Política

Poucos candidatos são eleitos por si mesmo?

Sempre que as eleições se aproximam, surgem reportagens na grande mídia mostrando que o atual sistema eleitoral faz com poucos deputados se elejam com seus próprios votos.

Por exemplo: “De 513 deputados eleitos na Câmara, só 27 dependeram dos próprios votos para se eleger“.

O critério dessa manchete parte de uma conta real, mas cuja conclusão é equivocada.

27, no caso, foi o número de deputados federais cuja votação foi superior ao quociente eleitoral (número de votos válidos / número de cadeiras em disputa).

Só que, na prática, isso absolutamente não interessa, porque se fossem eleitos os X deputados mais votados é óbvio que essa relação terá candidatos com votação muito acima do quociente eleitoral e candidatos com votação muito abaixo desse mesmo quociente.

A única limitação é que, na média, a votação deles seria acima do quociente eleitoral.

Apenas na média, o que nada diz sobre a votação individual de cada um.

Portanto o que essas matérias alegam não faz o menor sentido prático.

A única coisa que importa é comparar a lista dos deputados federais eleitos pelo critério atual com os deputados federais eleitos pelo critério mais “justo”, que seria simplesmente eleger os mais votados.

Exemplo prático: Deputado Federal – 2018 – Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro, no caso, elegeu 46 deputados federais em 2018.

Lá foram eleitos 78% (36) dentre os 46 mais votados no universo dos 46 eleitos, muito acima do “chocante” número de 5,3% alegado na reportagem.

Dos 46 deputados federais mais votados que deveriam ser os eleitos, 10 nomes deixaram de estar na lista:

E, portanto, 10 nomes entraram no lugar dos nomes acima, mesmo sem estar entre os 46 deputados federais mais votados:

Repare que, de fato, alguns candidatos menos votados (embora não tanto) terminaram eleitos em função de alguns candidatos mais votados dessas legendas terem puxados candidatos do mesmo partido, ainda que não estivessem entre os 46 mais votados.

Adendo Matemático

Quociente eleitoral (Q) =número de votos válidos / número de vagas.

Suponha o caso do Rio de Janeiro, que tem 46 vagas para Deputado Federal.

A definição aludida na matéria diz que só considera “eleitos com os próprios votos” os candidatos que tenha mais do que Q votos.

Vamos mostrar que esse é um conceito completamente equivocado.

1) Mesmo que só houvesse só 46 candidatos concorrendo a vaga de Deputado Federal, o fenômeno da média faz com se que tenha candidatos com muitos mais votos e outros com muito menos votos. Todos 46 candidatos seriam eleitos, sendo que na média 23 abaixo de Q

2) Como há outros candidatos, os X votos dados em candidatos de 47o. lugar para diante, em ordem decrescente de votos, são abatidos do cômputo do quociente eleitoral “efetivo”

Quociente Efetivo (QE) = (Votos válidos – X)/ Vagas

3) Mesmo assim, na média 23 candidatos estaria abaixo do QE. e portanto muito mais ainda abaixo do Q original.

4) Portanto o número de candidatos “eleitos com seus próprios votos” necessariamente é um valor muito baixo, mesmo que o critério fosse eleger os 46 mais votados.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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