de TV que a heterogênea aliança governista lhe oferece. Mas até que ponto uma boa peça publicitária é capaz de confrontar a realidade? Os sempre muito competentes marqueteiros petistas terão dificuldades esse ano. Afinal, Dilma não tem um legado, uma marca. Suas supostas proezas estão mais vinculadas ao período anterior. A gerentona não concluiu nenhuma grande obra, as taxas de juros seguem altas, a inflação beira o descontrole, o crescimento é medíocre, os empresários estão desconfiados e a Petrobrás afunda. A mobilidade social não é mais notícia nos jornais. E nada disso mudará em 2014. Restará aos marqueteiros reforçar a ideia de um governo de onze anos, e não de três. E torcer pelo hexacampeonato em uma Copa organizada sem sobressaltos.

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A favor de Dilma, temos uma oposição fraca, pelo menos até o momento. O PSDB e sua postura autofágica é um dos grandes responsáveis pela crescente supremacia do PT ao longo da última década e carrega consigo um certo desgaste decorrente do duopólio da política nacional desde 1994. A dupla Campos-Marina, ainda pouco conhecida, não disse a que veio: serão candidatos que efetivamente brigarão para chegar ao segundo turno, ou somente habilitarão o mesmo, tal qual fizeram Ciro Gomes, Garotinho e a própria Marina, em outros pleitos? Mais uma vez, a resposta depende do direcionamento das campanhas de ambos de agora em diante.

Para oposição, uma Dilma chegando na frente ao final do primeiro turno, porém ainda mais enfraquecida do que hoje, é o mundo ideal. Na fase derradeira, o tempo de TV é o mesmo para os dois postulantes. Um segundo colocado em ascensão poderia ultrapassar a líder nas últimas semanas, já sem o risco de ser surpreendido pelo retorno dos que já foram. Se Dilma tem 38% hoje e um horizonte escasso de boas notícias até o final do ano, seria aceitável um cenário onde ela terminasse um pouco acima dos 30%, posição bastante vulnerável. Entretanto, mais uma queda abrupta nas pesquisas e o contingente de inconformados exigindo a volta de Lula aumenta, com grandes chances de prevalecer. Por mais que retirar  Dilma do jogo seja um reconhecimento público de seu fracasso, Lula seria o grande favorito caso concorresse. Sua marca no imaginário popular é muito forte. Resta saber se ele estaria disposto a assumir uma ‘bucha de canhão’ nos próximos 4 anos, visto que ajustes salgados e não necessariamente populares constituirão a receita básica inicial da próxima gestão, seja ela qual for. E se a sua saúde permite o desgaste de uma campanha difícil e um mandato ainda mais complicado.

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Então chegamos em um cenário atípico para essa época: uma presidente cuja gestão insatisfatória não permitirá que o sonho de ganhar no primeiro turno se realize e que convive com a sombra de seu criador, amplificada a cada tropeço adicional em sua popularidade. Uma oposição que ainda busca sintonizar seu discurso com os anseios de mudança da população e que se satisfaz com a decadência gradual da aprovação ao governo de plantão. Satisfeita, mas preocupada, pois essa possível derrocada, a princípio uma excelente notícia, será convertida em pesadelo caso proporcione uma reviravolta na candidatura governista.

É difícil contrariar tendências plantadas com esforço ao longo de três anos. As dificuldades de Dilma, que tinha tudo para reeleger-se tranquilamente, foram concebidas pela sua própria gestão. Sua situação é parecida com a de um treinador de uma equipe que começou bem o campeonato, e depois passa a colher sucessivos tropeços, caindo na tabela. No mundo da bola, ou o time segue descendo a ladeira, ou o técnico é substituído. A treinadora Dilma está em situação parecida. Por conta disso, eu tenho a impressão de que ela não será mais moradora do Palácio do Planalto em 01 de Janeiro de 2015. O tempo dirá.

 

 

 

 

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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