Opinião

Modo catatônico hard

“Se não abrir o comércio as pessoas morrerão de fome”. Abriram, e as pessoas estão morrendo por falta de ar.

O Brasil entrou no modo catatônico, nível hard. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse, ao assumir, que não entendia nada sobre o SUS. Mas ele omitiu o principal: ele não entende nada de nada. Diante da catástrofe, se fingiu de estátua, imitando seu mestre: culpando tudo e todos, menos a sua completa incapacidade de resolver os problemas, por mais elementares que sejam, inclusive de logística, lendária especialidade, desmentida pelos fatos vergonhosamente.

As trapalhadas e omissão do governo são reforçadas – e estimuladas – pelos discursos amplamente disseminados em redes sociais pela tropa de choque do governo: Carla Zambelli, Bia Kicis, Eduardo & Carlos Bolsonaro e Osmar Terra.

O colapso no sistema de saúde tem as digitais do Governo Federal, que segue transferindo seus fracassos a qualquer um que seja contrário às suas diretrizes. Seguir negando a gravidade e as providências urgentes ao combate é a única estratégia de Bolsonaro e, por extensão, do ministro Pazuello.

A situação de Manaus expôs as vísceras de um governo atordoado, sem plano, sem profissionais capacitados – até porque a capacitação técnica vai contra todos os ditames bolsonarianos.

Se o lockdown é discutível e inviável – do ponto de vista da ciência e da economia – o meio termo seria o uso de máscara e menos aglomeração: exatamente o que a tropa de choque bolsonariana condena e desmotiva com discursos, atitudes e muito deboche.

Alguns, quando percebem que pularam da fronteira da política para a seara criminosa apagam seus posts e fazem a Monalisa. Simples assim.

Perversão – pública e privada

Os equívocos e o festival de absurdos durante esta, considerada a pior pandemia da humanidade, são gritantes, seja no âmbito público ou privado.

Em pleno século XXI, se deixar enganar ou aderir a teses estapafúrdias, sem qualquer comprovação científica, é tão grave quanto a disseminação de teses negacionistas e equivocadas de membros do governo.

Enquanto pessoas morriam asfixiadas em hospitais de Manaus, as polícias Civil e Militar apreenderam um caminhão que escondia 33 cilindros de oxigênio, com evidente intenção de especulação de preço. Por falta de oxigênio, 60 bebês prematuros, que estão em UTI neonatal e necessitam de oxigênio, estão entre a vida e a morte, esperando transferência para outros Estados.

Hoje, 15, chegamos à marca de dois milhões de mortes por covid-19. Ainda assim, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que era impossível prever o que está acontecendo. A bolha que lhe abriga é impermeável.

Enquanto se exercita em sua esteira de R$ 100 mil, paga com dinheiro público, Mourão vai perdendo a noção de realidade, razoabilidade e bom senso. Perde qualquer chance de pular da fantasia para a realidade.

O presidente Bolsonaro já se deu conta do tamanho do estrago, claro, porque a sua popularidade é medida com esmero pela equipe. Mas segue negando responsabilidade porque isso ainda convence parte de seu rebanho. É com essa parte, afinal, que ele conta para o seu obsessivo projeto de reeleição.

Porém, sentiu o golpe quando suplicou por dois milhões de doses de vacinas à Índia, por carta, que podem não chegar ao Brasil tão cedo, segundo representantes da Índia.

Bolsonaro precisa ser julgado pelo Tribunal de Haia. Antes da explosão dos casos em Manaus, O governo de Jair Bolsonaro, por meio do ministério da Economia, elevou imposto de importação sobre os cilindros usados no armazenamento de oxigênio e gases medicinais. Mas tentou, até ser impedido pelo STF, liberar a importação de armas. Isso explica o cenário de terra arrasada, que tantos brasileiros têm sentido na pele nos últimos dias.

O que se tem de vacinas, concretamente, é absoluta e completamente insuficiente, enquanto mais de 50 países já começaram suas campanhas.

Pazuello tem sangue nas mãos, e deve sair do governo já. O povo não pode mais ficar à mercê de tanta incompetência, servilismo e obscurantismo.

Silvana Destro

Silvana Destro é jornalista, voltada à comunicação corporativa há quase três décadas, atualmente com forte atuação em gerenciamento de crises de imagem e reputação. Mãe do Pedro, do João e avó de Maria Clara.

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