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Biruta ao vento: Qual é a estratégia para 2021?

As notícias econômicas das duas últimas semanas geraram mais calor que luz e continuamos sem saber qual é a estratégia para 2021.

A retomada econômica, após o fundo do poço no início da pandemia, é melhor que a antecipada. Os indicadores do comércio e indústria surpreenderam, o agronegócio não parou e compensaram a queda pronunciada do setor de serviços. Os gráficos mostram um “v” parcial. Entretanto, ninguém nega que boa parte dessa situação se deve ao auxílio emergencial, que, mais por sorte do que por planejamento, cobriu a redução dos rendimentos da faixa mais baixa de renda.

Fonte: Dados do IBGE, elaborados e projetados pela MB Associados

Duas constatações ficaram evidentes. A primeira é que a eficácia de incentivar a demanda imediatamente com programas de renda é muitíssimo maior que qualquer alternativa como o PAC ou isenções fiscais tão caras à indústria e aos desenvolvimentistas de direita e esquerda. Já sabíamos disso com o Bolsa Família, mas, pela surpresa, parece que havia caído no esquecimento. A segunda, diretamente afeta ao PR, foram as delícias da popularidade que programas assim proporcionam ao mandatário da ocasião. Melhor ainda, como instituir uma Renda Básica é uma das pautas da esquerda há tempos, se bem desenhada, Bolsonaro teria até o apoio da oposição para implementá-la, afinal, quem ficará contra dar dinheiro para os pobres? Nada mal para o PR.

Portanto, mesmo por motivos errados, já tínhamos uma alternativa preferencial para incentivar a retomada econômica, porém com uma interrogação não resolvida. Como atender o PR sem estragar de vez a saúde fiscal do país? Missão para o superGuedes. Entretanto, ao propor variações esdrúxulas de “tirar dos pobres para dar para os miseráveis”, já descartadas pelo PR, Guedes acabou por levar um pito em público, foi desautorizado e o jogo embaralhou-se. Apegou-se na famigerada CPMF, detestada por 99 de cada 100 economistas.

Daí para a frente foi uma confusão só. O Renda Brasil enterrado em público, renasceu no dia seguinte, discretamente, numa conversa com o relator do Orçamento, o preço do arroz fez o PR pedir patriotismo aos donos de supermercados, no que foi atendido pela nova versão dos “fiscais do Sarney” e por um Datena transtornado a pedir tabelamento. Parecíamos de volta aos tempos do Cruzado ou a olhar de esgueira para os nossos vizinhos, os tão criticados argentinos. As notícias ambientais azedaram de vez o cenário.

Como ficamos para 2021? Há uma série de projetos importantes no Congresso – Reformas Administrativa e Tributária, PECs do Pacto Federativo, Emergencial e dos Fundos Públicos, privatizações, todos já, em algum momento, anunciados como prioritários, mas qual é a estratégia? Não está clara. As promessas de respeito ao Teto de Gastos são cada vez mais duvidosas e não é crível que somente as reformas estruturais conseguirão gerar a quantidade de investimentos e consumo para, sem o Renda Brasil, compensar o fim do auxílio emergencial.

Um novo desenho para o Teto de Gastos conjugado com algumas das reformas acima, para comunicar inequivocamente o compromisso com a sustentabilidade fiscal, parecem ser as saídas mais razoáveis, mas não se sabe o que esperar. Enquanto isso, continuaremos a olhar a biruta para vermos para que lado o vento sopra, de forma a podermos planejar nossas vidas e negócios. Pena, porque, com alguma direção e muito esforço, poderíamos sair da crise também melhores que a expectativa. Ainda há tempo, mas não muito.

Alberto Ferreira

Paulistano adotivo desde 1984, nasceu no Rio de Janeiro em 1961, de onde trouxe a torcida pelo Fluminense. Leitor inveterado de jornais, economia e negócios descansa lendo romances, assistindo futebol e ouvindo MPB. Casado desde 1985 com duas filhas adultas já independentes, foi cfo e controller no mercado financeiro e agora divide o tempo entre um mestrado em administração, acolhimento familiar, administração de bens e consultoria.

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