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It Was Twenty Years Ago Today …

Foto: Spencer Platt

Faça um teste: se você têm mais de … digamos, 35 anos … relembre onde você estava naquela manhã de 11 de setembro de 2001, quando soube pelo primeiro instante sobre o atentado contra as Torres Gêmeas de Nova York?

Nosso cérebro é um órgão fascinante, que tem 3 capacidades fundamentais: aprender, lembrar e esquecer. Sim, esquecer, é tão ou mais importante do que lembrar, porque se lembrássemos de 100% de tudo que aprendemos e vivenciamos diariamente, ficaríamos malucos em poucos dias.

Por isso, nossa memória se divide em 2 tipos: a de curto prazo, que guarda as informações pelo curto período de tempo por algum motivo funcional, como a memória RAM de trabalho de um computador, e as descartamos quando já não são mais necessárias. E a de longo prazo, que nosso cérebro julga serem importantes e relevantes de se manterem gravadas permanentemente.

Essas podem ser referentes a conhecimentos ou fatos, e é o tipo da que você acessou, quando te fiz a pergunta no primeiro parágrafo, ou aquelas referentes a emoções ou comportamentos, que são acessadas de modo inconsciente, quando você precisa executar algum procedimento, sem precisar pensar em como ou porque está fazendo aquilo ( exemplos clássicos: como dirigir um carro ou não coloque a mão na água fervendo).

Guarde a descrição deste último tipo, porque ela é a razão principal deste texto, ok?

11 de setembro de 2001:

Foto: Cleveland Prates

Eu me lembro claramente como se fosse hoje: estava em casa, trabalhando em home-office, com o rádio ligado na estação CBN, ouvindo notícias, quando o âncora Milton Jung informou que um avião de pequeno porte tinha se chocado contra uma das torres do World Trade Center. Isso imediatamente despertou minha atenção, porque eu tinha estado no mirante daquela torre pouco tempo antes, e me levou a ligar a televisão, pra ver se alguma emissora estaria transmitindo o incidente.

Assim, vi ao vivo aquela cena que ficou gravada permanentemente na memória de longo prazo de milhões de pessoas, simultaneamente: a imagem da abertura deste texto, o instante do choque do segundo Boeing 767, contra a Torre Sul, transmitido ao vivo por emissoras do mundo inteiro, em todos os idiomas do planeta.

Você deve ter visto inúmeras vezes as imagens da galeria abaixo e se lembra de cada uma delas: as fotos tiradas entre as 08:46 daquela manhã, quando o avião do vôo American 11, de Boston pra LA, colide contra a Torre Norte e começa a incendia-la, passando pelo primeiro momento dramático, às 09:02, quando a transmissão ao vivo da TV mostra o avião United 175 se chocando contra a Torre Sul numa explosão assustadora, às 09:59 com a Torre Sul entrando em um colapso increditável e desabando de maneira praticamente vertical, como numa implosão, até finalmente , às 10:28, com o já inevitável e esperado colapso da Torre gêmea remanescente.

Assim como considerávamos que o século XX, de fato, não havia se iniciado em 1º de janeiro de 1900, e sim naquele período entre 1917 e 1918, entre o início da Revolução Russa e o final da Primeira Grande Guerra, o evento definidor do final do século passado, para quem leu o livro O Fim da História, de Francis Fukuyama, teria sido o dia 9 de novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim.

Estávamos errados.

O século 21 começou de verdade naquela manhã a 20 anos atrás…

Guerra ao Terror:

E, junto com este início de fato do século, uma série de “novos normais” também começaram.

Em um post anterior aqui no Papo de Boteco chamado Cringe? eu brincava a respeito da treta que rolava naquela semana entre os jovens da Geração Z (nascidos a partir de 1997) com os Millenials (nascidos entre 1981 e 1995). Mas, esta mesma diferença de pensamentos e comportamentos é abordada na reportagem “Com mais medo a ataques internos, geração pós-11/9 contesta Guerra ao Terror” publicada no jornal O Estado de S Paulo (link aqui e aqui) , de maneira séria, destrichando as diferenças em relação a como cada geração se comporta em relação ao 11 de setembro.

Basicamente, o fato de não terem vivenciado o evento, apenas o aprendido como um fato histórico, faz com que os Zennials não tenham um envolvimento emocional e o analisem com um distanciamento crítico, enxergando melhor as consequências negativas da Guerra ao Terror que foi desencadeada a partir dele e todas as mudanças ocorridas, tanto na geopolítica do Oriente Médio, como nos comportamentos das sociedades ocidentais.

25% da população americana nasceu após os atentados e 70% deles concordavam com a frase:

“As guerras no Oriente Médio e no Afeganistão foram uma perda de tempo, vidas e dinheiro e não fizeram nada para nos tornar mais seguros”.

A prova deste erro geopolítico é que foram gastos US$ 2 trilhões e a morte de 400 mil pessoas, no Iraque, para a derrubada da ditadura de Saddam Husseim que provocou um desequilíbrio de forças no Oriente Médio, que desencadeou o surgimento do Estado Islâmico (responsável pelo aumento dos ataques terroristas de suicidas islâmicos radicais ocorridos em países ocidentais após 2001) e o fortalecimento do regime iraniano e consequentemente o financiamento de grupos terroristas baseados na faixa de Gaza e aumento dos ataques a Israel.

E, a ironia máxima, é que, no Afeganistão, foram torrados US$ 2,3 trilhões e ocorreram 40 mil mortos para a derrubada do regime do Taleban e hoje, 20 anos depois, as tropas americanas saem do país e o controle do país retorna a ser exercido pelo … Taleban! E, de troco, ainda ficaram com bilhões em armamentos americanos de alta tecnologia….

 Major-general Christopher Donahue , o último soldado americano a deixar o Afeganistão 

Assim, as mudanças que ocorreram, em função daquele ataque, que vieram pra ficar, talvez permanentemente, são:

  • Rigor nas políticas de imigração
  • Fortalecimento do xenofobismo
  • Islamofobia
  • Segurança em aeroportos e prédios públicos
  • Aumento da violência policial
  • Normalização da hipervigilância, usando até mesmo o reconhecimento facial e rastreamento de comportamento na internet, originalmente para identificar possíveis terroristas, mas também para ativistas e adversários de regimes autoritários

O mais maquiavélico detalhe do atentado planejado e financiado por Osama Bin-Laden foi a data escolhida. 11 de setembro. Para nós, brasileiros, 11/9. Na grafia americana 9/11. o mesmo 911 do número de emergência que, diariamente, milhares de americanos teclam em seus telefones, vinculado a alguma emergência, quase sempre negativa, que esteja acontecendo naquele instante. Estímulo diário de reforço negativo, poderia dizer melhor um profissional da área, como analista, psicólogo ou psiquiatra.

Outras mudanças foram generalizadas e temporárias, como a redução na atividade econômica e turismo internacional.

O Tempo curou feridas, a nova torre One Trade Center, o Memorial 9/11 e o Oculus foram erguidos no local, tanto como homenagem e lembrança do que ocorreu, como um símbolo de virada de página, para o futuro.


Mas, as que me interessa destacar são aquelas mudanças individuais, variando para cada pessoa, como o medo e ansiedade pela possibilidade de novos atentados terroristas, principalmente em locais de aglomeração ou eventos importantes muito visados (para quem já esqueceu, havia um grande temor, no Brasil, por ocasião da olimpíada de 2016, que pudéssemos ser vítimas de atentados no Rio de Janeiro), a desconfiança contra indivíduos de aparência “suspeita” e o medo de viagens internacionais. A duração destas mudanças individuais variava conforme a intensidade do impacto emocional que o atentado provocou na personalidade de cada um. Em geral dias, semanas ou meses. Mas, para alguns, até se tornaram definitivas…

Memória:

Como disse no início, o aniversário de 20 anos do 11 de setembro foi o pretexto para eu abordar o tema real deste post: Memória.

E, particularmente, aquelas de longo prazo, desencadeadas a partir de emoções ou comportamentos, que são acessadas de modo inconsciente, quando precisamos executar algo, sem pensar em como ou no porquê de estar agindo assim. Que acabam fazendo parte e passando a moldar nossa personalidade.

Contar estórias sobre o tema da memória, que me fascina, foi brilhantemente explorado em vários filmes. Os meus favoritos são os seguintes:

Amnésia , 2000
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, 2004
Como Se Fosse a Primeira Vez, 2004
A Origem, 2010
Matrix Ressurections, 2021 (inédito)

11 de setembro de 2021:

E cá estamos 20 anos depois, vivendo uma nova época pós-traumática: a pandemia de Covid19.

As mudanças pelas quais o mundo foi obrigado a passar, desde o ano passado, são mais fortes do que aquelas dos eventos de 2001.

Te convido agora a fazer um estudo de futurologia comigo:

  • quais serão as mudanças que vieram pra ficar, talvez permanentemente, provocadas pelo impacto emocional que todos sentiram ?
  • E quais serão as temporárias, que tendem a sumir conforme o tempo passa, os números da pandemia baixem e a vida volte ao “normal”? Lembrando que a duração destas mudanças individuais varia conforme a intensidade do impacto emocional que a pandemia provocou na personalidade de cada pessoa, perdas de entes queridos que muitos sofreram, mudanças de hábitos que tiveram que ser adotados durante este mais de 1 ano e meio.

Escreva sua opinião nos comentários, compartilhe com a gente o que você acha que mudou na sua vida e talvez não volte ao estado anterior.

Papo de Boteco:

Marcelo Guterman , Cláudio Galvão , Victor Loyola , Alberto Ferreira

A idéia para este texto surgiu durante o primeiro happy hour presencial, desde o início da pandemia, com alguns dos amigos do Papo de Boteco.

Pense em quantas pessoas, de seu círculo, ainda não se sentem “seguras”, “preparadas”, “prontas” para algo que era tão banal e corriqueiro antes de 2020: se encontrarem num bar, cumprimentarem com abraços calorosos e apertos de mão, sentarem próximos, sem máscaras, com pessoas desconhecidas nas mesas ao redor e comer várias pizzas cortadas em formato de aperitivo, com todos se servindo diretamente com a própria mão?

Mesmo entre as pessoas já com vacinação completa e cobertura imunológica plena, provavelmente terão aquelas que não se sentem seguras de “sair de trás da máscara”. Talvez algumas, na primeira saída social para ambientes de lazer público, ao invés de sentir aquele júbilo de felicidade de voltar a saborear da liberdade, sintam um ataque de ansiedade ou mesmo de pânico, efeito de tudo que ficou gravado em suas memórias de longo prazo ao longo destes meses, do que aprenderam ser “errado” ou “perigoso”.

Muitos, correm o risco de terem adotado novos comportamentos, gravado novas memórias do tipo inconsciente de longo prazo em suas sinapses, de procedimentos automáticos, “aprendido” irreversivelmente novos hábitos após meses expostos às previsões apocalípticas dos átilasiamarinos e notícias alarmistas diárias dos williamsbonners da vida…

Quantos passarão meses, anos, o resto da vida … continuando dirigindo usando máscara, mesmo sozinhos dentro do carro?

One Last Thing…

O título deste post é uma homenagem ao primeiro verso de Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, cuja capa também é um baita de um ícone em homenagem à memória…

Paul McCartney / U2 – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Live 8 2005)

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

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